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Homem suspeito de envolvimento com pacotes-bomba é preso na Flórida; "não vamos permitir violência política", diz Trump

Foto de Cesar Sayoc, suspeito de envolvimento com pacotes-bomba nos EUA - Reprodução/CNN
Foto de Cesar Sayoc, suspeito de envolvimento com pacotes-bomba nos EUA Imagem: Reprodução/CNN

Do UOL*, em São Paulo

26/10/2018 12h08

Um homem suspeito de envolvimento com o envio de pacotes contendo explosivos a políticos e apoiadores do Partido Democrata foi preso no sul da Flórida, informou o Departamento de Justiça dos EUA nesta sexta-feira (26). A prisão ocorreu em um estacionamento em Plantation, na região metropolitana de Miami.

No local da prisão, policiais cobriram uma van branca com um plástico azul e removeram o veículo em um caminhão. A van possuía diversos adesivos e colagens com imagens do presidente Donald Trump e de seu vice, Mike Pence, e frases ofensivas à CNN e a críticos de Trump. 

De acordo com a imprensa dos EUA, o nome do suspeito é Cesar Sayoc. O homem, de 56 anos, é filiado ao Partido Republicano e tem um longo histórico de crimes. Ele possui residência em Aventura, na Flórida, e conexões com Nova York. O departamento de Defesa do país informou que chegou ao nome de Savoc a partir de resquícios do seu DNA e de suas impressões digitais em um dos envelopes. 

Segundo a CNN, o homem teria sido expulso de sua casa e estava vivendo na van no momento da prisão. O New York Times informou que Sayoc frequentava grupos de direita nas redes sociais utilizando um perfil com o nome "Cesar Altieri Randazzo" e participou de comícios de Donald Trump em 2016. 

 A van de Cesar Sayoc, suspeito de ter enviado os pacotes-bomba para várias pessoas nos Estados Unidos, estava coberta de adesivos pró-Trump e contra a CNN - Reprodução/ Twitter CBS - Reprodução/ Twitter CBS
A van de Cesar Sayoc, suspeito de ter enviado os pacotes-bomba para várias pessoas nos Estados Unidos, estava coberta de adesivos pró-Trump e contra a CNN
Imagem: Reprodução/ Twitter CBS


Sayoc foi preso em 1999 por dirigir um carro roubado e, em 2002, ameaçou explodir uma empresa de serviços públicos da Flórida e disse que seria "pior do que o 11 de setembro", conforme apurado pela CNN. 

Em pronunciamento nesta sexta, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a prisão do suspeito e disse que o responsável pelos pacotes será punido. "Não vamos nunca permitir que a violência política domine a América", disse Trump. 

"Estou comprometido em fazer tudo que estiver sob meu poder para parar isso. E parar isso agora, parar isso agora", completou o presidente. Trump ainda elogiou o trabalho de autoridades dos EUA pela prisão do suspeito, em um discurso marcado por pedido de união do país. "A América precisa mostrar para o mundo que estamos unidos, juntos e em paz".

"Qualquer tentativa de machucar aos outros é repugnante e não tem nenhum lugar na Flórida ou em nosso país", disse Rick Scott, governandor da Flórida, em publicação no Twitter.

Em uma coletiva de imprensa realizada na tarde desta sexta (26), o procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, elogiou o sistema de segurança dos Estados Unidos. "O caso mostrou a força dos nossos agentes e do nosso sistema de segurança, o melhor do mundo. Estamos orgulhosos de cada um."

Sessions ainda confirmou que Sayoc será processado por pelo menos cinco crimes, incluindo enviar correspondência com explosivos e ameaçar ex-presidentes. Sessions não soube responder o porquê dos pacotes terem como alvo representantes e simpatizantes do Partido Democrata. Savoc deve ser julgado numa corte federal em Miami na próxima segunda (29).

Já Chris Wray, diretor do FBI, afirmou que os pacotes são verdadeiros e representavam reais riscos de explosão. "Cada pacote tinha várias características de uma bomba. Dentro deles havia canos de PVC, bateria, um relógio e material energético potencialmente explosivo", afirmou Wray. 

"Agora também contamos com a ajuda de cada cidadão. Nenhuma informação é pequena demais, todas têm seu valor. Por isso, se qualquer um observar algo suspeito, por favor ligue para suas autoridades locais", disse o diretor do FBI. "Não vamos comentar qual a situação da investigação nesse momento", concluiu Wray. 

Van2 - Reprodução/CNN - Reprodução/CNN
Policial inspeciona van em estacionamento onde suspeito foi preso
Imagem: Reprodução/CNN

Ao todo foram treze pacotes suspeitos foram enviados para democratas e críticos de Donald Trump nos Estados Unidos. Nesta sexta-feira (26), um pacote foi enviado para Cory  Booker, senador democrata por Nova Jersey, e outro para o ex-diretor da Inteligência Nacional, James Clapper.  

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O primeiro pacote-bomba da série de casos foi enviado ao doador da campanha democrata George Soros na segunda (22). Desde então, o casal Clinton, o ex-presidente Barack Obama, a rede CNN, o ator Robert de Niro, entre outros, já receberam ou tiveram conteúdos suspeitos interceptados.

A Secretária de Segurança Interna dos EUA, Kirstjen Nielsen, afirmou que a Flórida parecia ser o ponto de partida para pelo menos alguns dos carregamentos de bombas.

“Alguns dos pacotes foram enviados pelo correio. Eles se originaram, alguns deles, da Flórida”, disse ela durante uma entrevista com o Fox News Channel na quinta-feira. 

As autoridades americanas estão considerando o envio de bombas como atos de "terrorismo doméstico". Os casos ocorrem a menos de duas semanas das eleições legislativas nos EUA.

Trump critica impacto de notícias em eleições

O presidente Donald Trump afirmou na sexta-feira (26) que a série de alertas de pacotes com bombas enviados a muitos de seus adversários políticos está prejudicando o "ímpeto de campanha" de seu Partido Republicano antes das eleições de novembro.

"Os republicanos estão indo tão bem na votação antecipada, e nas pesquisas, e agora essa coisa de 'Bomba' acontece e a dinâmica diminui muito", tuitou Trump.

"Muito lamentável, o que está acontecendo. Republicanos, saiam e votem!", acrescentou.

Na quinta, Trump responsabilizou redes de comunicação por provocarem raiva e retórica de ódio contra políticos. "Uma parte muito grande da raiva que vemos hoje na nossa sociedade é causada pelas reportagens propositalmente falsas e incorretas da mídia tradicional, às quais eu me refiro como 'fake news'", escreveu Trump em publicação no Twitter.

"Ficou tão ruim e odioso que não há descrição. A mídia tradicional precisa limpar seu comportamento, rápido".

Em pronunciamento na quarta, após os primeiros pacotes serem encontrados, Trump pediu unidade aos dois lados da política americana. No mesmo dia, em um evento de campanha em Wisconsin, ele elogiou a si mesmo, dizendo que estava se comportando muito bem após o ocorrido.

Alvos são democratas e críticos de Trump

Alvos de pacotes-bomba nos EUA - AFP - AFP
Robert De Niro, Barack Obama, Hillary Clinton George Soros (em cima, da esq. para dir); Joe Biden, Debbie Schultz, John Brennan, Maxine Waters (em baixo, da esq. para dir)
Imagem: AFP

Todos os destinatários dos pacotes suspeitos são políticos democratas ou personalidades mal vistas por críticos de direita nos EUA, como a ex-candidata à presidência Hillary Clinton e o ex-procurador-geral de Obama Erick Holder.

O ex-diretor da CIA John Brennan, o doador do Partido Democrata George Soros e a deputada da Califórnia Maxine Walters costumam fazer críticas explícitas a Trump.

Durante a campanha eleitoral de 2016, De Niro afirmou que o então candidato republicano era "descaradamente estúpido", "completamente louco" e "idiota". Em junho, o ator de 75 anos foi aplaudido de pé durante a cerimônia de Tony Awards ao criticar o presidente.

Para onde foram os pacotes

Segunda-feira (22):

1. George Soros, doador de campanha dos democratas, no estado de Nova York.

Terça-feira (23):

2. Casa de Bill Clinton (ex-presidente dos EUA, democrata) e Hillary Clinton (adversária de Trump nas eleições de 2016), no estado de Nova York.

Quarta-feira (24):

3. Escritório do ex-presidente Barack Obama (democrata) em Washington DC.

24.out.18 - O pacote enviado à rede de televisão CNN nesta quarta (24) - Reprodução - Reprodução
24.out.18 - O pacote enviado à rede de televisão CNN nesta quarta (24)
Imagem: Reprodução

4. John Brennan, ex-diretor da CIA e crítico de Trump. O pacote foi enviado à CNN - ele é colaborador da TV. Autoridades em NY confirmaram que o explosivo encontrado na CNN estava ativo - ou seja, com potencial explosivo. O pacote continha ainda um pó branco que será investigado.

5. Eric Holder, procurador-Geral da era Obama, era o destinatário de um envelope com explosivos postado com endereço errado. No endereço de "devolução em caso de impossibilidade de entrega", estava o endereço do escritório da deputada democrata Debbie Wasserman Schultz - onde o pacote foi interceptado.

6. Maxine Waters, deputada democrata, receberia um pacote que foi identificado no centro de triagem da correspondência do Congresso, em Capitol Heights, Maryland.

7. Um segundo pacote suspeito enviado para Maxine Waters foi interceptado em Los Angeles.

Quinta-feira (25):

8. Robert De Nirocrítico ferrenho de Donald Trump, era o destinatário de pacote enviado para o restaurante Tribeca Grill, em Nova York

Pacote Biden - The Philadelphia Inquirer/AP/David Swanson - The Philadelphia Inquirer/AP/David Swanson
Polícia remove pacotes suspeitos endereçados a Joe Biden em posto dos correios em Delaware
Imagem: The Philadelphia Inquirer/AP/David Swanson

9. e 10. Joe Biden, ex-vice-presidente dos EUA, era o destinatário de dois pacotes interceptados pela polícia em Delaware.

Sexta-feira (26)

11. Cory Booker, senador americano democrata, Cory Booker, teve um pacote interceptado na Flórida

12. James Clapper, ex-diretor da inteligência Nacional, teve um pacote enviado a Nova York

13. Tom Steyer, bilionário norte-americano, filantropo e conhecido como grande doador do Partido Democrata, teve um pacote interceptado na Califórnia. No ano passado, Steyer financiou uma campanha publicitária, investindo US$ 10 milhões, para o impeachment do presidente Donald Trump. 

Os pacotes não chegaram às mãos de nenhum dos destinatários, uma vez que foram interceptados pelos serviços de inteligência ou encontrados antes de serem entregues. 

*Com Reuters