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Fome cresce no mundo; no Brasil, afeta 5 milhões, segundo relatório da ONU

Do UOL, em São Paulo

11/09/2018 09h22

O número dos que passam fome no mundo aumentou pelo terceiro ano seguido e afeta 821 milhões de pessoas, de acordo com relatório divulgado por agências da ONU. Isso corresponde a uma a cada nove pessoas no mundo. No Brasil, os números apontam que mais de 5,2 milhões de pessoas passaram um dia ou mais sem consumir alimentos ao longo de 2017, o que corresponde a 2,5% da população.

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As principais causas do aumento da fome no mundo são os conflitos e os fenômenos climáticos em constante alteração, indica o relatório. Os resultados apresentados na FAO, uma das agências envolvidas no levantamento, são considerados um retrocesso pelo diretor-geral da entidade, José Graziano da Silva. De acordo com os dados, os números atuais mostram indicadores semelhantes aos apresentados há uma década.

"A situação está piorando na América do Sul e na maioria das regiões da África. Igualmente, a tendência de queda observada na Ásia segue em desaceleração", afirma o documento "O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo", que foi elaborado pela FAO, OMS, PMA, Unicef e Ifad.

A maior parte dos famintos do mundo está na Ásia, continente que abriga mais de 514 milhões de pessoas consideradas subnutridas; seguido da África onde 239 milhões de pessoas passam fome.

América Latina

Na América Latina e no Caribe, a fome também apresentou aumento e afeta cerca de 39 milhões de pessoas. Embora o nível de fome seja relativamente baixo em comparação com outras regiões, esse aumento na América Latina é explicado, principalmente, pela desaceleração econômica na América do Sul, afirmou à Agência Efe, o diretor de Estatística da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Rosero.

Nesta região, a prevalência de desnutrição (ou falta crônica de nutrientes) subiu de 4,7% da população em 2014 para 5% projetada para 2017 ou, em termos absolutos, de 19,3 milhões de habitantes para 21,4 milhões.

Durante o mesmo período, essa taxa diminuiu no Caribe, afetando 16,5% da população no ano passado (7 milhões de pessoas com fome).

O relatório indica que a tendência de alta na América do Sul pode ser o resultado da persistência dos preços baixos para a maioria dos produtos básicos exportados, especialmente o petróleo.

Isso reduziu a capacidade de importar alimentos, investir na economia por parte dos governos e proteger as pessoas mais vulneráveis diante da redução das receitas fiscais.

"A desaceleração econômica é observada na América do sul, o que é explicado especialmente pela situação na Venezuela", disse Rosero, afirmando que no país sul-americano, a taxa média de desnutrição foi de 11,7% da população entre 2015 e 2017 (3,7 milhões de venezuelanos no total), quase quatro vezes mais que no triênio 2010-2012.

Em toda a região, as maiores porcentagens de fome nos últimos três anos foram no Haiti (45,8% de sua população, equivalente a 5 milhões de pessoas), Bolívia (19,8% da população, 2,2 milhões) e Nicarágua (16,2% da população, 1 milhão).

No Brasil, o número de pessoas consideradas subnutridas é de cerca de 5,2 milhões, o que corresponde a 2,5% da população. Os números representam uma melhora nos indicativos nacionais, cujos dados referentes a 2004-2006 mostravam que 8,6 milhões dos brasileiros eram subnutridos na época, o correspondente a 4,6% da população.

Aumento da anemia e queda na desnutrição infantil

O documento destaca ainda que a obesidade em adultos continua em alta. Em 2012, afetava 11,7% da população e, em 2016, atingia 13,2% (672,3 milhões de pessoas, ou seja, mais de um em cada oito adultos). No Brasil, 22,3% da população acima dos 18 anos está acima do peso ideal.

As agências da ONU chamam de "vergonhoso" o aumento da anemia entre mulheres em idade reprodutiva. O problema afetava 32,8% em 2016, com "importantes consequências para a saúde" destas e de seus filhos.

O relatório aponta, porém, alguns progressos na área infantil. A desnutrição das crianças permanece em queda, enquanto desde 2012 a proporção mundial de menores de idade com sobrepeso parece, ao menos, controlada, com 5,6% (38,3 milhões) em 2017.

Mudança climática

Como alguns fenômenos extremos climáticos "não podem ser atribuídos" diretamente à mudança climática, o documento da FAO evita utilizar o termo. Aponta, porém, que, entre 1990 e 2016, eventos como o calor extremo, as secas, as inundações e as tempestades dobraram, com média anual de 213.

"As mudanças no clima já estão enfraquecendo a produção dos principais cultivos em regiões tropicais e temperadas", relata a FAO.

"Nos últimos dez anos, 36% dos países que sofreram um aumento na subalimentação também registraram uma seca", diz Dominique Burgeon, diretor de Emergências da organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

A variabilidade do clima e os eventos extremos "ameaçam derrubar e reverter os avanços alcançados para a eliminação da fome", adverte o relatório.

(Com EFE, AFP e RFI)