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Crise deixa Venezuela sem professores, e estudantes ficam em casa

Pessoas formam fila fora de um mercado que teve rumores de ter recebido um carregamento de farinha de milho, um produto alimentício altamente procurado na Venezuela - MERIDITH KOHUT/NYT
Pessoas formam fila fora de um mercado que teve rumores de ter recebido um carregamento de farinha de milho, um produto alimentício altamente procurado na Venezuela Imagem: MERIDITH KOHUT/NYT

Do UOL, em São Paulo

05/06/2018 04h02

A crise na Venezuela está deixando o país sem mão de obra especializada. Para escapar das longas filas por comida e da escassez de produtos básicos, um alto número de professores já deixou o país.

Segundo reportagem do jornal norte-americano Washington Post, os reflexos desse êxodo já são percebidos nas escolas. De acordo com a ONG Se Educa, apenas neste ano, 48 mil professores já se demitiram, o que equivale a 12% de todos os educadores de ensino fundamental e médio da Venezuela.

Na escola elementar Aquiles Nazoa, em Caracas, os alunos ficaram várias semanas em casa por falta de professores. A orientadora pedagógica Romina Sciaca emigrou para o Chile, há um ano. O professor Reinaldo Cordero, do segundo ano, saiu meses depois. Esperanza Longhi, também do segundo ano, decidiu abandonar a profissão para ir ao Peru. E Maryoli Rueda, que lecionava no terceiro ano, foi para o Equador.

A diretora da escola, Deliana Flores, não consegue encontrar no mercado professores qualificados para as vagas e, por isso, teve de interromper por dois meses as aulas do teceiro ano. Como alternativa, contratou voluntárias, como Kory  Hernandez, 24, que não tem a formação exigida para dar aula.

A estudante Deiriana Hernandez, do terceiro ano, já teve três professores diferentes neste ano. A menina de 9 anos mal consegue ler, e sua mãe, Yanelis Blanco, 26, se preocupa com seu nível escolar.

"Ela está ficando para trás. Não consegue ler corretamente e comete muitos erros gramaticais quando escreve. É terrível que seus professores tenham que sair", afirmou ao jornal Washington Post.

Os colegas de Deiriana também estão saindo da escola. No ano passado, havia 24 alunos em sua sala. Esse número caiu para 19 em 2018. A própria menina pode engrossar os números de venezuelanos que saem do país. O pai dela está pensando em ir para o Peru procurar emprego.

Nos primeiros cinco meses deste ano, cerca de 400 mil venezuelanos saíram do país. Nos últimos dois anos, este número foi de 1,8 milhão, de acordo com a Universidade Central da Venezuela.

A falta de professores também afeta as universidades. A Universidade Simón Bolívar, uma das principais da Venezuela, perdeu 129 professores no ano passado. Os departamentos de línguas, filosofia e engenharia eletrônica podem fechar por falta de professores qualificados.