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Rivais de Maduro denunciam irregularidades e pagamento de "recompensa" por voto

Do UOL, em São Paulo

20/05/2018 14h08Atualizada em 20/05/2018 18h05

Os candidatos rivais do presidente Nicolás Maduro nas eleições presidenciais deste domingo (20), Henri Falcón e Javier Bertucci, denunciaram irregularidades cometidas por chavistas do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) nos arredores dos centros de votação: os "pontos vermelhos", onde os eleitores apresentam o chamado "cartão da pátria", estão instalados muito próximos dos locais de votação --e até mesmo dentro deles. É neste local que o eleitor apresenta sua identificação e recebe a "recompensa" prometida por Maduro durante a campanha.

Segundo relatos da imprensa venezuelana e de correspondentes internacionais, o comparecimento em alguns locais de votação tem sido baixo --atendendo ao apelo da oposição para que o pleito fosse boicotado. Imagens dos centros de votação vazios contrastam com fotos de longas filas nos "pontos vermelhos", onde o cartão governamental é apresentado.

Nos "pontos vermelhos", os eleitores apresentam o cartão, que é escaneado, e informam quais são os benefícios que recebem do governo de Maduro. Estes pontos deveriam estar instalados a mais de 200m dos centros de votação. Henri Falcón afirmou ter recebido ao menos 350 denúncias, e que os pontos estariam instalados até mesmo dentro de centros de votação. Segundo ele, está sendo paga uma recompensa de 10 milhões de bolívares (cerca de US$ 10) por cada eleitor que apresenta seu "cartão da pátria".

Maduro ofereceu durante as últimas semanas um bônus através dessa carteira para os que fossem votar livremente. A medida foi proibida posteriormente pelas autoridades, mas o presidente não retirou os benefícios já concedidos até agora.

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"A situação é generalizada, com a instalação de pontos vermelhos como mecanismo de pressão, de chantagem política, social. Querem mais uma vez comprar a dignidade de um setor da população", disse.

Falcón, um dissidente chavista, também denunciou o abuso do "voto assistido", isto é, o uso de acompanhantes para levar o eleitor até a máquina de votação para ajudá-lo no processo. O auxílio só é autorizado para idosos ou pessoas com alguma incapacidade.

O pastor Bertucci, que chamou atenção durante sua campanha por distribuir sopa e refeições em seus comícios, também relatou ter recebido cerca de 300 denúncias de irregularidades em relação aos "pontos vermelhos" e a votação assistida.

"Como não denunciar quando se leva as pessoas como se fossem cordeirinhos? Tem que dar liberdade às pessoas", expressou Bertucci após votar.

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AFP

Bertucci afirmou que o governo tinha firmado um acordo para montar esses pontos vermelhos a 200 metros das seções eleitorais. "À parte da compra de consciência, da intimidação ao eleitor, eles perguntam até em quem a pessoa vai votar e começam a oferecer dinheiro, comida. Não há liberdade", afirmou o ex-pastor. 

O líder evangélico afirmou possuir fotos e vídeos que respaldam as denúncias. Segundo ele, as irregularidades estão ocorrendo em seções eleitorais com poucos observadores. "Esse não é um ato democrático, não é um exercício democrático. Estão usando a fome do povo. Usando comida e dinheiro para comprar votos", acusou Bertucci

Tanto Falcón como Bertucci pediram ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) - de linha governista - para "tomar as rédeas na questão". "As denúncias relativas aos pontos políticos foram atendidas", assegurou a presidente do CNE, Tibisay Lucena, em entrevista coletiva posterior às reclamações dos candidatos.

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AFP

O vice-presidente do PSUV, o chavista Diosdado Cabello, negou acusações de irregularidades durante a votação. Segundo ele, o único incidente registrado foi um grupo que teria tentado impedir a abertura de um centro de votação.

O ministro de Comunicação e chefe de Campanha de Maduro, Jorge Rodríguez, assegurou que se tratam "de casos isolados" e que, uma vez denunciados, foram tomadas as medidas imediatas.

As eleições ocorrem em meio à convocação de boicote feita pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), a principal aliança da oposição, que decidiu não participar do pleito por considerá-lo fraudulento.

Mandato até 2025

O presidente venezuelano Nicolas Maduro busca seu sexto mandato neste domingo em uma eleição condenada por opositores como a "coroação" de um ditador que provavelmente trará novas sanções estrangeiras.

Com a oposição principal boicotando a eleição, dois dos mais populares rivais impedidos de concorrer e instituições estatais em mãos de apoiadores, o ex-motorista de ônibus de 55 anos deve vencer a disputa apesar de sua impopularidade. Isso poderia disparar sanções de petróleo do governo dos Estados Unidos e mais censura pela União Europeia e América Latina.

O autodeclarado "filho" de Hugo Chavez diz que ele está combatendo uma trama "imperialista" para massacrar o socialismo e tomar conta a riqueza da nação associada à OPEP. Mas opositores dizem que o líder de esquerda destruiu a economia da Venezuela e abafou divergências de forma dura.

O principal desafiante de Maduro é o ex-governador Henri Falcón, que prevê vitória com base em pesquisas mostrando ele à frente e fúria generalizada entre os 30 milhões de pessoas da Venezuela contra o colapso da economia. "O dia chegou para fazermos história e salvarmos a Venezuela", Falcón, 56 anos, tuitou no início do domingo, conclamando venezuelanos a votar. Durante sua campanha, ele distribuiu notas falsas de 100 bolívares para simbolizar sua proposta de substituir a combalida moeda.

A maioria dos analistas acredita, entretanto, que Falcón possui somente uma chance mínima dada a estimada abstenção, a divisão da oposição sobre boicotar ou não o pleito, o poder do estado de distribuir benefícios e angariar votos, e os aliados de Maduro na comissão eleitoral.

"Isto não é eleição. É uma farsa destinada a manter Maduro no poder sem apoio popular", disse Juan Pablo Guanipa, da principal coalização de oposição, que está boicotando a votação.

Outro a retirar votos de Falcon, dividindo os votos anti-Maduro, é um terceiro candidato, pastor evangélico Javier Bertucci, que conseguiu um bom apoio durante a campanha, graças a sua distribuição de sopa grátis.

(Com agências internacionais)