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Exército da Colômbia tem 73 investigados por crime sexual ainda na ativa

27.jun.2020 - Mulheres indígenas embera-chamí protestam em Bogotá após estupro cometido por sete militares do Exército contra uma menina de 12 anos de sua comunidade  - Mauricio Dueñas Castañeda/EFE
27.jun.2020 - Mulheres indígenas embera-chamí protestam em Bogotá após estupro cometido por sete militares do Exército contra uma menina de 12 anos de sua comunidade Imagem: Mauricio Dueñas Castañeda/EFE

Do UOL, em São Paulo

02/07/2020 16h06

O Exército da Colômbia reconhece que 73 de seus integrantes investigados por abuso sexual contra menores de idade continuam na ativa, diz o site do El País. O general Eduardo Zapateiro explicou ontem à imprensa como estão as investigações sobre casos de violência sexual cometidos por homens de farda.

O general afirmou que, desde 2016, "118 membros da força relacionados a casos de supostos atos sexuais abusivos e violentos contra menores foram identificados".

"Todos esses fatos são conhecidos pelo Gabinete do Procurador Geral da Nação e têm uma investigação disciplinar, alguns deles realizados pelo Gabinete do Procurador Geral", acrescentou o alto comando.

"Dos 118 membros, 45 deles foram retirados do Exército Nacional, porque não são dignos [...]. O restante dos casos investigados, 73 homens, está sendo revisado em detalhes."

Zapateiro enquadrou esses crimes em "fatores humanos individuais que nem sempre podem ser controlados". Mas, ao mesmo tempo, ele reconheceu: "isso nos força a nos rever internamente e a fortalecer os diferentes processos".

O Exército passou anos promovendo, em colaboração com o Ministério da Defesa, programas e cursos para a proteção de crianças e adolescentes. Em setembro de 2019, assinou um acordo com o Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar e lançou várias iniciativas de prevenção a longo prazo. No entanto, essa política não impediu a perpetração de crimes sexuais que começaram a ser conhecidos há uma semana e que abalaram a Colômbia.

Primeiro, o estupro coletivo de uma menina indígena de 13 anos de idade foi descoberto em uma comunidade de Embera, no pequeno departamento de Risaralda (parte centro-oeste do país), pelo qual foram detidos sete soldados que, segundo a denúncia, se aproveitaram do "isolamento e situação gerada pela pandemia" do coronavírus para realizar o crime.

Dias depois, o Exército reconheceu outro estupro de uma menor de 15 anos de idade da etnia nukak, sequestrada por dias por soldados em Guaviare, perto da Amazônia.

Eduardo Zapateiro foi duro em condenar os eventos e também em defender o Exército contra suspeitas de que o abuso sexual representasse um comportamento sistemático dos soldados.

"Eu quero ser enfático. Nenhum soldado é treinado na instituição para violar os direitos humanos de crianças e adolescentes", afirmou.

O ex-presidente Ernesto Samper, que governou o país entre 1994 e 1998, escreveu no Twitter:

"Compartilho da posição de meu irmão Daniel de que o problema dos militares violadores, além de ser um caso judicial que deve ser punido exemplarmente, é um problema fundamental pelo fato de existirem soldados institucionalmente treinados para esse tipo de ato."

E acrescentou: "Os casos de abuso sexual de membros das Forças Armadas continuam aparecendo sem condenação até o momento. Ainda me parece que, além do sistema judicial, há um descaso dentro das forças no treinamento ético e de direitos humanos de soldados e policiais."

O comandante do Exército, que fez esses anúncios "por uma questão de transparência" depois que o presidente, Iván Duque, e o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo, condenaram os atos, afirmou que "o treinamento será intensificado".

"Como comandante deste glorioso Exército, não tolerarei nenhuma conduta [que viole os direitos das crianças e dos adolescentes]", reiterou.