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Com popularidade baixa, Trump encara 1ª eleição que pode referendar ou enfraquecer mandato

4.nov.2018 - Donald Trump durante comício dos republicanos no Tennessee - Nicholas Kamm/AFP
4.nov.2018 - Donald Trump durante comício dos republicanos no Tennessee Imagem: Nicholas Kamm/AFP

Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

06/11/2018 04h00

Donald Trump passou os últimos dias em campanha nos Estados Unidos com um objetivo: alavancar os candidatos republicanos nas eleições legislativas para a Câmara dos Deputados e Senado, que acontecem nesta terça-feira (6), e ajudar seu partido a manter o controle das duas casas do Congresso. Mas a tarefa não será fácil.

Trump chega à "midterm" --como é conhecida no país essa eleição legislativa, realizada na metade do mandato presidencial-- com aprovação de 40% dos eleitores americanos, segundo pesquisa ABC News/Washington Post, feita pelo instituto Langer Research Associates, divulgada no último domingo (4) --outros 53% desaprovam o presidente.

Segundo o instituto, essa é a mais baixa popularidade de um presidente americano às vésperas de sua primeira eleição de meio de mandato desde Harry Truman em 1946, após o fim da Segunda Guerra. O índice de 40% é consideravelmente mais baixo, por exemplo, do que Bill Clinton em 1994 (48%) e Barack Obama em 2010 (50%), presidentes que perderam a maioria democrata na Câmara após suas primeiras eleições de metade do mandato.

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Outro dado que indica a importância do "fator Trump" é o vínculo que os eleitores fazem entre o presidente e os candidatos regionais. Segundo a pesquisa, 59% dos eleitores consideram "muito importante" que o candidato escolhido compartilhe sua opinião sobre Trump --ou seja, quem aprova o presidente tem mais chances de votar em um aliado de Trump, e quem o reprova provavelmente escolherá um opositor.

"Esse movimento [em direção à oposição] é típico, porque as expectativas dos eleitores geralmente não são preenchidas pelo presidente". diz Gary Langer, analista e responsável pelo instituto que elabora a pesquisa. "Mas no caso de um líder com nível historicamente baixo de popularidade, essa eleição se torna um referendo sobre sua presidência. Os republicanos estão sob um risco maior que o normal."

Caso perca a maioria no Congresso, Trump encontrará mais dificuldades para implantar sua agenda política, que é frontalmente combatida pelos democratas, principalmente em áreas como saúde pública e imigração.

26.out.2018 - O ex-presidente dos EUA Barack Obama com Debbie Stabenow (esq.), candidata à reeleição ao Senado, e Gretchen Whitmer, que concorre ao governo de Michigan, durante comício do Partido Democrata em Detroit - AP Photo/Paul Sancya - AP Photo/Paul Sancya
Barack Obama com Debbie Stabenow (esq.), candidata à reeleição ao Senado, e Gretchen Whitmer, que concorre ao governo de Michigan, durante comício democrata em Detroit
Imagem: AP Photo/Paul Sancya

O que está em jogo na eleição de meio de mandato

Além das corridas pela Câmara e Senado, mais da metade dos estados norte-americanos também votarão para escolherem seus governadores nesta terça. As disputas são regionais, mas o saldo é outro indicativo do tamanho do poder de democratas e republicanos sobre a população dos EUA a partir de 2019.

Câmara dos Deputados

  • Em jogo: Todas as 435 cadeiras, renovadas a cada dois anos
  • Divisão atual: 235 republicanos, 193 democratas e 7 cadeiras vagas

Senado

  • Em jogo: 35 de 100 cadeiras, incluindo dos 5 estados mais populosos (Califórnia, Texas, Flórida, Nova York e Pensilvânia)
  • Divisão atual: 51 republicanos e 49 democratas.

Governos de estado

  • Em jogo: 36 estados (entre 50), incluindo os 5 mais populosos
  • Divisão atual: 33 republicanos, 16 democratas e 1 independente
  • Resultado parcial: 21 republicanos e 16 democratas

Câmara em risco para republicanos, que devem manter o Senado

A última pesquisa ABC News/Washington Post da Langer Research deixa mais clara a ameaça democrata a Trump. Ela indicou que 52% do eleitorado que pretende ir votar indicou preferência por candidatos democratas para a Câmara dos Deputados, contra 44% que citou republicanos.

A pesquisa, conduzida por telefone entre 29 de outubro e 1º de novembro, ouviu 1.255 adultos. A margem de erro é de 3 pontos, para mais ou para menos.

É na Câmara, onde todas as cadeiras serão renovadas, que os democratas têm mais chances de tomar o controle republicano, de acordo com as pesquisas. No Senado, com renovação de um terço dos parlamentares, os republicanos estão em boas condições de manter e até expandir a maioria.

Na véspera da eleição, o site FiveThirtyEight --que projeta os resultados com base nas pesquisas, informações do eleitorado e estatísticas históricas de votação--indicava que a probabilidade de os democratas tomarem o controle da Câmara era rigorosamente a mesma de os republicanos se manterem como maioria no Senado: 85%.

3.nov.2018 - Donald Trump em comício do Partido Republicano em Belgrade, no estado de Montana - REUTERS/Carlos Barria  - REUTERS/Carlos Barria
Trump em comício do Partido Republicano em Belgrade, no estado de Montana
Imagem: REUTERS/Carlos Barria

Economia é ponto forte de Trump; saúde pode ajudar democratas

Em outra pesquisa semelhante do mesmo instituto, divulgada em 14 de outubro, 49% dos eleitores disseram aprovar a maneira com que Trump está conduzindo a economia, contra 46% que desaprovam --a pergunta não foi feita na última sondagem.

Voltando à última pesquisa, 65% afirmam que o atual estado da economia norte-americana está em ótima ou boa forma, em um item considerado de suma importância por 76% do eleitorado. Esse quesito, portanto, é possivelmente o maior trunfo de Trump e dos republicanos na disputa eleitoral. "Isso o ajuda", diz Langer.

Por outro lado, há uma outra questão que a grande maioria dos eleitores (78%) considera de suma importância e que pode favorecer os democratas: saúde pública. Cinquenta por cento afirmou confiar mais nos democratas para lidar com esse assunto, contra 34% que indicaram os republicanos.

Mesmo no tema polêmico de imigração, onde Trump endurece o discurso contra aqueles que entram nos EUA ilegalmente, os republicanos estão em desvantagem (47% contra 42%), sendo que 67% considera a questão como muito importante.

Enquanto isso, o país se polariza entre apoiadores e opositores de Trump, divisão que já é clara desde antes das eleições de 2016 --vale lembrar que o presidente perdeu no voto popular para a democrata Hillary Clinton. Mas é uma parte significativa do eleitorado, que não se diz nem democrata e nem republicano, que pode ser decisiva para o destino de Trump e do Congresso.

Entre os ditos independentes, 48% prefere candidatos democratas para a Câmara, sendo que 41% favorece republicanos, segundo a última pesquisa ABC News/Washington Post. "Tipicamente, a eleição caminha para onde os independentes vão", diz Langer. "Nas últimas midterms, os republicanos tinham mais preferência e ganharam cadeiras dos democratas, e agora estão atrás. Isso pode fazer a diferença na eleição", conclui.