Topo

Esse conteúdo é antigo

Nicarágua prende Arturo Cruz, candidato à presidência da oposição

2.jun.2021 - Policiais em frente à casa de Cristiana Chamorro, outra candidata à presidência que foi presa na Nicarágua - Carlos Herrera/Reuters
2.jun.2021 - Policiais em frente à casa de Cristiana Chamorro, outra candidata à presidência que foi presa na Nicarágua Imagem: Carlos Herrera/Reuters

Do UOL, em São Paulo

06/06/2021 08h58

A polícia da Nicarágua deteve ontem o candidato à presidência Arturo Cruz. Foi a segunda prisão de um líder da oposição na semana — na quarta-feira (2), Cristiana Chamorro, principal rival do atual presidente Daniel Ortega, foi colocada em prisão domiciliar.

Cruz foi detido no aeroporto de Manágua ao chegar de Washington, onde esteve por alguns dias, informou sua assessoria de imprensa à agência Reuters.

O Ministério Público da Nicarágua afirmou em nota que a investigação contra ele é baseada em "fortes evidências de que ele atacou a sociedade nicaraguense", sem detalhar as acusações.

Já a Polícia Nacional informou que "realiza todos os procedimentos investigativos pertinentes e encaminhará a pessoa sob investigação às autoridades competentes para julgamento e apuração de responsabilidades criminais".

Segundo a polícia, Cruz está sendo investigado por crimes previstos na Lei de Defesa dos Direitos do Povo e da Soberania, aprovada em dezembro.

A lei pune "atos que atentem contra a independência, soberania e autodeterminação, que incitem a ingerência estrangeira nos assuntos internos, solicitem intervenções militares, organizem-se com financiamento de potências estrangeiras para a realização de atos de terrorismo e desestabilização".

Cruz foi embaixador da Nicarágua nos Estados Unidos entre 2007 e 2009. Ex-aliado de Ortega, ele é candidato da Aliança Cidadã pela Liberdade, coalização de partidos de direita.

Em sua conta no Twitter, Luis Almagro, secretário-geral da OEA (Organização de Estados Americanos), exigiu que Cruz seja libertado. "A manipulação das forças de segurança e Justiça para aprisionar candidatos da oposição é inaceitável", disse.

Os Estados Unidos pediram a "libertação imediata" de Cruz. "A comunidade internacional falou: sob Ortega, a Nicarágua está se tornando pária internacional e se distanciando cada vez mais da democracia", disse Julie Chung, subsecretária do Departamento de Estado dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, no Twitter.

Segunda prisão na semana

A opositora nicaraguense Cristiana Chamorro, principal rival de Ortega nas próximas eleições presidenciais, previstas para novembro, foi colocada em prisão domiciliar na última quarta-feira após uma acusação de lavagem de dinheiro feita pelo governo que gerou condenação internacional.

Um tribunal de Manágua emitiu um mandado de busca e prisão contra Chamorro, acusada de "gestão abusiva, falsidade ideológica com o crime de lavagem de dinheiro, bens e ativos, em detrimento do Estado da Nicarágua e da sociedade nicaraguense".

Chamorro rejeitou essas acusações, que considera uma "farsa" para impedir sua participação nas eleições, já que a lei nicaraguense impede que pessoas com processo penal aberto concorram a cargos públicos.

O atual presidente, no poder desde 2007, ainda não confirmou participação nas eleições, mas seus adversários acreditam que Ortega buscará um quarto mandato consecutivo.

O presidente de 75 anos enfrenta uma crise política desde 2018, desencadeada por protestos massivos contra algumas medidas de seu governo e que geraram pedidos de renúncia.

Essas manifestações deixaram 328 mortos e milhares de exilados, segundo a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos). Estes fatos renderam sanções dos Estados Unidos. Para Ortega, tratou-se de uma tentativa fracassada de golpe apoiada por Washington.

* Com informações da AFP