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FMI defende reformas para que visita de Bolsonaro a Trump tenha resultado

Jair Bolsonaro e Donald Trump em coletiva de imprensa na Casa Branca - Reuters
Jair Bolsonaro e Donald Trump em coletiva de imprensa na Casa Branca Imagem: Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Washington

20/03/2019 18h48Atualizada em 20/03/2019 20h01

Em balanço da visita oficial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diretores do FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmaram que o Brasil precisa promover reformas - estrutural, previdenciária, política, fiscal e tributária, por exemplo - e realizar mais investimentos para que os resultados do encontro realmente se efetivem.

Ao final do encontro na Casa Branca, Trump anunciou que apoiará a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Em troca, o país precisa começar a abrir mão do tratamento especial e diferenciado nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio).

Outros resultados da visita incluem:

  • isenção dos vistos para americanos sem contrapartida para brasileiros;
  • acordo para o uso comercial da base de Alcântara (MA) sem acesso às tecnologias americanas em componentes de satélites e foguetes;
  • tarifa zero para a importação pelo Brasil de 750 mil toneladas de trigo norte-americano;
  • reforço do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA;
  • e criação de um fundo de investimento de R$ 100 milhões para o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

O chefe da missão do FMI no Brasil, Antonio Spilimbergo, afirmou que, para que o Brasil consiga ingressar de vez na OCDE, espécie de "clube de países ricos", precisa promover profundas reformas, especialmente em infraestrutura e tributária.

Ele ainda ressaltou que o governo está presente em diversas áreas estratégicas para a aceleração econômica por meio de empresas estatais e citou que o governo Bolsonaro pretende continuar com atos de privatizações que tiveram mais sobrevida sob o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Um dos maiores desafios é o tamanho dos gastos do estado brasileiro. [...] Dois outros pontos são que a Previdência Social e a folha de pagamento do funcionalismo público são muito maiores do que em outros países. [...] A reforma da Previdência é necessária, mas não suficiente para levar o Brasil a uma consolidação fiscal. Estamos no início de uma mudança", disse.

"Infelizmente, o Brasil tem um dos menores investimentos públicos da região [da América do Sul]. Isso é um problema para o futuro. É preciso construir uma base mais sólida, ao mesmo tempo, o país não pode depender só do setor público", ponderou.

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Produtividade baixa e comércio fechado

Spilimbergo também comentou que a produtividade per capita no Brasil é extremamente baixa se comparada com outros países emergentes, crescendo menos de 1% ao ano ao longo da última década. As justificativas apontadas por ele são situação fiscal insustentável, grandes buracos em infraestrutura, alocação ineficiente de créditos, economia fechada e estado ineficiente.

O diretor-adjunto do departamento do FMI para o Ocidente, Krishna Srinivasan, falou que o país é uma das economias mais fechadas no mundo para o comércio. Ele avalia que o país precisa reduzir barreiras tarifárias e firmar mais acordos de livre-comércio, além do Mercosul (Mercado Comum do Sul).

"Quando se fala em como o Brasil pode competir com exportadores rivais e mercados, você vê que grande parte dos problemas é na infraestrutura. Se depende muito de transporte rodoviário. Se o Brasil quiser se tornar mais competitivo no mercado global e fazer prospectar externas, tem de melhorar na área", afirmou.

O debate foi promovido pelo centro de estudos Brazil Institute no Wilson Center, em Washington D.C. Também estiveram presentes diretores e conselheiros de empresas de consultorias políticas.

Na avaliação do diretor de inteligência da Arko Advice, Thiago de Aragão, a visita de Bolsonaro a Trump teve resultados produtivos e, em uma perspectiva para o norte-americano, foi extremamente vantajosa para o presidente americano, uma vez que ele está "cada vez mais contra a parede dentro dos Estados Unidos e precisava mostrar que suas ações ressoam e são admiradas no mundo".

"Foi muito importante para ele mostrar que não está sozinho nessa narrativa, percepção de mundo", comentou.

Cedo para análise

Um dos diretores do Council of Americas, Roberto Simon, avalia ser cedo para saber se houve muitas concessões sem garantias de ganho real, pois, nos governos passados, houve muitas oportunidades perdidas por fatores internos e externos.

"Temos de enxergar a trajetória daqui pra frente. Normalmente, a relação fica amigável por uns três, cinco anos e aí 'bum'. Acontece alguma coisa que impede que a relação dê continuidade e há uma mudança de rumo na política externa", disse, ao acrescentar que a promessa de apoio à entrada do Brasil na OCDE só terá sentido se as reformas e mudanças defendidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e citadas pelos diretores do FMI forem promovidas.

O consultor da Macro Advisory Partners e ex-conselheiro na Casa Branca na gestão de Barack Obama Nicholas Zimmerman acredita que as relações entre o Brasil e os Estados Unidos se aprofundaram e alcançaram um novo nível de sofisticação. Embora o ponta pé tenha sido dado no governo anterior, as tratativas para os resultados desta semana se consolidarem começaram há pouco mais de três meses, lembra.

"Temos de levar isso em consideração. Quanto à OCDE, pode ser uma relação ganha-ganha, mas pode também não dar em nada. Não acho que os Estados Unidos vão se preocupar se não chegar a lugar nenhum depois. Temos de ver se Paulo Guedes consegue implementar as reformas que defende", afirmou.