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Cientistas descobrem continente perdido debaixo da Europa

Representação gráfica criada para o estudo sobre o continente Grande Adria - Divulgação
Representação gráfica criada para o estudo sobre o continente Grande Adria Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL

28/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Análise geológica aponta enorme território submerso
  • Estudo levou 10 anos para ser concluído
  • Continente se separou há cerca de 240 milhões de anos

Pesquisadores encontraram um continente escondido enterrado ao sul da Europa. É a Grande Adria, um território que já teve o tamanho da Groenlândia.

O achado geológico foi publicado neste mês na revista científica Gondwana Research e é resultado de mais de dez anos de pesquisa.

"Esqueçam Atlântida", disse Douwe van Hinsbergen, um dos principais autores do estudo, professor de placas tectônicas globais e paleontologia na Universidade de Utrecht, na Holanda, à CNN. "Sem perceber, muitos turistas passaram as suas férias no continente perdido de Adria", brincou.

"A maioria das cadeias montanhosas que investigamos teve origem num único continente, que se separou do norte de África há mais de 200 milhões de anos", contou Van Hinsbergen. "A única parte que restou deste continente foi uma faixa que vai desde Turim, via mar Adriático, até a ponta da bota que forma a Itália."

Esta região é chamada pelos geólogos de Adria. Por isso, os pesquisadores deste estudo chamam o continente perdido de Grande Adria.

Ele se separou da chamada Gondwana —o supercontinente que incluía África, América do Sul, Austrália, Antártida, parte da Índia e da Península Arábica— e, há cerca de 240 milhões de anos, começou a se mover para o norte.

No entanto, a Grande Adria acabou se chocando com a Europa, há cerca de 100 milhões de anos, se quebrou e afundou.

Todo esse processo foi lento. A colisão se deu em uma velocidade de 3 a 4 centímetros por ano, o suficiente para quebrar uma placa tectônica de mais de 100 quilômetros de espessura e mandá-la para debaixo do manto terrestre.

Durante a colisão, uma parte das rochas da Grande Adria se lascou e permaneceu na superfície. É exatamente isso que temos de resquícios do continente perdido. São rochas e calcário que foram achados nas cordilheiras do sul da Europa.

Vista das montanhas Taurus, na Turquia - Zeynel Cebec/Wikimedia - Zeynel Cebec/Wikimedia
Vista das montanhas Taurus, na Turquia
Imagem: Zeynel Cebec/Wikimedia

Mais de 30 países possuem vestígios da Grande Adria, inclusive locais longínquos como o Irã. Por isso, o processo de juntar toda a informação sobre o continente foi trabalhoso e demorado.

Os pesquisadores levaram mais de dez anos para coletar informação sobre a idade geológica das rochas que presumiam ser da Grande Adria. Eles também recolheram dados sobre a direção de seus campos magnéticos, para quando e onde se formaram.

Com a ajuda de um software, os cientistas fizeram uma viagem no tempo para quando os continentes eram muito diferentes de hoje em dia. Eles descobriram uma verdadeira "confusão geológica".

A zona do Mediterrâneo difere daquilo que os pesquisadores tinham como consenso sobre placas tectônicas. Elas não deveriam se deformar quando se movem em áreas com grandes falhas, mas é exatamente o que aconteceu com a Grande Adria.

"Aqui tudo é curvado, partido ou empilhado", disse Van Hinsbergen para a CNN. "Comparado a isso, os Himalaias, por exemplo, representam um sistema bastante simples. Lá é possível seguir várias falhas por mais de 2.000 quilômetros."

Partes do continente perdido podem ser vistas nas montanhas Taurus, na Turquia.

"Nossa pesquisa forneceu um grande número de informações, também sobre vulcanismo e terremotos, que já estamos aplicando em outros lugares. Você pode até prever, em certa medida, como será uma determinada área no futuro distante", afirmou Van Hinsbergen.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A colisão entre a Grande Adria e a Europa se deu a uma velocidade de 3 a 4 centímetros, e não 3 a 4 quilômetros, por ano. A informação foi corrigida.