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Eleições EUA: delegados podem mudar voto e escolher o candidato adversário?

O democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, adversários nas eleições 2020 - Angela Weiss e Mandel Ngan/AFP
O democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, adversários nas eleições 2020 Imagem: Angela Weiss e Mandel Ngan/AFP

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

12/11/2020 11h00

As eleições nos Estados Unidos ocorreram no dia 3 de novembro e, no último sábado (7), o candidato democrata Joe Biden foi projetado vencedor pela imprensa americana. No entanto, o voto dos delegados —que são quem elege de fato o presidente— só ocorrerá no dia 14 de dezembro.

Pela tradição, os delegados votam no candidato que a maioria da população escolheu no Colégio Eleitoral, porém, é possível que um ou outro se rebele e vote em outro candidato. São os chamados "eleitores infiéis". Historicamente, essas ocorrências são muito baixas e nunca mudaram o resultado da eleição.

Para compreender essa dinâmica é preciso primeiro saber que as eleições nos EUA são indiretas. A população não elege diretamente o presidente. Ao votar em um candidato, o eleito está na prática elegendo os delegados do seu estado. São esses delegados que de fato votam nos postulantes ao cargo de presidente.

Com exceção de Maine e Nebraska, a regra é que o candidato que vencer no estado contará com o voto de todos os delegados daquele Colégio Eleitoral. O número de delegados por estado é proporcional ao tamanho da população.

Esses delegados são escolhidos pelos partidos. Democratas e republicanos - e demais partidos - entregam aos colégios uma lista com potenciais delegados. Geralmente, esses nomes são do alto escalão e com grande confiança dos membros dos partidos. Por isso é raro existir um infiel.

Uma vez que um candidato vence em determinado estado, pela regra do ganhador leva tudo, todos os delegados daquele estado são os indicados pelo partido do vencedor. Não há uma lei nacional que obrigue os delegados a seguir o partido, mas é tradição seguir.

É possível, no entanto, que alguém queira se rebelar e votar em outro candidato. Pensando nisso, 33 dos 50 estados mais o Distrito de Columbia têm leis que proíbem os eleitores infiéis. Já 17 estados não têm uma lei, mas isso não quer dizer que os infiéis estão isentos de retaliações dentro dos partidos.

Nos estados onde existe a lei obrigando, as punições variam. Segundo o site FairVote, em alguns deles, os delegados infiéis são substituídos por suplentes e seus votos não contam. É o caso de Indiana, Minnesota, Montana, Nebraska, Nevada e Washington.

Em outros há multa. Em pelo menos 16 deles não há qualquer punição, mas a prática pode ser mal vista dentro do partido.

Os delegados infiéis são incomuns e nunca mudaram o resultado da eleição. Ainda de acordo com o FairVote, de 23.507 votos eleitorais contados ao longo da história dos Estados Unidos, apenas 90 delegados não votaram no candidato presidencial de seu partido. Entre esses 90 eleitores, 63 deles votaram em outro candidato após a morte do candidato de seu partido, ou seja, não se trata de uma "infidelidade".

Além disso, o comum é que os delegados infiéis votem em um candidato de fora da cédula e não no candidato adversário. Somente uma vez um delegado votou em um candidato do partido adversário. Isso foi na eleição de 1796.

Também pode ocorrer de o delegado seguir o voto do partido para presidente, mas desviar no vice-presidente. Foram 75 ocorrências de casos assim. Nenhum que alterou o resultado da eleição.

Nas eleições presidenciais de 2016 entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, houve sete eleitores infiéis, o maior número em um século.