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Brics: Bolsonaro cobra reformas na OMS, OMC e Conselho de Segurança da ONU

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

17/11/2020 09h40Atualizada em 17/11/2020 11h47

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu mudanças em organismos internacionais sob a justificativa de "democratizar a governança internacional". Durante fala na cúpula dos Brics, hoje, Bolsonaro cobrou reformas na OMS (Organização Mundial da Saúde), OMC (Organização Mundial do Comércio) e no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Para termos uma comunidade internacional verdadeiramente integrada e ativa, precisamos reformar as entidades internacionais, a exemplo da OMS e da OMC
presidente Jair Bolsonaro

A fala de hoje foi feita durante a XII Cúpula do Brics (sigla dos países emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sob a Presidência temporária da Rússia. O evento foi realizado virtualmente pela primeira vez, em razão da pandemia do novo coronavírus.

Desde o início da pandemia, em fevereiro, Bolsonaro critica a atuação da OMS e, pessoalmente, descumpriu orientações sanitárias do órgão como o uso de máscara e evitar aglomerações. O Brasil registra mais de 166 mil mortos em decorrência do novo coronavírus e é um dos mais afetados no mundo pela covid-19.

Bolsonaro já ameaçou retirar o Brasil da organização após a pandemia, seguindo exemplo dos Estados Unidos, de Donald Trump.

"Desde o início também critiquei a politização do vírus e o pretenso monopólio do conhecimento por parte da OMS que necessita, urgentemente, sim, de reformas", afirmou Bolsonaro hoje aos líderes dos Brics.

O presidente brasileiro disse que não foram os organismos internacionais que superaram desafios durante a pandemia, mas sim a coordenação entre os países.

"No Brasil, foram as instituições nacionais e os dedicados profissionais da área médica, de enfermagem e farmacêutica que responderam aos desafios e combateram o vírus. Senhores líderes, a crise sanitária impôs também grandes desafios à estabilidade internacional. O Brasil lutará para que prevaleça no mundo pós-pandemia um sistema internacional pautado pela liberdade, pela transparência e pela segurança", disse.

"A reforma da OMC é fundamental para a retomada do crescimento econômico global. É necessário prestigiar propostas de redução dos subsídios para bens agrícolas com a mesma ênfase que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais", disse o presidente.

A política internacional adotada por Bolsonaro sob o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, constantemente critica organismos internacionais.

Apelo por lugar no Conselho de Segurança da ONU

Durante o pronunciamento, o presidente cobrou que o Brics atue de forma coordenada para que Brasil, Índia e África do Sul tenham assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.

Não há exemplo mais claro da necessidade de democratizar a governança internacional do que reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas
presidente Jair Bolsonaro

"Assim como o Brics alcança consensos e manifesta opiniões comuns em diversos temas, também é preciso que o Brics se coordene para atuar as legítimas aspirações de Brasil, Índia e África do Sul a assentos permanentes no conselho de segurança", disse.

O Conselho de Segurança da ONU é composto por 15 países, sendo cinco permanentes e dez assentos rotativos. Os membros constantes são: Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido. Desses, China e Rússia integram os Brics. O grupo foi criado em 1945, após o fim da 2ª Guerra Mundial.

Defesa da soberania e resposta a críticos pela Amazônia

Durante o discurso de hoje, Bolsonaro falou várias vezes em defender a soberania nacional e fez uma ameaça aos países que criticam as políticas ambientais do Brasil.

O presidente afirmou que divulgará nos próximos dias uma lista de países que importam madeira ilegal e, sem citar nomes, disse que alguns deles são os "mais severos críticos" da política do Brasil na Amazônia, contestada diante do aumento de registros de queimadas neste ano e do avanço do desmatamento.

"A nossa Polícia Federal desenvolveu método usando isótopo estável, do tipo DNA, para permitir a localização da origem de madeira apreendida, e da exportada", disse.

Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que têm importado essa madeira ilegal da Amazônia, e mostraremos que alguns desses são os mais severos críticos do meu governo no tocante da Amazônia. Acredito que depois dessa manifestação, essa prática diminuirá e muito nessa região
presidente Jair Bolsonaro

A política do Governo Federal na região Amazônica tem gerado pressão de países como a França. Em 2019, o presidente francês Emmanuel Macron fez cobranças diretas a Bolsonaro, o que gerou tensão na relação entre os governos.

O assunto voltou à tona com a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos. Embora não tenha parabenizado e reconhecido a vitória do democrata, Bolsonaro tem se referido à mudança na Casa Branca com preocupação em relação a pressões que o Brasil possa sofrer do novo governo americano, que tem como uma de suas principais bandeiras a preservação ambiental e o crescimento sustentável.

Brics

O bloco foi criado em 2006 sem a presença da África do Sul, que passou a integrar o grupo partir de 2011. Os Brics representam 42% da população mundial.

A abertura da cúpula deste ano foi feita pelo presidente da Rússia, Vladmir Putin, às 8h (horário de Brasília). Bolsonaro foi o último a falar.

O último encontro do grupo, no ano passado, aconteceu em Brasília, sob a presidência do Brasil. À época, Bolsonaro defendeu que o Brasil tem os olhos para o mundo, mas prioriza o país em primeiro lugar.