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Alvo de Bolsonaro, pai de Bachelet foi assassinado por regime de Pinochet

Michelle Bachelet (centro) com a mãe, Ángela Jeria, o pai, o general Alberto Bachelet (dir.) e o irmão Alberto (esq.) em foto de 1961 - Efe/Arquivo
Michelle Bachelet (centro) com a mãe, Ángela Jeria, o pai, o general Alberto Bachelet (dir.) e o irmão Alberto (esq.) em foto de 1961 Imagem: Efe/Arquivo

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

04/09/2019 11h04Atualizada em 04/09/2019 14h35

Atacado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o pai da Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, foi preso e torturado pelo regime do ditador chileno Augusto Pinochet em 1973. Alberto Bachelet morreu um ano depois, em 1974, em uma prisão da ditadura. Ele tinha 50 anos e sofreu um ataque cardíaco após ter sido submetido a sucessivas torturas físicas e psicológicas.

A crítica de Bolsonaro acontece após Michelle Bachelet afirmar, em uma entrevista coletiva em Genebra, que o Brasil "sofre uma redução do espaço democrático", especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

"[Michelle Bachelet] Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", escreveu o presidente nas redes sociais.

A postagem de Bolsonaro foi endossada por seu filho, Eduardo. Ele deve ser indicado pelo pai ao cargo de embaixador em Washington.

Alberto Bachelet era general da Força Aérea chilena. Ligado ao presidente Salvador Allende, ele se opôs ao golpe dado por Pinochet, ao contrário de outros oficiais chilenos.

Em 2014, dois ex-militares chilenos foram condenados pela Justiça do país por torturar e causar a morte de Alberto. Eles haviam sido colegas do general dentro das Forças Armadas.

"Me quebraram por dentro, em um momento, me quebraram moralmente —nunca soube odiar ninguém— sempre pensei que o ser humano é a coisa mais maravilhosa desta criação e deve ser respeitado por isso, mas me encontrei com camaradas das Forças Armadas que conheço há 20 anos, meus alunos, que me trataram como um delinquente ou como um cachorro", escreveu, da prisão, o general Alberto à sua família.

O regime ditatorial de Pinochet se estendeu até 1990. Naquele período, mais de 3.000 pessoas foram mortas e pelo menos 30 mil foram torturadas no Chile. Ao longo de sua trajetória como deputado federal, Bolsonaro deu declarações em defesa do regime de Pinochet. Disse que o ditador "fez o que tinha que ser feito" e que "devia ter matado mais gente".

Michelle, que à época era estudante de medicina, também foi presa e torturada pelo regime chileno. Em 1975, ela e sua mãe, Ángela Jeria, foram detidas no centro de torturas Villa Grimaldi.

"Sofri torturas psicológicas, basicamente, e alguns golpes, mas não me 'fritaram' (choque elétrico)", narrou Michelle à TV Chilevisión em 2014.

A ex-presidente chilena e sua mãe buscaram exílio na Austrália e, depois, na antiga Alemanha Oriental.

Michelle Bachelet com seu pai, Alberto Bachelet, general que foi morto pelo regime Pinochet - Efe/Arquivo - Efe/Arquivo
Michelle Bachelet com seu pai, Alberto Bachelet, general que foi morto pelo regime Pinochet
Imagem: Efe/Arquivo

Em março, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou que frases de Bolsonaro sobre ditaduras latino-americanas são "tremendamente infelizes". "Não compartilho muito do que Bolsonaro diz sobre o tema", disse Piñera.

Uma das frases de Bolsonaro citada por Piñera é "quem procura osso é cachorro". A expressão faz referência à busca por desaparecidos em regimes ditatoriais.

A declaração de Piñera aconteceu logo após Bolsonaro prestar uma visita oficial ao Chile, onde o mandatário brasileiro virou alvo de protestos.

Outros ataques

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro direciona ataques a figuras internacionais. Recentemente, o presidente teve como alvo o presidente francês, Emmanuel Macron, uma das vozes críticas às políticas ambientais de Bolsonaro para a Amazônia.

O presidente também atacou a mulher de Macron, Brigitte Macron. Em uma postagem em uma rede social, Bolsonaro ironizou a aparência da primeira-dama francesa.

"Não humilha, cara. Kkkkkkk", escreveu o perfil de Bolsonaro ao responder um seguidor que havia publicado fotos de Bolsonaro com sua mulher, Michelle Bolsonaro, e de Macron e Brigitte. "É inveja presidente do Macron pode crê (sic)", havia escrito o seguidor.