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Sepultada em SC família morta intoxicada no Chile; padrasto critica polícia

4.jun.2019 - Um dos caixões é carregado do lado de fora de ginásio onde foram velados os corpos dos brasileiros mortos no Chile - Aline Torres/Colaboração para o UOL
4.jun.2019 - Um dos caixões é carregado do lado de fora de ginásio onde foram velados os corpos dos brasileiros mortos no Chile Imagem: Aline Torres/Colaboração para o UOL

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Biguaçu (SC)

04/06/2019 11h01Atualizada em 04/06/2019 20h04

Treze dias após a tragédia, os corpos dos seis brasileiros mortos em 22 de maio por intoxicação no Chile foram velados hoje no ginásio de esportes da Univali (Universidade do Vale), em Biguaçu (SC) e sepultados no final da tarde. O velório começou por volta das 8h e ficou restrito nas primeiras horas aos familiares. Às 16h, os caixões deixaram o ginásio sob aplausos para o sepultamento.

Os caixões com os corpos de Débora Muniz Nascimento de Souza, 38, do marido Fabiano de Souza, 41, dos filhos Karoliny Nascimento de Souza, 14, e Felipe Nascimento de Souza, 13, do irmão de Débora, Jonathas Nascimento Kruger, 30, e da mulher dele, Adriana Padilha Krueger, 30, foram colocados lado a lado no ginásio.

A maioria das pessoas ficou próxima dos caixões, cercados de coroas de flores, de diversas pessoas e empresas como a do ex-tenista Gustavo Kuerten. Os familiares foram vestidos com camisetas brancas ou pretas com a frase "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados". E nas costas, "Todos somos um só. Kruger, Muniz e Souza".

O pastor Samuel Krueger, tio de Adriane, lembrou durante o cerimonial que realizou o casamento dela com Jonathas em 13 de novembro de 2016, e que ela conheceu o então futuro marido quando foi estudar engenharia civil em Santa Catarina. Ela era natural do Mato Grosso e morava com os pais em Brasília.

Padrasto de Débora, Alexandre Pereira, 55, criticou a atitude da polícia chilena desde o acidente até a liberação dos corpos. "Não fizeram nada por eles. Ficaram um dia inteiro ligando, sem serem socorridos. Sem contar a burocracia para liberar os corpos (que chegaram ontem ao Brasil, 12 dias após a tragédia). Estamos há dias nessa angústia. Nem sei explicar a dor que sinto", explica.

Da esq. para dir.: Felipe, Débora, Fabiano e Karoliny viajaram para o Chile para comemorar aniversário de Karoliny - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Esq. para dir.: Felipe, Débora, Fabiano e Karoliny viajaram para o Chile para comemorar aniversário de Karoliny
Imagem: Reprodução/Facebook

Fabiano é viúvo de Iete Isabel Muniz, 56, mãe de Débora e Jonathas. Isabel morreu na manhã do dia 22 no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas) de Florianópolis, onde estava internada para tratar de um câncer. Horas depois, os dois filhos de Isabel e os outros quatro familiares foram encontrados mortos no apartamento que haviam alugado em Santiago.

"Débora pensou em desistir da viagem pelo estado de saúde da mãe. Dizia que tinha medo que a mãe morresse enquanto estivessem no Chile", explica Fabiano, que veste a camiseta homenageando as seis vítimas.

O padrasto estava junto com Isabel havia 30 anos, após ela se separar do ex-marido Ademir, pai de Débora e Jonathas. Débora saiu da casa do pai para morar com Fabiano na adolescência. O padastro conta que eram muito unidos.

"Eles gostavam de viajar. Para o Chile, eles economizaram por um ano pra fazer essa surpresa no aniversário da Karol", recorda o padrasto, referindo-se ao fato de a viagem ter sido realizada para comemorar os 15 anos de Karoliny, que ocorreria no dia 23, um dia após a tragédia.

Alexandre relembra o desespero da enteada, que mandou várias mensagens no dia 22 e preparava o retorno para o Brasil para acompanhar o velório da mãe. "Ela mandou várias mensagens nesse dia. Disse que iam encurtar a viagem, pra ir no enterro, mas que estavam muito mal, achavam que tinham comido algo contaminado e que tinham chamado ajuda, mas que ninguém apareceu", diz.

Em áudios enviados por WhatsApp, Débora temia que a família estivesse com uma virose, quando, na verdade, eles estavam sendo intoxicados pelo gás. "Ela tava desesperada. Não sabia o que estava acontecendo. Gritava e pedia ajuda, dizia que os filhos estavam ficando roxos, que deviam ter pego um vírus, que não conseguiam respirar, que iam morrer", afirma.

De acordo com o advogado da família, Mirivaldo Campos, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) do Chile apontou que a causa da morte da família foi intoxicação por inalação de monóxido de carbono.

Jonathas Nascimento Kruger e Adriane Padilha Krueger, mortos intoxicados no Chile - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Adriane e Jonathas eram casados e morreram intoxicados por gás em Santiago
Imagem: Reprodução/Facebook

Karoliny sonhava em ver neve

Amigos de Karoliny lembravam com saudade da jovem que faria 15 anos em 23 de maio. Os colegas de classe na escola Adhemar de Barros, de Florianópolis, foram ao velório e disseram que ela era uma menina tímida e que tinha o sonho de conhecer a neve - presente que escolheu para os 15 anos.

Os colegas relatam que sua primeira escolha foi Bariloche, na Argentina, mas por influência do tio e padrinho Jonathas Muniz, decidiu pelo Chile. O tio já tinha feito essa viagem e ela adorava a foto dele com um boneco de neve. Essa foto foi impressa e está próxima ao seu caixão.

"A Karol era fofa e debochada ao mesmo tempo, bem tímida, e tem muitos amigos", disse uma prima da jovem, lamentando a tragédia ocorrida em Santiago.