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Semana de violência policial em atos antirracistas termina em tom pacífico

Em protesto contra o racismo, cartaz repete última frase de George Floyd: "Não consigo respirar" - Lisa Maree Williams/Getty Images
Em protesto contra o racismo, cartaz repete última frase de George Floyd: "Não consigo respirar" Imagem: Lisa Maree Williams/Getty Images

Ana Carolina Silva*

Do UOL, em São Paulo

07/06/2020 00h11

Houve violência policial ao longo dos últimos dias de protestos contra o racismo (motivados pela morte de George Floyd), mas a semana terminou de maneira relativamente pacífica na maioria dos locais. Foram registrados atos dos Estados Unidos à Inglaterra, passando por França e Austrália.

Em Washington, nos Estados Unidos, as pessoas marcharam em direção à Casa Branca e clamaram "sem justiça, não há paz". Muitos dos manifestantes usavam máscaras e camisetas com a frase "Não consigo respirar" —as últimas palavras que o negro Floyd disse enquanto o policial branco Derek Chauvin pressionava seu pescoço com o joelho.

Um dos cartazes dizia: "Tire seu joelho do nosso pescoço".

Os policiais ficaram atentos à movimentação e vários helicópteros sobrevoaram a capital norte-americana, que teve sol forte hoje, mas a tranquilidade predominou. Segundo a agência AFP, voluntários distribuíram garrafas d'água para que a multidão permanecesse hidratada.

Cinco meses antes da eleição presidencial que colocará Donald Trump frente a frente com o democrata Joe Biden, os EUA vivem um debate racial de maneira prática e com eventuais desentendimentos com o atual presidente.

"Muita gente pensa no racismo e pensa em coisas como a KKK", disse à AFP o professor Chris Wade, negro de 29 anos, em alusão ao grupo supremacista branco. "Hoje, o racismo é a falta de oportunidades e de recursos", completou.

A Alemanha, por outro lado, registrou uso de spray de pimenta por parte da polícia em Hamburgo, além de canhões d'água para afastar os manifestantes. As autoridades alegaram que pessoas agressivas teriam criado tensão com policiais. Ainda nesta região, mais de 300 pessoas ficaram paradas, em pé, diante dos canhões d'água.

Londres, na Inglaterra, teve um dia dividido: começou com manifestação ordeira e pacífica, mas alguns grupos atiraram garrafas em policiais e foram até a residência oficial do primeiro-ministro Boris Johnson, de onde foram afastados pela cavalaria.

Na Austrália, o primeiro país a protestar fora dos EUA, milhares de pessoas marcharam hoje. De acordo com a AFP, os organizadores creem que o caso de Floyd encontra eco e causa identificação no país.

Segundo eles, o objetivo é denunciar o alto índice de detenção entre os aborígines, bem como os membros dessa comunidade mortos quando estavam sob custódia policial. Foram mais de 400 nos últimos 30 anos.

A França contou com atos em Paris, Bordeaux, Lyon, Lille, Rennes e Marselha.

protesto paris - ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP - ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP
Protesto em Paris, na França
Imagem: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP

Policial acusado por morte de Floyd tem antecedentes

Thomas Lane, 37 anos, um dos policiais acusados do assassinato de George Floyd, possui sete antecedentes criminais. Antes de ingressar na polícia, ele acumulou uma série de violações de trânsito e mesmo assim se tornou oficial.

Entre as acusações contra Lane está uma por danificar propriedades. De acordo com o jornal britânico Daily Mail, o arquivo pessoal de Thomas foi divulgado pelo Departamento de Polícia de Minneapolis, mas com muitas seções editadas.

Tou Thao, Thomas Lane e J. Alexander Kueng, os três ex-policiais que acompanharam Derek Chauvin na abordagem que resultou na morte de George Floyd foram acusados de favorecer o assassinato do ex-segurança.

Idoso empurrado por policiais é ativista de longa data

Uma cena em especial chamou a atenção anteontem, quando foi divulgado um vídeo em que policiais de Buffalo, em Nova York, empurravam um idoso de 75 anos. No contato com o chão, Martin Gugino, um ativista pacífico de longa data, sangrou pela cabeça.

Gugino é integrante da Western New York Peace Center (Centro de Paz do Oeste de Nova York), uma organização ativista da cidade de Buffalo.

Segundo seu blog pessoal, Gugino já foi preso quatro vezes em manifestações, mas nunca foi acusado. Anteontem, ele participava de um ato contra o racismo nos EUA.

"Uma coisa eu sei: Martin é uma pessoa não violenta", afirmou Vickie Ross, a diretora executiva da organização em uma entrevista à TV local, WKBW.

E policiais são acusados de agressão a idoso

Os dois policiais que foram flagrados empurrando um homem de 75 anos durante uma manifestação na cidade de Buffalo, em Nova York, foram acusados de agressão em segundo grau, ou seja, com intenção de causar ferimentos.

Os policiais Aaron Torglaski e Robert McCabe compareçam ao tribunal e foram liberados depois da audiência. Eles não se declararam culpados e devem voltar à corte em 20 de julho.

EUA acusam China de usar morte de Floyd

Protestos contra a brutalidade policial em Nova York EUA George Floyd - AFP - AFP
Protestos contra a brutalidade policial se espalharam pelos Estados Unidos nos últimos dias
Imagem: AFP

Os Estados Unidos acusaram a China hoje de usar a agitação pela morte de George Floyd para justificar a negação de direitos humanos à sua população.

"Como todas as ditaduras da história, nenhuma mentira é demasiada obscena, desde que sirva aos anseios de poder do Partido", disse o secretário de Estado, Mike Pompeo, em comunicado referente ao Partido Comunista da China.

"Essa propaganda ridícula não deve enganar ninguém", acrescentou.

A China fez críticas severas aos Estados Unidos pelo notório caso Floyd, mas não ficou claro de imediato sobre qual delas Pompeo se referiu.

Banksy faz arte com bandeira dos EUA em chamas

banksy - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Arte de Banksy
Imagem: Reprodução/Instagram

O artista Banksy usou o Instagram para compartilhar uma arte que aborda a luta antirracista que eclodiu em protestos pelos EUA e pelo mundo após a morte de George Floyd.

A arte retrata um memorial a uma vítima do racismo, com um porta-retrato, flores e velas. Em uma visão mais ampla, vemos que uma das velas, a única acesa do memorial, está colocando fogo em uma bandeira dos EUA.

Banksy disse que inicialmente tentou se manter calado diante das manifestações antirracistas, para ceder espaço para pessoas negras falarem. "Mas porque eu faria isso? Este problema não é deles. É meu", argumentou.

"O sistema está falhando com pessoas de cor. O sistema branco. É como um cano quebrado que alaga o apartamento do andar debaixo. Este sistema falho está fazendo da vida deles um inferno, mas não é o trabalho deles consertá-lo. Eles não conseguiriam fazer isso, porque ninguém deixa eles entrarem no apartamento do andar de cima", disse ainda.

"Este é um problema branco. E, se as pessoas brancas não o consertarem, alguém vai ter que subir as escadas e arrombar a porta do apartamento", completou.

*com informações de agências internacionais