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Há 50 anos, ex-boxeador japonês tenta provar inocência e escapar da pena de morte

Do UOL, em São Paulo*

18/09/2018 04h01

Quem vê Iwao Hakamada, 82, andando pelas ruas de Hamamatsu, por coincidência uma das cidades com maior presença de imigrantes brasileiros no Japão, diria que ele é mais um dos milhares de idosos do país.

Mas Hakamada é detentor de um recorde sombrio: ele é a pessoa que passou mais tempo no corredor da morte no mundo.

Os quase cinquenta anos de detenção – a maior parte sozinho– sob a ameaça constante de ser executado a qualquer momento tiveram um impacto severo em sua saúde mental.

“Se você acha que pode perder, provavelmente será nocauteado. Você deve superar essa mentalidade fraca. Você tem que pensar que vai vencer”, declarou Hakamada à AFP; sua fala, sempre gira em torno de metáforas próprias ao mundo do boxe, com referências diretas à luta contra o encarceramento e a morte.

Segundo Nobuhiro Terazawa, um de seus apoiadores, construir um mundo de fantasias foi a forma encontrada por Hakamada para sobreviver ao medo de ser morto a qualquer momento.

“Agora ele pode andar livre por aí, mas não consegue escapar do medo de ser executado e das falsas acusações”, disse.

A história de Hakamada começou em 1966, quando foi preso por suspeita de assalto e pelo assassinato de seu chefe, junto com sua mulher e dois adolescentes.

Desde o início ele negou as acusações e, além disso, denunciou ter sido submetido a um brutal interrogatório por parte da polícia.

Depois, tentou retirar as denúncias, mas acabou sendo sentenciado à pena de morte em 1968.

Hakamada exigiu um novo julgamento e, em 2014, seu pedido foi concedido, algo pouco comum no sistema judiciário japonês.

A decisão levou em consideração relatórios que apontavam falta de evidências de DNA e má conduta policial. Foi ordenada sua soltura.

Porém, em junho, a Alta corte de Tóquio revogou a decisão de primeira instância, devolvendo o caso à Suprema Corte.

Agora, devido à idade avançada, Hakamada teve a liberdade concedida pelas autoridades. No entanto, seu pesadelo parece estar longe do fim: um tribunal anulou a decisão inicial de um novo julgamento --o que significa que ele pode acabar atrás das grades e esperar pela morte novamente.

(*Com AFP)