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"Sem traumas", diz terapeuta de volta ao Brasil após 2 anos preso na Rússia

Eduardo Chianca Rocha em seu sítio em Aldeia, na região metropolitana do Recife (PE), com a mata atlântica ao fundo - Arquivo pessoal
Eduardo Chianca Rocha em seu sítio em Aldeia, na região metropolitana do Recife (PE), com a mata atlântica ao fundo
Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

13/12/2018 04h01Atualizada em 13/12/2018 15h09

A rotina de Eduardo Chianca Rocha em seu sítio dedicado a terapias holísticas, em Aldeia, na região metropolitana do Recife (PE), está voltando ao normal. No último dia 6, ele desembarcou na capital pernambucana depois de dois anos preso na Rússia. Ele foi detido num aeroporto de Moscou com chá de ayahuasca em agosto de 2016.

No Brasil, ele cumprirá em liberdade condicional o restante da pena que recebeu por tráfico de drogas, após um acordo entre os governos da Rússia e do Brasil. A condenação inicial foi de seis anos e meio, depois reduzida para três anos.

Para ele, a experiência de voltar a ver a luz do sol e exercer suas tarefas em liberdade é semelhante "a um sonho". "É um estado de consciência muito estranho. Passam alguns dias até que a gente se ancore novamente na realidade. Hoje já estou de volta ao estado normal", disse, em entrevista ao UOL.

"Você fica muito fechado no seu mundo. Meu universo eram meus objetos pessoais, minhas duas camisetas, minha pasta de dente, a minha colher. E você se adapta a isso. Não tem dinheiro, internet, informações. Eu nem sabia quem era o novo presidente do Brasil, do resultado das eleições. Quando você volta, toma um choque."

O terapeuta holístico brasileiro Eduardo Chianca Rocha em seu sítio em Aldeia, na região metropolitana do Recife (PE) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Sem traumas"

Antes da prisão, Chianca ministrava cursos e palestras de uma terapia chamada "Frequências de Luz", no Brasil e em outros países. Além da Rússia, onde já havia concedido cursos em outras ocasiões, na viagem em questão ele também visitaria Ucrânia, Suíça, Holanda e Espanha. 

Sua prisão ocorreu porque o chá possui uma substância proibida na Rússia: dimetiltriptamina (DMT), de efeito alucinógeno e uso controlado inclusive no Brasil, onde seu consumo é permitido somente para fins religiosos.

A detenção causou apelo de lideranças indígenas, terapeutas de outros países e até de parlamentares brasileiros que entraram em defesa de Chianca. O Ministério da Justiça do Brasil entregou um parecer questionando a perícia russa sobre a quantidade de DMT presente no chá - seria pelo menos 350 vezes menos do que o apontado no laudo russo.

O tribunal russo não aceitou o parecer brasileiro, mas posteriormente Chianca teve a condenação reduzida e, meses depois, os governos dos dois países efetuaram o acordo para a transferência dele ao Brasil.

O terapeuta holístico brasileiro Eduardo Chianca Rocha e sua mulher Patrícia Junqueira no Instituto Plêiades, em seu sítio em Aldeia, na região metropolitana do Recife (PE) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Apesar de toda a trajetória conturbada dos últimos 24 meses, Chianca diz que volta da Rússia sem traumas pelo período preso, mesmo tendo sido exposto a detentos condenados por crimes graves e outras agruras relacionadas ao confinamento, como o banho apenas uma vez por semana, as saídas limitadas a áreas externas e a convivência com mais de 10 pessoas na mesma cela.

Ele diz que não revive a experiência por meio de sonhos e pesadelos e nem pensa nisso durante o dia. Para isso, agradece à companheira Patrícia Junqueira, que mobilizou autoridades brasileiras pela libertação do terapeuta.

"Não teve nada disso. Parece um capítulo fechado. Estou tranquilo, na paz de Deus, sem traumas, com gratidão por ter conseguido, com muita ajuda. Como da Patrícia, que foi uma peça fundamental nesse processo todo."

Chianca, agora, retoma a vida de terapias no Instituto Plêiades, com sede no sítio em Pernambuco, e ministrando palestras. Durante o período de prisão na Rússia, diz que escreveu três livros, que pretende lançar em breve. Por fim, disse que toda a experiência funcionou como um "retiro espiritual".

"É como um monastério no Tibete, mas muito mais intenso. Não em cima de uma montanha, mas dentro de uma cela com gente fumando, fazendo um monte de coisa do seu lado."