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O que vai ser notícia no mundo em 2020?

Brexit - GETTY IMAGES
Brexit Imagem: GETTY IMAGES

BBC

BBC News Brasil

01/01/2020 17h16

Resumo da notícia

  • Brexit, impeachment de Donald Trump e possível crise econômica internacional são alguns dos destaques em 2020
  • Tensões políticas também devem dominar o noticiário global em 2020, incluindo a América Latina
  • Capital do Japão, Tóquio, recebe os Jogos Olímpicos, mais um destaque em 2020

Saída do Reino Unido da União Europeia, impeachment de Donald Trump e uma possível crise econômica internacional.
O ano mal começou, mas já há sinais de que a agenda internacional será repleta de notícias.

A BBC News Brasil compilou uma lista de oito temas para você ficar de olho em 2020. Confira.

1) Brexit

Após seguidos adiamentos, o Brexit, como se convencionou chamar a saída do Reino Unido da União Europeia, está marcado para acontecer no próximo dia 31 de janeiro de 2020.

O possível divórcio do bloco europeu já vinha se arrastando por muito tempo, desde que os britânicos votaram a favor dele em um plebiscito em 2016.

Agora, no entanto, deve sair finalmente do papel. Por quê?

A isso se deve um intricado xadrez político, que passou pela renúncia da última premiê, Theresa May, em maio, e envolveu a vitória retumbante dos conservadores nas últimas eleições gerais.

O atual primeiro-ministro, Boris Johnson, que é favorável ao Brexit, tem agora maioria absoluta no Parlamento. Mas o capítulo final dessa novela não deve terminar no mês que vem.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, negociou um acordo com o bloco europeu, e, após as últimas eleições gerais, que consagraram a maioria conservadora, este foi aprovado com facilidade pelo Parlamento britânico.

O acordo negociado por Boris Johnson mantém boa parte do texto elaborado pela sua antecessora, Theresa May. Entre outros pontos, a proposta prevê:

  • Direitos dos cidadãos após o Brexit: a ideia é que os britânicos morando na UE e europeus que moram no Reino Unido possam continuar a trabalhar e estudar onde tenham residência, além de poderem trazer consigo membros da sua família, embora nem todos os pontos dessa questão tenham sido decididos.
  • Haverá um período de transição após a saída do Reino Unido, para dar tempo de os dois lados acertarem um acordo quanto às trocas comerciais bilaterais.
  • A "conta do divórcio": o Reino Unido terá de pagar até 39 bilhões de libras (R$ 192 bi) como compensação financeira à UE.

A principal modificação feita por Boris Johnson diz respeito à fronteira entre a Irlanda do Norte, um território britânico, e a Irlanda, que faz parte da UE.

voto brexit - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O acordo estabelecido por Theresa May incluía uma "salvaguarda", apelidada de "backstop", para impedir a instalação de uma fronteira física entre as Irlandas, mas foi repetidamente rejeitado pelo Parlamento britânico, o que levou à renúncia de May. Os parlamentares temiam que o Reino Unido permanecesse desta forma vinculado indefinidamente aos regulamentos europeus.

A proposta de Johnson prevê uma fronteira alfandegária entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda (esta permanecerá na UE). Mas, na prática, a fronteira alfandegária será entre a Grã Bretanha e a ilha da Irlanda, com a checagem de mercadorias em seus "pontos de entrada" na Irlanda do Norte.

Os impostos não deverão ser automaticamente pagos sobre bens que entrem na Irlanda do Norte vindos da Grã Bretanha. Mas se houver o risco de que alguma mercadoria acabe transportada para a Irlanda, o imposto será cobrado.

Se o Reino Unido deixar a União Europeia em 31 de janeiro, esse será apenas o primeiro passo de um processo complexo.
A prioridade será negociar um acordo de comércio com o bloco europeu. O Reino Unido quer o maior acesso possível de seus serviços e produtos nos países europeus.

Mas os integrantes do Partido Conservador deixaram claro que o país deve deixar a união aduaneira e o mercado comum europeu, assim como o parlamento europeu e o sistema de justiça comum.

O tempo é curto. A União Europeia pode levar semanas para entrar em consenso sobre o procedimento de negociação - todos os 27 membros do bloco e o parlamento europeu precisam concordar. Isso significa que negociações formais podem começar apenas em março.

Essas conversas precisam produzir um acordo definitivo até o final de junho de 2020. É nesse momento que o Reino Unido terá que decidir se quer ou não estender o período de transição (por um ou dois anos).

Mas Johnson tem descartado qualquer tipo de ampliação do prazo.

Se nenhum acordo de comércio for feito até o final de junho, o Reino Unido vai enfrentar a perspectiva de deixar a União Europeia sem qualquer acordo comercial no final de dezembro de 2020.

Se Reino Unido e União Europeia conseguirem fechar um acordo, ele terá que ser ratificado antes de entrar em vigor e esse processo pode durar alguns meses.

Nenhum acordo comercial dessa envergadura e complexidade foi aprovado entre a União Europeia e outro país num prazo tão curto como o previsto para essas negociações.

Boris Johnson tem argumentado que o Reino Unido está totalmente alinhado com as regras da União Europeia e que, portanto, as negociações deverão ser mais objetivas.

Mas críticos destacam que o Reino Unido quer ter a liberdade de divergir das regras europeias para poder firmar acordos comerciais com países de fora do bloco- o que pode tornar as negociações mais difíceis.

Não é apenas um acordo comercial que precisa ser resolvido. O Reino Unido precisa decidir como irá cooperar com a União Europeia em questões relacionadas a segurança e combate ao terrorismo.

E ainda há outras dezenas de áreas em que hoje há cooperação estreita entre o Reino Unido e países europeus. Como o governo britânico vai lidar com essas questões? E decidir sobre tudo isso em menos de um ano?

Várias perguntas permanecem sem resposta.

2) Futuro de Donald trump

Em novembro do ano que vem, os Estados Unidos realizam eleições presidenciais.

1.fev.2019 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de uma reunião para discutir o tráfico de pessoas no sul da fronteira - Olivier Douliery/EFE - Olivier Douliery/EFE
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
Imagem: Olivier Douliery/EFE

Como sempre acontece, de quatro em quatro anos, o mundo todo vai prestar atenção em quem será o novo ocupante da Casa Branca.
E a briga deve ser dura. Ainda mais agora, depois que o presidente americano, Donald Trump, candidato à reeleição, enfrenta um processo de impeachment.

A Câmara dos Representantes, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, que tem maioria do Partido democrata, que faz oposição a Trump, votou pela abertura do processo de impeachment por abuso de poder e obstrução de justiça.

O motivo? Investigações indicam que Trump pediu ao governo da Ucrânia que abrisse uma investigação sobre seu adversário político, Joe Biden (e um dos favoritos à indicação democrata para enfrentá-lo nas eleições presidenciais de 2020), e o filho dele, Hunter. Biden foi vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo Obama.

Mas, diferentemente do que acontece no Brasil, Trump não foi afastado da presidência. A decisão final depende de uma votação no Senado, que tem maioria do partido do presidente, o Republicano. Para que Trump perca o mandato, dois terços dos senadores devem votar a favor disso.

Antes de Trump, apenas dois presidentes enfrentaram processos de impeachment na história dos Estados Unidos (Andrew Johnson e Bill Clinton), mas ambos foram absolvidos. Trump é o primeiro nessa situação que tenta se reeleger à presidência.

3) Guerra comercial entre EUA e China

Na economia, todos os olhos vão estar voltados para os desdobramentos da guerra comercial travada entre as duas maiores potências do mundo: Estados Unidos e China - e nas implicações que isso deve gerar para o restante do mundo.

Tudo começou em março de 2018 quando o presidente americano, Donald Trump, impôs tarifa sobre a importação de aço e alumínio chinês. A China retaliou com tarifas sobre produtos americanos, principalmente alimentos. Desde então, milhares de produtos comercializados pelos dois países passaram a pagar mais impostos dos dois lados.

Trump também barrou as empresas americanas de comercializarem e faz pressão sobre outros países contra a Huawei, que é maior empresa chinesa de tecnologia de celulares, competidora da Apple e da Samsung. Para cumprir com essa ordem, o Google baniu suporte técnico, serviço e aplicativo nos novos aparelhos da Huawei. Nessa briga de gigantes, até a soja brasileira se tornou ponto sensível.

Recentemente, China e Estados Unidos confirmaram que chegaram à primeira fase do acordo comercial. Com isso, os dois países vão suspender a aplicação de novas tarifas sobre importações que estavam prestes a entrar em vigor. Mas esse acordo ainda precisa passar por trâmites legais antes de ser assinado.

4) Sinais de uma nova crise econômica?

Pessimistas já vêm considerando a possibilidade de o mundo pode enfrentar uma nova crise global em 2020, semelhante à de 2008.
Um deles é o economista Nouriel Roubini, que previu a tormenta financeira de 11 anos atrás.

Ele aponta a guerra comercial e o Brexit como fatores que podem levar a uma nova recessão. Segundo especialistas, tensões geopolíticas também podem acabar contribuindo para um novo apocalipse econômico.

Em julho, o FMI (Fundo Monetário Internacional) cortou de novo a previsão de crescimento global para 2019, de 3,5% para 3,2%.

5) Conflitos internacionais

Tensões políticas também devem dominar o noticiário global em 2020.

Coreia do Norte, Irã, Israel-Palestina, Iêmen... todos esses países são focos de tensão há algum tempo, uns mais do que os outros.
Apesar de os encontros de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, a relação entre os dois países parece ter voltado à estaca zero.

Em julho, Trump foi o primeiro presidente americano a pisar na Coreia do Norte. Mas não houve progresso no acordo de desnuclearização do país.

Um centro de pesquisa do governo sul-coreano suspeita que a Coreia do Norte provavelmente vai tentar desenvolver mísseis intercontinentais com ogivas múltiplas se as negociações fracassarem.

Especialistas dizem que esse tipo de armamento é muito mais difícil de interceptar porque as ogivas se separam no ar antes de atingir seus alvos.

Já a guerra civil no Iêmen, que dura três anos, não tem data para acabar. O país é um dos mais pobres do mundo árabe. ONGs acreditam que cerca de 85 mil crianças menores de cinco anos morreram até agora por desnutrição.

6) Instabilidade na América Latina

Em 2019, a América Latina entrou em ebulição. A Argentina elegeu um novo presidente, Alberto Fernández, e uma nova vice-presidente, Cristina Kirchner.

Kirchner é velha conhecida dos brasileiros pois foi presidente da Argentina por oito anos. Ela foi sucedida por seu rival político, Mauricio Macri.

Chile saúde protestos - Getty - Getty
Pacientes chegam a ficar anos esperando por procedimentos e consultas
Imagem: Getty

Inicialmente celebrado por sua agenda pró-mercado, Macri implementou medidas duras, que provocaram descontentamento de parte de seu próprio eleitorado. Contrariando as expectativas, a inflação subiu, o PIB caiu e a pobreza aumentou durante seu governo. O resultado foi sentido nas urnas.

A vitória da chapa Fernández-Kirchner representou o retorno do peronismo ao poder. O presidente Jair Bolsonaro não foi à posse de Kirchner e mandou o vice, Hamilton Mourão, em seu lugar.

Essas desavenças levantam questionamentos sobre a relação que o governo brasileiro terá com o novo governo argentino. A Argentina continua um dos principais parceiros comerciais do Brasil, o maior destino de nossos produtos industrializados.

Além disso, o que isso representa para o futuro do Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (a Venezuela está suspensa desde 2016)?

No Chile, protestos em larga escala pediram a renúncia do presidente, Sebastián Piñera. Ele não renunciou, mas prometeu reformar a constituição, que foi redigida durante a ditadura militar de Augusto Pinochet. Isso também deve acontecer em 2020.

Por fim, na Venezuela, a crise humanitária faz ainda mais pressão sobre o governo de Nicolás Maduro. Mais de quatro milhões de venezuelanos já fugiram do país.

7) Olimpíada em Tóquio

Em junho de 2020, a capital do Japão, Tóquio, vai sediar os Jogos Olímpicos de verão. É a segunda vez que o evento acontece na cidade. No total, são atletas de 206 nações competindo em 33 modalidades, entre elas cinco novos esportes: skate, escalada esportiva, caratê, surfe e beisebol/softbol.

John John Florence ergue bandeira após garantir sua vaga em Tóquio 2020 - Divulgação/WSL - Divulgação/WSL
John John Florence ergue bandeira após garantir sua vaga em Tóquio 2020
Imagem: Divulgação/WSL

Segundo a organização do evento, a inclusão desses novos esportes teve como objetivo atrair um público mais jovem.
A expectativa é que a Olimpíada seja hi-tech. Robôs vão substituir voluntários em alguns dos locais de competição. Eles vão fornecer informação, acomodar as pessoas em seus assentos e carregar bebidas e comidas.

8) Corrida espacial

No campo da ciência e da tecnologia, 2020 deve marcar o início de uma nova corrida espacial a Marte. Estão previstas quatro missões entre julho e agosto, lideradas por Estados Unidos, Europa, Rússia, China e Emirados Árabes Unidos. O período escolhido não é uma mera coincidência: Marte e Terra vão estar mais próximos, uma oportunidade que só acontece de dois em dois anos. As viagens devem durar entre sete e dez meses.

Os Estados Unidos querem mandar um veículo robô e um drone helicóptero; a Europa, em conjunto com a Rússia, outro veículo robô e uma plataforma científica; a China, um terceiro veículo-robô mais um orbitador; e os Emiradores Árabes Unidos, um orbitador.

Segundo a Nasa, a agência espacial americana, a exploração do chamado Planeta Vermelho deve revelar informações sobre a origem e a evolução da vida e um destino para a sobrevivência da humanidade.