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Após posse de Maduro, Brasil apoia opositor que quer governar Venezuela

5.jan.2019 - O deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela - Manaure Quintero/Reuters
5.jan.2019 - O deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela Imagem: Manaure Quintero/Reuters

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

11/01/2019 20h41Atualizada em 11/01/2019 21h20

O governo brasileiro manifestou apoio nesta sexta-feira (11) à intenção do presidente do Parlamento da Venezuela, Juan Guaidó, de assumir o comando do país mesmo após a posse de Nicolás Maduro -- que iniciou ontem um novo mandato como presidente. Guaidó é da oposição a Maduro, e o Legislativo local tem maioria opositora ao sucessor de Hugo Chávez.

A manifestação do Brasil veio por meio de uma nota do Ministério das Relações Exteriores, na qual o órgão também afirma que o governo considera ilegítima a posse de Maduro.

"O Governo brasileiro saúda a manifestação do Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, de estar disposto a assumir constitucionalmente a Presidência da Venezuela, diante da ilegitimidade da posse de Nicolás Maduro no dia 10 de janeiro", diz o comunicado do Itamaraty.
 
Ainda de acordo com a nota, o Brasil "continua comprometido a ajudar o povo venezuelano a recuperar a liberdade e a democracia, e seguirá em coordenação com os demais atores imbuídos do mesmo propósito", e "reitera ademais a importância do respeito à integridade, autonomia e independência do Tribunal Supremo de Justiça legítimo da Venezuela."

Mais cedo hoje, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, também manifestou apoio a Guaidó e o classificou como "presidente interino da Venezuela".

Antagonismo entre Bolsonaro e Maduro

A posição brasileira abre nova página no antagonismo entre os governos de Maduro e do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Ao tomar posse ontem, Maduro chamou Bolsonaro de "fascista". A resposta veio por meio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente: "A depender de quem nos insulte isso pode ser um elogio", escreveu no Twitter.

Antes, em dezembro, a equipe de Bolsonaro pediu que Cuba e Venezuela não fossem convidados para sua posse, realizada no dia 1º.

A nota do Itamaraty também representa um novo marco na mudança da política externa para a Venezuela, em uma guinada que começou ainda no governo de Michel Temer (MDB), sob o chanceler Aloysio Nunes Ferreira. 

Depois de anos de proximidade entre os governos do PT e o chavismo, o Brasil apoiou a suspensão da Venezuela dentro do Mercosul em 2017, por "ruptura da ordem democrática". O governo Maduro, por sua vez, não reconhecia a legitimidade de Temer como presidente após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

A crise política na Venezuela

Guaidó, 35, engenheiro e membro do Partido Vontade Popular, foi eleito como presidente da Assembleia Nacional venezuelana no começo do mês. O partido foi fundado pelo político opositor Leopoldo López, atualmente preso. 

As decisões do Parlamento venezuelano não são reconhecidas pelo Supremo Tribunal, alinhado ao governo chavista. Maduro considerou que o órgão desacatou a Justiça e passou a declarar nulos os seus atos, sem prestar contas aos deputados desde 2016.

Em discurso na sexta, Guaidó convocou a população para um grande protesto no dia 23. "A Constituição me dá legitimidade para exercer o cargo de presidente da república para convocar eleições, mas preciso do apoio dos cidadãos para torná-las uma realidade," afirmou.

Maduro foi eleito em maio uma eleição boicotada pela oposição. A Venezuela está mergulhada em uma grave crise política e socioeconômica que fez com que mais de 2,3 milhões de pessoas fugissem do país desde 2015, segundo a ONU.