Renúncia de Evo Morales: CIDH pede fim de atos violentos na Bolívia
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou preocupação política e com a situação dos direitos humanos, após o dia conturbado ontem na Bolívia, com protestos culminando com a renúncia do presidente Evo Morales.
Em um comunicado, a organização - um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA) - afirma que "ante os recentes acontecimentos na Bolívia, a CIDH expressa sua profunda preocupação pela grave escalada de violência no marco de uma crise política e social em um contexto de renúncia do presidente Evo Morales, assim como de funcionários do seu governo."
A CIDH cita dados de que 421 pessoas ficaram feridas, 222 foram presas e três morreram nos confrontos, além do registro de saques, incêndios de ônibus e destruição de propriedades.
"Nas últimas horas foram registrados ataques e saques a residências de pessoas privadas e autoridades, incluindo a do presidente Morales. A Comissão condena todo ato de violência e faz um chamado ao Estado para garantir respeito aos direitos humanos de todas as pessoas sem distinção de ideologia ou cargo político", adiciona a nota.
"Ao mesmo tempo, a CIDH amplia o chamado aos atores políticos e sociais, para que cesse todo ato de violência. A Comissão destaca a importância de que a crise seja resolvida com apego à Constituição e por canais democráticos.
A renúncia
Evo Morales renunciou à presidência da Bolívia em meio a uma profunda crise política no país. Ele deixou a capital La Paz e desembarcou em Cochabamba, sua região, para se encontrar com líderes cocaleiros. O agora ex-presidente se disse vítima de um golpe "cívico-político-policial" e afirmou que renunciou para tentar pacificar o país.
"Renuncio a meu cargo de presidente para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo dirigentes sociais", disse Morales em discurso transmitido pele TV, referindo-se a líderes opositores que convocaram protestos contra ele desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro e também aos ataques contra pessoas ligadas ao seu governo.
"Não sei como podem usar a Bíblia para maltratar famílias [em uma referência aos opositores]. Mesa e Camacho não façam isso. Isso é desumano", prosseguiu. "Não roubamos ninguém. Se alguém tem uma prova de roubo que apresente."
"[A renúncia] não é nenhuma traição. A luta continua. Estamos deixando uma nova Bolívia livre e em processo de desenvolvimento. Vamos continuar junto ao povo", afirmou Morales, que ficou 13 anos no poder.
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