Topo

Esse conteúdo é antigo

Primeiro-ministro libanês demite todo o gabinete e renuncia

Do UOL, em São Paulo

10/08/2020 13h42Atualizada em 10/08/2020 16h12

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, renunciou hoje e anunciou a dissolução de seu gabinete. A decisão vem após as sucessivas renúncias de integrantes de sua equipe como resultado dos protestos do final de semana em Beirute após as explosões da semana passada, que resultaram em mais de 160 mortos.

Em pronunciamento à televisão, Diab afirmou que as explosões no porto de Beirute foram o resultado de uma "corrupção endêmica" e disse que toma a decisão de renunciar para "caminhar com o povo".

"Criamos um trabalho e, apesar de tudo isso, as vozes e as críticas não cessaram. Nossa esperança era a mudança que os libaneses estão pedindo. Mas entre nós e as mudanças há um muro muito grande protegido por uma classe que luta com meios não muito corretos e domina a sociedade desse país. O sucesso desse gabinete era a mudança. Por isso anuncio a demissão de todo o gabinete. Que Deus abençoe o Líbano", disse Diab.

Quatro membros de seu gabinete já haviam renunciado ontem. Pelo menos 160 pessoas morreram nas explosões que atingiram a área portuária da cidade, deixando mais de 5.000 feridos e mais de 300 mil desabrigados.

A maioria vive em outro mundo, não se importa com o que aconteceu. Só quer tirar vantagem política. Eles têm que ter vergonha deles mesmo. Só Deus sabe quantas tragédias ainda estão encobertas pela corrupção deles
Hassan Diab, referindo-se à tragédia da semana passada

Durante todo o discurso, ele alegou que foi acusado de corrupção por um grupo de pessoas, mas sem identificar quem seriam. No final de semana, ele já havia manifestado apoio à realização de uma nova eleição para o parlamento.

"A corrupção não acabou em Beirute e essas pessoas hoje comercializam o sangue do povo nessa hora difícil. Hoje, nós estamos diante de uma grande tragédia. Todas as forças que querem o bem desse povo deveriam ter se unido para resolver esse problema", disse Diab.

"Eles tentaram jogar toda a responsabilidade neste gabinete. Este gabinete fez todo o esforço para traçar uma estratégia contra a corrupção, demos tudo para salvar esse país, porque queríamos um futuro melhor para os nossos filhos. Não temos interesses pessoais. Tudo o que queríamos era reconstruir esse país", completou o agora ex-premiê.

As manifestações contra o governo nos últimos dias foram as maiores desde outubro do ano passado, quando houve protestos contra a crise econômica enraizada em corrupção endêmica, desperdícios e má gestão. Manifestantes acusaram a elite política de usar os recursos do Estado em benefício próprio e tomaram as ruas da capital, pedindo também justiça pelas vítimas das explosões da semana passada.

Explosão despertou fúria popular

O primeiro-ministro tinha assumido o poder em janeiro, após a demissão de Saad Hariri, que deixou o posto em meio a numerosos protestos que tomaram as ruas do Líbano em 2019. O governo de Diab tinha apoio do Hezbollah, o partido ligado ao grupo extremista xiita sustentado pelo Irã.

A crise política parecia ter arrefecido com a chegada da pandemia do coronavírus, apesar de uma grave crise econômica que empobreceu a população —metade dos libaneses vive atualmente na linha da pobreza. Contudo, as explosões da última terça-feira (4) reacenderam a raiva popular.

A demissão do governo de Diab, no entanto, pode não ser suficiente para essa população que pede a reformulação completa do sistema político. O presidente do Líbano, Michel Aoun, um cristão maronita, continua como chefe do Executivo, assim como o parlamento segue sob a presidência de Nabih Berri, um muçulmano xiita.

As causas e os responsáveis pela explosão ainda estão sendo investigados. Aoun havia dito que o material explosivo foi armazenado sem segurança durante anos no porto. Depois, afirmou que a investigação consideraria se a causa foi alguma interferência externa, negligência ou um acidente.

*Com informações da RFI e Reuters