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Mulher é única sobrevivente de família de 50 na Guatemala

Carros são soterrados pelas cinzas de vulcão na Guatemala - AFP
Carros são soterrados pelas cinzas de vulcão na Guatemala Imagem: AFP

Da Deutsche Welle

11/06/2018 10h49

Eufemia Garcia desafia suspensão das buscas e sai todos os dias para tentar encontrar sinais de seus parentes em meio às cinzas. Autoridades alertam para risco de novas erupções do vulcão Fuego.

Os sobreviventes da erupção do vulcão Fuego na Guatemala amargam uma espera dramática por notícias de familiares e amigos desaparecidos, enquanto as equipes de resgate enfrentam dificuldades nas buscas pelas vítimas da tragédia que abalou o país.

Pelo menos 110 pessoas morreram após a maior erupção do vulcão Fuego em quatro décadas, ocorrida em 3 de junho. Estima-se que cerca de 200 vítimas ainda estejam soterradas.

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A guatemalteca Eufemia Garcia sai todos os dias em busca de sinais dos 50 membros de sua família que desapareceram após a erupção, incluindo sua mãe, seus filhos e um neto, além de nove irmãos e suas famílias. Sua família parece ter sido a mais afetada pela tragédia que, segundo as próprias autoridades, foi agravada pelos atrasos nos alertas à população.

O povoado de San Miguel Los Lotes, na parte sul do vulcão, foi quase totalmente engolido por vários metros de cinza escaldante. As buscas no local tiveram de ser interrompidas até que as erupções ainda em curso finalmente se estabilizem.

Eufemia, de 48 anos, desobedece à ordem de suspensão das buscas, saindo todas as manhãs com uma pá ou picareta do abrigo onde dorme e se dirigindo á área de perigo. Lá, grupos de voluntários e outros familiares das vítimas tentam abrir acesso até suas casas, enterradas pelas cinzas solidificadas pelo sol e a chuva.

"Não vou desistir até encontrar parte de minha família e poder lhes dar um enterro cristão", diz a vendedora de frutas que vivia no povoado há mais de três décadas com seus familiares.

Eufemia conta que saiu para comprar ovos quando viu a avalanche vulcânica se dirigindo para Los Lotes. Ela correu até as casas de seus familiares, onde seus tios, filhos, primos e um irmão preparavam um almoço para comemorar a visita de uma irmã, de uma cidade nas proximidades.

A vendedora de frutas bateu em várias portas, alertando para que os moradores saíssem, mas poucos lhe deram ouvidos. Sua mãe, de 75 anos, disse não ter condições de fugir do local. "Vamos deixar que seja feita a vontade de Deus", comentou.

Juntamente com vizinhos, Eufemia conseguiu fugir e pôde ver, de uma distância segura, quando as cinzas chegaram ao teto de sua casa, enterrando-a por completo. Seu filho Jaime, de 21 anos, estava no local.

Ela viu a filha Vilma Liliana, de 23 anos, correndo descalça para fugir da avalanche, até ser engolida pelas cinzas. Sua outra filha, Sheiny Rosmery, de 28 anos, ficou em casa, com o filho em seus braços. A irmã que estava de visita e o marido não foram encontrados.

Eufemia não sabe ainda onde vai morar, nem como conseguirá se manter. Por enquanto sua única preocupação é a busca dos familiares. Sua lista de desaparecidos inclui diferentes gerações da família, que se fixou na região nos anos 1970.

Até o momento, os únicos sobreviventes são ela e um irmão que se mudou da região há bastante tempo. A guatemalteca diz que já procurou os parentes nos necrotérios da região, mas não encontrou sinal deles. "Minha família está toda enterrada. Todos os 50."

No ultimo sábado (09/06), o vulcão Fuego expeliu um novo fluxo de sedimentos e rochas, provocando o terceiro dia consecutivo da suspensão das buscas. O Instituto de Vulcanologia e Sismologia da Guatemala informou que os riscos de novas erupções ainda persistem, mesmo que a atividade vulcânica esteja diminuindo. Na última erupção do vulcão Fuego, foram necessárias duas semanas e meia até a situação se estabilizar.

Mais de 4 mil pessoas permanecem nos abrigos improvisados, em meio às reclamações quanto à distribuição de ajuda humanitária. As autoridades guatemaltecas iniciaram uma investigação sobre as falhas na reação do governo em meio à crise.