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Coreias assinam acordo militar histórico para reduzir tensão na fronteira

Do UOL, em São Paulo*

19/09/2018 03h00Atualizada em 19/09/2018 11h41

As duas Coreias assinaram nesta quarta-feira (18) um histórico acordo militar que reduz a possibilidade de confrontos entre seus respectivos exércitos ao redor da fronteira que compartilham.

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O ministro interino da Defesa da Coreia do Sul, Song Young-moo, e seu colega da Coreia do Norte, No Kwang-chol, assinaram o acordo durante a cúpula entre os dois países que será realizada até amanhã em Pyongyang.

De acordo com o documento, as Coreias suspenderão a partir do dia 1º de novembro suas respectivas manobras ao longo da fronteira terrestre. Além disso, os dois países eliminarão 11 postos de guarda de fronteira antes do final do ano.

Seul e Pyongyang também estabelecerão uma zona de restrição de voo perto da divisa e uma área em torno de fronteira marítima ocidental, onde manobras e exercícios com fogo real estarão proibidos.

19.set.2018 - Moon Jae-in cumprimenta Kim Jong-un após coletiva de imprensa no encontro em Pyongyang - Handout/Reuters - Handout/Reuters
Moon Jae-in cumprimenta Kim Jong-un após entrevista conjunta na cúpula
Imagem: Handout/Reuters

O documento histórico é até hoje o acordo de maior importância para a redução da tensão militar entre os dois países, que permanecem em guerra desde 1950.

As conversas atuais em Pyongyang, a terceira cúpula entre Moon e Kim neste ano, sinalizaram uma reaproximação crescente das Coreias. Em abril, Kim se tornou o primeiro líder da Coreia do Norte a pisar em solo sul-coreano ao participar da primeira cúpula com Moon, na fronteira entre os dois países, desde o fim da guerra.

Kim Jong-un também anunciou que fará uma histórica visita a Seul, que seria a primeira de um líder norte-coreano à capital do Sul, "num futuro próximo". 

Moon Jae-in, que visitou a capital norte-coreana com o objetivo de relançar as negociações sobre a desnuclearização da península, avaliou que a visita de Kim poderá ocorrer ainda este ano, sempre e quando não a impeçam "circunstâncias particulares".

Desnuclearização

Na declaração conjunta assinada hoje por Moon e Kim Jong-un, Pyongyang se compromete em tomar novas medidas simbólicas, como o fechamento permanente da sua central de Yongbyon, epicentro de seu programa nuclear, se os EUA cumprirem o que foi estipulado na cúpula de Singapura, em junho.

Além disso, Kim se comprometeu em desmantelar totalmente a base de lançamento de mísseis de Tongchang-ri, também conhecida como Sohae, como um novo sinal do compromisso norte-coreano de encerrar seu programa nuclear.

No comunicado, ambos enfatizaram a importância de "conseguir progressos reais o mais rapidamente possível" pela desnuclearização. 

Apesar da oferta de hoje, o processo de desnuclearização segue sem prazos ou especificações técnicas para sua execução. Kim já havia feito a promessa em duas reuniões com Moon neste ano e na histórica cúpula com Donald Trump em Singapura, em junho. No entanto, as discussões sobre como implementar as vagas promessas estagnaram desde então. 

Washington exige uma ação concreta rumo à desnuclearização antes de concordar com os objetivos-chave de Pyongyang, que são a declaração do fim oficial da Guerra da Coreia e o alívio das duras sanções internacionais impostas ao regime norte-coreano devido a seu programa nuclear e de mísseis.

Desenvolvimento comum

Na declaração conjunta, as duas Coreias também concordaram em aumentar os intercâmbios além das fronteiras para impulsionar o desenvolvimento econômico comum, e particularmente, realizarão, antes do final do ano, a conexão de suas ferrovias e estradas.

Agora resta ver o alcance deste projeto, já que a utilização destas vias de transporte - que já estão de fato conectadas há muitos anos - poderia representar uma violação das sanções que pesam sobre Pyongyang.

Ambos os líderes concordaram em realizar regularmente encontros entre famílias separadas pela Guerra da Coreia, trabalhar para conectar estradas e ferrovias entre os dois países e cooperar numa candidatura conjunta para sediar os Jogos Olímpicos de 2032.

Trump festeja acordo

Três meses após a histórica cúpula com Kim Jong-un em Singapura, o presidente norte-americano, Donald Trump classificou as promessas do líder da Coreia do Norte como "animadoras", ao postar no Twitter.

"Kim Jong-un concordou em permitir inspeções nucleares, sujeitas a negociações finais, e a desmantelar permanentemente o local de testes e a plataforma de lançamento na presença de especialistas internacionais. Nesse meio tempo, não haverá testes de mísseis ou nucleares. Restos mortais dos heróis [da Guerra da Coreia] voltando para os Estados Unidos. E as duas Coreias farão uma candidatura conjunta para os Jogos de 2032. Muito animador!", escreveu Trump.

Na semana passada, Kim enviou uma carta a Trump sugerindo uma segunda cúpula entre os dois – que, se concretizada, pode representar uma nova oportunidade para dar forma real ao processo de desnuclearização. A Casa Branca afirmou estar planejando o encontro.

*Com EFE, DW, e AFP