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Correspondentes reclamam de hostilidade e pedem que Bolsonaro não incite perseguição a jornalistas

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Imagem: Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

31/10/2018 12h50

A Associação de Correspondentes Estrangeiros (ACE) publicou na última terça-feira (30) um manifesto condenando a hostilidade contra jornalistas e exige que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, se manifeste e não incite a perseguição à imprensa.

O grupo reúne dezenas de jornalistas da imprensa internacional que atuam como correspondentes em São Paulo. Segundo o documento, chegaram diversos relatos de hostilidade para com jornalistas durante a cobertura das eleições 2018.

“Vários colegas estrangeiros foram hostilizados, vítimas inclusive de xenofobia, por parte de manifestantes, enquanto tentavam fazer entrevistas, pelo fato de usar câmeras, gravadores ou blocos de notas que os identificavam como jornalistas”.

O documento pede que as autoridades recém-eleitas, em especial o novo presidente, se pronunciem e reprovem os atos de violência. Ressalta ainda para que Bolsonaro “não incite a perseguição de jornalistas e meios, já que só com eles será possível mantermos a verdadeira democracia que todos queremos”.

Manifesto dos Correspondentes Estrangeiros em Defesa da Liberdade de Imprensa - ACE/Reprodução - ACE/Reprodução
Imagem: ACE/Reprodução

Leia o manifesto na íntegra:

MANIFESTO DOS CORRESPONDENTES ESTRANGEIROS EM DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA

A associação de Correspondentes Estrangeiros (ACE), que reúne jornalistas da imprensa internacional, em São Paulo, une-se aos colegas brasileiros e às diversas organizações que representam o jornalismo, dentro e fora do país, para manifestar seu repúdio com a forma em que os repórteres estão sendo tratados durante manifestações, que deveriam ser pacíficas e de comemoração ao fim de mais uma jornada democrática no Brasil.

Temos recebido inúmeros relatos de colegas que têm sido assediados física e moralmente nas ruas das principais cidades brasileiras, no momento em que exerciam suas coberturas. Vários colegas estrangeiros foram hostilizados, vítimas inclusive de xenofobia, por parte de manifestantes, enquanto tentavam fazer entrevistas, pelo fato de usar câmeras, gravadores ou blocos de notas, que os identificavam como jornalistas. Em alguns relatos, a polícia se absteve de proteger os nossos colegas, e fez vista grossa às agressões. Fazemos o apelo às autoridades da segurança pública para que garantam a proteção e o respeito aos jornalistas nas ruas.

Consideramos inaceitável este tipo de atitudes, ainda mais condenáveis em um país democrático e solicitamos às autoridades brasileiras, e em especial ao Presidente e aos políticos recém-eleitos, que se pronunciem e reprovem com veemência atos de violência e de desrespeito contra jornalistas e veículos de comunicação.

Solidarizamo-nos com os colegas brasileiros que também têm sido alvo de ataques e perseguições graves, assim como os meios de comunicação que estão sendo hostilizados e desrespeitados por cumprir seu papel de investigar, de combater a corrupção e de fomentar o diálogo, valores fundamentais para o exercício da democracia, um sistema político e violência contra jornalistas durante as eleições.

Pedimos ao presidente recém-eleito, Jair Messias Bolsonaro que, em nome de tudo o que representa, tendo recebido a confiança dos brasileiros, e tendo garantido que honrará a Constituição e a Liberdade de Imprensa, cobre da sua militância e dos eleitores, o mesmo compromisso, e que não incite a perseguição de jornalistas e meios, já que só com eles será possível mantermos a verdadeira democracia que todos queremos.

Agora que a campanha eleitoral acabou e que teremos um novo Governo democraticamente eleito, a sua figura e as suas palavras serão de extrema importância para aquietar os ânimos e desestimular a violência.

Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE)

São Paulo, 30 de outubro de 2018