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Pais e mães escrevem aos filhos presos em caverna na Tailândia e pedem a treinador: "Não se culpe"

Equipes de resgate descansam próximo à caverna de Tham Luang, ao norte da Tailândia, onde prosseguem as operações de busca por 12 adolescentes e um adulto - Tyrone Siu/Reuters
Equipes de resgate descansam próximo à caverna de Tham Luang, ao norte da Tailândia, onde prosseguem as operações de busca por 12 adolescentes e um adulto Imagem: Tyrone Siu/Reuters

Do UOL, em São Paulo*

07/07/2018 13h44

Pais dos 12 adolescentes presos em uma caverna ao norte da Tailândia escreveram neste sábado (7) aos filhos e ao treinador de futebol Ekkapol Chantawong, 25, pela primeira vez em duas semanas de tentativa de resgate do grupo. Ao treinador, pediram: “Por favor, não se culpe.” Em carta aos pais, mais cedo, ele havia pedido desculpas pela situação.

Segundo o jornal britânico “The Guardian”, em uma carta ao grupo, a mãe de Nattawut Takamsai, adolescente de 14 anos presa com o grupo na caverna, garantiu, dirigindo-se “a todas as crianças”, que os familiares não estavam zangados com eles.

“Nós não estamos bravos com vocês. Cuide bem de si próprios. Não se esqueçam de se cobrir com cobertores quando o tempo estiver frio. Estamos preocupados. Vocês sairão em breve.”

Ao técnico, de acordo com o jornal, a mãe da garota escreveu: “Queremos que você saiba que nenhum dos pais está bravo com você, então, não se preocupe com isso".

A carta será entregue ao grupo pela Marinha tailandesa, como resposta a cartas escritas pelos adolescentes e pelo treinador aos familiares.

Chantawong, por exemplo, pediu desculpas aos pais e familiares dos jovens por tê-los colocado nessa situação. "Gostaria de me desculpar com os pais. Neste momento, todos os meninos estão bem, as equipes de resgate estão cuidando de mim e prometo que cuidarei das crianças da melhor forma possível”, escreveu. “Obrigado por todo o apoio oferecido", completou.

O treinador havia colocado o time de futebol dentro da caverna para que todos se protegessem de uma chuva torrencial que atingiu a localidade no último dia 23 de junho. No entanto, o grupo acabou ficando preso no local devido às inundações.

"Minhas queridas tia e avó, eu estou bem, não se preocupem muito. Cuidem de vocês mesmas", acrescentou ele em uma carta a seus parentes. "Eu estou esperando por você na frente da caverna", escreveu de volta sua tia, Een.

Adolescentes escreveram aos pais

Além do treinador, os 12 jovens também tiveram a oportunidade de enviar bilhetes a seus familiares, os quais foram repassados pela equipe de mergulhadores que, diariamente, entrega cilindros de oxigênio, alimentos e atendimento médico ao grupo.

"Não se preocupem, as equipes estão cuidando de nós", escreveu Panumat Saengdee, de 13 anos. “Estou bem, só um pouco de frio, mas não se preocupe comigo, não se esqueça da minha festa de aniversário. Mamãe, papai, eu amo vocês e o meu irmãozinho também. Se eu sair, por favor, me tragam um churrasco", disse Pheeraphat, outro dos meninos, que fez aniversário dentro da caverna. Ele assinou com seu apelido: “Night”.

Nas cartas enviadas de volta pelos pais, os pais dele retribuíram as palavras: “Papai e mamãe esperam você para festejar seu aniversário. Volte rapidamente. Sabemos que você consegue", escreveram.

Ele, que é goleiro do time Wild Boars, comemorou seu 16º aniversário no dia 23 de junho.

"Estou tão feliz por ter visto sua carta, sua escrita", reagiu Supaluk Sompiengjai, a mãe de Pheeraphat.

A Marinha da Tailândia publicou as cartas neste sábado, após vários dias sem novas imagens das crianças.

"Não importa quanto tempo tenhamos que esperar, desde que esteja seguro", acrescenta a mãe de Pheeraphat, que mora em um pequeno vilarejo na província de Mae Sai, no norte da Tailândia, na fronteira com Mianmar.

Ela guardou o bolo de aniversário do filho intacto, na geladeira.

Além das mensagens de esperança, as crianças falam das duras condições na caverna, sobre dormir em cobertores de sobrevivência e comer rações de sobrevivência trazidas por mergulhadores, que levam seis horas para chegar às crianças.

"Eu estou bem, mas é um pouco frio aqui. Não se preocupem por mim. Não se esqueçam de preparar minha festa de aniversário", diz Duangphet, assinando seu apelido, Dom.

"Se eu sair, por favor, me levem para comer moo krata", um prato tailandês da carne de porco e vegetais grelhados, escreveu um terceiro, Piphat, assinando o seu apelido, Nick.

As cartas foram entregues às famílias dos jovens por um grupo de mergulhadores britânicos, depois de fracassada a tentativa de instalação de uma linha telefônica.

A situação dentro da caverna é sensível. Isso foi colocado em evidência ontem com a morte de um experiente mergulhador que tentava ajudar as equipes de resgate --que têm pela frente, além de adversidades naturais como o risco de mais chuva, as rochas, a lama e a inundação, também a falta de experiência de mergulho do grupo. Ao todo, o sistema de grutas conta 4 km de extensão, a mil metros de profundidade. Provavelmente, apenas uma pessoa poderá ser resgatada por vez.

Mergulhadores profissionais levam cerca de 11 horas para ir e voltar do ponto onde o grupo está preso, num caminho estreito e com baixa visibilidade que impõe dificuldades até mesmo aos mais experientes.

São mais de 2 km da entrada da caverna aos garotos e em alguns pontos a passagem tem menos de um metro de diâmetro. A morte de um mergulhador profissional na última sexta-feira ilustra as dificuldades do trajeto. Eles querem aproveitar os próximos dias para o resgate, por conta da previsão de mais chuvas em breve.

* Com informações da AFP