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Biden pede que Cuba 'ouça seu povo'; Rússia alerta contra 'interferência'

11.jul.2021 - Homem agita bandeira cubana durante uma manifestação contra o governo do presidente cubano Miguel Diaz-Canel, em Havana - Adalberto Roque/AFP
11.jul.2021 - Homem agita bandeira cubana durante uma manifestação contra o governo do presidente cubano Miguel Diaz-Canel, em Havana Imagem: Adalberto Roque/AFP

Do UOL, em São Paulo*

12/07/2021 13h24Atualizada em 12/07/2021 14h08

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse hoje que o país está ao lado do povo de Cuba em seus apelos por liberdade e alívio da pandemia de coronavírus e de décadas de repressão, um dia após as maiores manifestações contra o governo na ilha comunista em décadas. Já a Rússia, uma das principais defensoras das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, alertou hoje contra qualquer "interferência externa" na crise.

Bradando "liberdade" e pedindo a renúncia do presidente Miguel Díaz-Canel, milhares de cubanos se uniram ontem em protestos de rua de Havana a Santiago, no leste do país.

"Estamos com o povo cubano em seu apelo por liberdade e alívio do flagelo trágico da pandemia e das décadas de repressão e sofrimento econômico aos quais ele é submetido pelo regime autoritário de Cuba", disse Biden em um comunicado.

"O povo cubano está afirmando bravamente direitos fundamentais e universais. Estes direitos, incluindo o direito ao protesto pacífico e o direito de determinar livremente seu próprio futuro, precisam ser respeitados", afirmou o presidente norte-americano.

"Os Estados Unidos pedem que o regime cubano ouça seu povo e atenda suas necessidades neste momento vital, ao invés de se enriquecer", complementou Biden.

Rússia e México reagem

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, reagiu a fala de Biden. "Consideramos inaceitável qualquer ingerência externa nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer ação destrutiva que favoreça a desestabilização da situação na ilha."

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, rejeitou a política "intervencionista" da situação em Cuba e se ofereceu para enviar ajuda humanitária.

O México poderia "ajudar com remédios, vacinas (contra a covid-19), com o que for necessário e com alimentação, porque saúde e alimentação são direitos humanos fundamentais", disse o presidente esquerdista em sua conferência matinal.

Os protestos irromperam em meio a pior crise econômica de Cuba desde o fim da União Soviética, sua antiga aliada, e uma disparada recorde de infecções de coronavírus. Pessoas expressaram revolta com a escassez de produtos básicos, as limitações às liberdades civis e a maneira como as autoridades lidam com a pandemia.

Ainda hoje, pouco antes de Biden emitir seu comunicado, Díaz-Canel culpou as sanções norte-americanas, que foram endurecidas nos últimos anos, por problemas econômicos como a escassez de remédios e blecautes que atiçaram os protestos.

Em discurso transmitido por rádio e televisão, o líder comunista, rodeado por diversos de seus ministros, garantiu que seu governo está tentando "enfrentar e superar" as dificuldades face às sanções americanas, reforçadas desde o mandato do presidente americano Donald Trump.

"O que procuram? Provocar agitação social, causar mal-entendidos" entre os cubanos, mas também "a famosa mudança de regime", denunciou o presidente cubano. Os responsáveis pelas manifestações "tiveram a resposta que mereciam e continuarão a ter, como na Venezuela", grande aliada de Cuba, acrescentou.

Internet móvel no país foi cortada

A internet móvel, que chegou a Cuba no final de 2018 e permitiu a transmissão ao vivo de cerca de 40 protestos antigoverno em toda a ilha no domingo, foi cortada na manhã de hoje. As ruas de Havana ainda são patrulhadas pela polícia e pelo exército, destacaram os jornalistas da AFP, mas a calma voltou às ruas depois dos confrontos do dia anterior, que levaram a dezenas de prisões.

As relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, após uma breve reconciliação entre 2014 e 2016, estão em seu ponto mais baixo desde a gestão de Donald Trump, que reforçou o embargo em vigor desde 1962, denunciando violações de direitos humanos e apoio de Havana ao governo de Nicolas Maduro, na Venezuela.

Essas sanções, assim como a ausência de turistas devido à pandemia de covid-19, mergulharam Cuba em uma profunda crise econômica e geraram forte inquietação social, seguida de perto por Washington e pelo continente americano.

Os protestos também ocorreram em um cenário de forte aumento de casos de coronavírus na ilha. Ao todo, Cuba soma oficialmente supostos 238.491 casos, incluindo 1.537 mortes, para 11,2 milhões de habitantes. Situação que tem levado muitos cubanos a usar a hashtag #SOSCuba nas redes sociais, para pressionar que a ajuda humanitária externa seja autorizada pelo governo.

* Com AFP, Reuters e RFI