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Mais magros e com pneumonia, garotos da caverna não correm risco; saúde mental é preocupação

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo*

11/07/2018 08h27

Os 12 garotos e o treinador de futebol resgatados com vida de uma caverna na Tailândia não correm risco, disse a equipe do hospital da província de Chiang Rai, para onde foram transferidos. Durante as mais de duas semanas em que esteve confinado, sem acesso à luz e à comida, o grupo perdeu peso (dois quilos, em média), e alguns contraíram leves quadros de pneumonia, informou um médico em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (11).

Os cuidados com os garotos, no entanto, estão apenas começando. Especialistas ouvidos no Brasil alertam que a maior preocupação, confirmado o bom estado físico, é outro: a saúde mental.

"Chama-se de estresse pós-traumático a pressão vivida nas guerras, por exemplo. Isso pode desencadear uma série de sintomas, como depressão e ansiedade", diz a psicóloga da Aliança Instituto de Oncologia, Francisca Hurtado.

Imagina o que esses meninos sentiram depois de tanto tempo trancados? Eles podem desenvolver claustrofobia ou um transtorno de ansiedade

Francisca Hurtado, psicóloga

Rodrigo Sardenberg, médico da Americas Serviços Médicos, lembra que é natural que os garotos fiquem abalados emocionalmente depois de passarem muitos dias sem água, comida, iluminação e sem saber se sairiam vivos de lá.

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Mesmo o pouco contato com a família durante a quarentena, “sem beijo, abraço”, pode levar à estafa mental. A ausência prolongada de luz solar também afeta o ciclo do sono, aumentando o risco de sintomas depressivos, transtornos de ansiedade e pânico.

Depois de 17 dias em escuridão quase absoluta, os meninos receberam óculos de sol assim que resgatados. Sem exposição à iluminação natural, é comum que apresentem sensibilidade à luz, também conhecida como fotofobia. “O ideal é que passem por um processo de adaptação para que, pouco a pouco, voltem à claridade sem sentir dores”, diz Sardenberg.

O superintendente do pronto-atendimento do Hospital Sírio Libanês, Fernando Ganem, diz que a exposição repentina às luzes solares “pode causar irritação da córnea”. “Eles devem utilizar os óculos por um período de 24 a 48 horas”, estima.

Sem infecção

Os últimos cinco resgatados chegaram ontem à noite ao centro médico com sintomas de hipotermia, pelas duras condições que sofreram ao passar dias dentro da caverna e pela temperatura fria das águas que tiveram que atravessar com a ajuda de dois mergulhadores.

"Da mesma forma que seus companheiros, nenhum deles sofre de doenças infecciosas", afirmou um dos médicos de Chiang Rai.

Os garotos seguem em quarentena --o que, apesar do nome, não precisa durar 40 dias. O período se caracteriza pelo isolamento do paciente. Por trás dessa estratégia, há dois objetivos: evitar que o isolado transmita doenças (o que no caso dos meninos, já está descartado), mas também para protegê-los de enfermidades, uma vez que a imunidade está debilitada.

“Há tipos de máscaras, luvas, aventais e roupas especiais que permitem que a família chegue ao paciente. Só com ebola e sarampo, extremamente transmissíveis, se faz um isolamento rigoroso”, explica Ganem, do hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Os adolescentes também podem ter sofrido algum corte no confinamento ou no resgate. “Para prevenir contra o tétano, vacinamos o paciente nessas situações ou aplicamos soro antitetânico: a vacina produz, enquanto o soro já tem os anticorpos para combater a doença”, diz o médico do Sírio Libanês.

Já isolados, os pacientes passaram por exames de raio-X e Tomografia no tórax a fim de identificar alguma lesão pulmonar por meio de imagem. Em casos de insuficiência respiratória grave, os médicos fazem uma broncoscopia para colher o material de secreção direto dos brônquios. “Os exames de sangue tentam encontrar infecções e servem para medir a anemia e os eletrólitos no sangue pela baixa ingestão alimentar”, explica Rodrigo Sardenberg, médico da Américas Serviços Médicos, ligada aos hospitais da Amil.

* Com agências internacionais