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Como foram os dois massacres deste fim de semana nos Estados Unidos

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

05/08/2019 11h26

Trinta pessoas morreram neste fim de semana nos Estados Unidos em massacres a tiros ocorridos em menos de 24 horas. O primeiro foi no sábado à tarde, em El Paso, uma cidade do Texas que faz fronteira com o México. O segundo foi em Dayton, Ohio, no centro-leste do país, na madrugada de domingo.

Apesar de terem ocorrido com um intervalo de tempo curto, os dois ataques não parecem ter relação entre si, segundo as primeiras informações da polícia. Abaixo, o que se sabe até agora sobre os massacres que está fazendo os Estados Unidos repensarem novamente suas leis de armas.

Como foi o primeiro massacre

Aproximadamente às 11h de sábado (14h de Brasília) a polícia de El Paso, no Texas, recebeu chamados sobre um atirador no supermercado Walmart, próximo ao shopping Cielo Vista Mall.

De acordo com relatos à imprensa americana, uma criança entrou correndo no shopping contando que havia um atirador no supermercado ao lado. Num primeiro momento a criança não recebeu atenção, contou uma testemunha à CNN, porém, logo foram ouvidos tiros e as pessoas tentaram fugir do local.

Imagens de câmeras de segurança mostram um homem de camiseta escura e protetores auriculares brandindo um fuzil no supermercado.

Vinte e duas pessoas morreram, incluindo sete mexicanos, e 26 ficaram feridas.

Supermercado Walmart, em El Paso - Mark Ralston/AFP - Mark Ralston/AFP
Supermercado Walmart, em El Paso, palco de um massacre
Imagem: Mark Ralston/AFP

Como foi o segundo massacre

Mais de 2.000 km de distância, à 1h da manhã de domingo (2h em Brasília), um homem começou a atirar na rua em frente a um bar em Dayton, estado de Ohio. À CNN, o senador Sherrod Brown disse que o atirador era um "homem jovem e branco". A polícia informou que ele teria 24 anos.

De acordo com as autoridades, a polícia estava próxima do local no momento dos primeiros chamados e conseguiu chegar "em menos de um minuto", evitando mais mortes.

Nove pessoas morreram, sem contar o atirador que foi atingido pela polícia. Outras 41 ficaram feridas. Entre os mortos estão quatro mulheres e cinco homens em idades entre 22 e 57 anos, incluindo a irmã do atirador, de 22 anos.

Dayton - Derek Myers/Twitter/AFP - Derek Myers/Twitter/AFP
Polícia trabalha no local do tiroteio em Dayton, que deixou dez mortos, incluindo o atirador
Imagem: Derek Myers/Twitter/AFP

Os atiradores

Em ambos os casos, os autores dos massacres são homens jovens e brancos, segundo as autoridades.

A polícia identificou o atirador de El Paso, como um homem branco de 21 anos. Ele está detido e estão sendo investigadas as suas motivações. O caso é tratado como "terrorismo doméstico" pelas autoridades federais, o que pode render a pena de morte ao atirador.

O autor de Ohio é um homem de 24 anos que foi morto no local. Ele teria usado uma arma calibre .223 com alta capacidade de munição, além de utilizar colete a prova de balas e protetor auricular.

De acordo com a polícia, a arma utilizada em Dayton teria sido comprada online do Texas e levada a Ohio por um vendedor. Uma espingarda também foi encontrada no carro do atirador, estacionado próximo ao local do ataque. Esta teria sido comprada de um vendedor local.

As motivações

As autoridades dizem que o ataque de El Paso teve motivação racista contra hispânicos e estão tratando como caso de crime de ódio. A polícia do Texas juntamente com o FBI investigam se o ataque tem ligação com um manifesto nacionalista compartilhado mais cedo em um fórum online supostamente escrito pelo atirador. No texto, ele teria dito que o alvo era a comunidade hispânica local.

El Paso é uma cidade que faz fronteira com Ciudad Juarez, no México, e por isso tem uma comunidade hispânica crescente causada pela imigração. É considerada uma das cidades mais seguras do país e conhecida pela forte presença militar, em especial na divisa.

Segundo a polícia, o atirador não demonstra remorsos pelo massacre.

Já no caso do massacre de Dayton, ainda não se conhece a motivação do atirador. Durante a execução de mandatos de buscas, a polícia teria encontrado escritos ligados ao atirador onde ele mostrava interesse em matar, informou a CNN citando fontes federais. Segundo as fontes, não há evidências de que tenha sido o caso de um crime de ódio.

Em conferência de imprensa, a polícia de Ohio disse não saber se o atirador tinha a intenção de matar a própria irmã.

Reações

O presidente Donald Trump chamou ontem de "odioso e covarde" os dois ataques. Hoje, culpou a imprensa por supostamente espalhar "fake news que contribui para o ódio e a raiva acumulados ao longo de muitos anos".

Novamente se voltou a discutir a legislação de armas nos Estados Unidos. O próprio Trump exigiu no Twitter uma verificação mais rigorosa de antecedentes para a obtenção de armamentos no país

"Republicanos e democratas precisam se unir e conseguir verificações rígidas de antecedentes, talvez casando esta legislação com uma reforma imigratória desesperadoramente necessária. Precisamos que algo bom, senão ótimo, saia destes dois acontecimentos trágicos!", disse.

A prefeita de Dayton, Nan Whaley, disse estar de coração partido e agradeceu a resposta rápida da polícia. Hoje, à rede CNN, ela questionou se o atirador obteve a arma de forma legal.

"Eu realmente não entendo porque uma arma dessa magnitude é realmente necessária nas ruas da Fifth Street. Uma arma que pode matar nove pessoas e ferir outras 26 no decorrer de 24 segundos, enquanto nossos policiais têm armas de fogo e rifles de espingarda para revidar", disse. "Acho que levanta a questão sobre o que estamos fazendo".

O prefeito de El Paso, Dee Margo, disse que a comunidade local não pode ser definida por "esse ato sem sentido de violência". A cidade está fazendo campanhas de doação de sangue para as vítimas do ataque.

O Wallmart, palco do massacre do Texas, também lamentou o ocorrido, mas disse que não deixará de vender armas. Além do episódio de sábado, um supermercado da rede no Mississipi também teve um atirador que matou três colegas na mesma semana.

O México estuda denunciar o atirador por terrorismo, devido à morte de seus sete cidadãos. O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, planeja ir hoje a El Paso.