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Além do muro, EUA precisam lidar com problemas mais urgentes de imigração

25.nov.18 - Grupo de imigrantes centro-americanos escalam o muro da fronteira entre México e EUA - Pedro Pardo/AFP
25.nov.18 - Grupo de imigrantes centro-americanos escalam o muro da fronteira entre México e EUA Imagem: Pedro Pardo/AFP

Colleen Long

Da AP, em Washington (EUA) 

12/01/2019 04h01

O presidente norte-americano, Donald Trump, diz que há uma crise de segurança na fronteira entre os EUA e o México, que pode ser resolvida simplesmente gastando US$ 5,7 bilhões com um muro.

Os democratas se recusaram terminantemente a concordar com o financiamento. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, chamou o muro de "imoralidade".

Na terça-feira (8), Trump fez um pronunciamento na TV para defender o muro, que, segundo ele, resolveria muitos dos problemas na fronteira porque impediria as pessoas de tentarem vir para os Estados Unidos.

Mas o debate em Washington, em grande parte, negligencia a realidade na fronteira, onde as questões não são facilmente resolvidas por uma barreira.

Conheça alguns desses problemas:

O que fazer com quem já entrou? 

Um dos maiores desafios não é apenas impedir as pessoas de cruzar a fronteira, mas descobrir o que fazer com aqueles que já atravessaram ilegalmente.

Agentes da Patrulha da Fronteira estão apreendendo muito menos pessoas do que antes, um sinal de que o número de pessoas atravessando ilegalmente despencou desde 2000. Mas enquanto a maioria das pessoas que cruzam ilegalmente era composta por homens mexicanos procurando trabalho, agora quase a metade é de famílias e crianças não acompanhadas vindas da América Central.

Eles não podem ser devolvidos imediatamente. O governo deve coordenar os voos para seus países de origem e proteger os documentos de viagem, o que leva tempo, além de muitos deles reivindicarem asilo nos EUA.

Funcionários da Alfândega e Proteção de Fronteiras há muito afirmam que não estão equipados para gerenciar o crescente fluxo de crianças e famílias. Como resultado, quem cruza a fronteira fica preso em celas de detenção de curto prazo durante dias e ainda houve um pico de crianças migrantes doentes, incluindo duas que morreram sob custódia.

Um total de 451 casos, mais da metade de crianças, foi mandado para o médico de 22 de dezembro a 30 de dezembro.

No domingo, a administração pediu mais US$ 800 milhões em financiamento para assistência médica, transporte, suprimentos e instalações temporárias para processamento e custódia a curto prazo "dessa população vulnerável".

Pedidos de asilo

Cada vez mais famílias e crianças que viajam sozinhas estão se entregando às autoridades para buscar asilo, em vez de tentar evitar a captura pelas autoridades, como a maioria fez há apenas alguns anos.

O número de solicitantes de asilo saltou quase 70% do ano fiscal de 2017 para 2018. Quase 93 mil pessoas citaram um medo crível de serem alvos por causa de sua raça, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou grupo social, o primeiro passo para ganhar asilo. Quase 56 mil imigrantes pediram asilo no ano anterior porque temiam voltar para casa, mostram os dados.

Apenas 10% dos casos tiveram asilo realmente concedido.

Então isso significa que há muita gente esperando por uma definição. Os funcionários ao longo da fronteira estão fazendo uma "medição", uma política que limita o número de pessoas que podem solicitar asilo em um único dia. No sul da Califórnia, por exemplo, em San Ysidro, o porto mais movimentado do país, estão sendo processadas até 100 solicitações de refúgio por dia. Uma caravana de migrantes de mais de 5.000 pessoas está isolada do outro lado da fronteira em Tijuana.

O número de casos acumulados nas cortes de imigração dobrou para 1,1 milhão desde que Trump assumiu o cargo, de acordo com a Universidade de Syracuse. Trump aumentou significativamente o número de juízes de imigração, mas A. Ashley Tabaddor, presidente da Associação Nacional de Juízes de Imigração, disse que esse crescimento veio sem pessoal de apoio suficiente. 

E não há espaço de detenção suficiente disponível. Existem apenas cerca de 3.300 leitos familiares de detenção. As autoridades costumavam ajudar a encontrar abrigo para as famílias, mas agora estão deixando as pessoas nas ruas sem nenhum lugar para ir, e as organizações sem fins lucrativos que abrigam famílias de imigrantes também estão lotadas.

Além disso, o número de crianças desacompanhadas subiu sob o comando de Trump, e elas estão sendo detidas por mais tempo em parte porque as autoridades restringiram as restrições sobre como os adultos patrocinadores podem obter a custódia das crianças.

Vistos vencidos

O muro da fronteira não resolveria o problema de pessoas que ficam após o fim da validade de seus vistos. Cerca de 40% das pessoas que vivem ilegalmente nos EUA entraram no país com vistos que expiraram mais tarde.

As autoridades dos EUA dizem que houve quase 740 mil casos assim nos últimos 12 meses.

E o muro? 

Os responsáveis pela Patrulha da Fronteira têm se esforçado para dizer com alguma precisão se as cercas funcionam bem, em parte porque não se sabe quantas pessoas escapam.

Um muro construído no setor de Yuma em meados da década de 2000 foi responsável pela redução em 90% nas apreensões de fronteira, e as prisões diminuíram após a conclusão do muro em San Diego, na década de 1990.

Muros e cercas atualmente cobrem cerca de um terço da fronteira de 3.144 km. A maior parte foi construída no governo do presidente George W. Bush. Trump quer estender e fortificá-los. Mas contratar, projetar e construir novos sistemas de muros com tecnologia atualizada pode levar anos. Os US$ 5 bilhões solicitados financiariam a construção de cerca de 376 km.

Em 2017, o Government Accountability Office (equivalente americano da Controladoria Geral da União) disse que os EUA não tinham uma boa maneira de medir o quão bem a cerca funcionava para impedir a entrada ilegal de pessoas. O relatório descobriu que o governo gastou US$ 2,3 bilhões de 2007 a 2015 para estender as cercas em 1052 km e ainda mais para consertá-las.