EUA reagem ao Talibã e dizem que mantêm controle do aeroporto em Cabul

O governo dos Estados Unidos reagiu hoje à declaração do Talibã, após um porta-voz do grupo extremista alegar que eles tomaram o controle de partes do aeroporto de Cabul. À imprensa, o Pentágono afirmou que os militares norte-americanos mantêm o domínio sobre a área que serve como saída para os afegãos que tentam deixar o país há dias, desde que os fundamentalistas assumiram o controle do poder na capital do Afeganistão.

"Não estão a cargo de nenhum dos portões, não estão a cargo de nenhuma das operações do aeroporto. Isso ainda está sob o controle militar dos Estados Unidos", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

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Mesmo assim, a embaixada dos EUA em Cabul reforçou hoje o alerta para que os cidadãos americanos no Afeganistão evitem o aeroporto da capital Cabul, "devido a ameaças à segurança".

Os EUA lançaram um drone no Afeganistão na noite de hoje. Segundo informações da imprensa internacional, o ataque mirava líderes do EI-K, braço do Estado Islâmico no país, e foi uma resposta ao atentado de ontem realizado pelo grupo na entrada do aeroporto de Cabul.

Talibã diz que parte do aeroporto está sob seu controle

Nas redes sociais, o porta-voz do Talibã, Bilal Karimi, disse que "três importantes locais do setor militar do aeroporto foram evacuadas pelos americanos e estão sob o controle do Emirado Islâmico [do Afeganistão]. Atualmente, só uma parte muito pequena está nas mãos dos americanos".

Desde 15 de agosto, quando o grupo extremista chegou ao poder na capital afegã, os Estados Unidos têm tentado evacuar dezenas de milhares de pessoas do país. O prazo final para a conclusão dessa operação vai até o dia 31 de agosto.

Ontem, um atentado terrorista na região do Aeroporto Internacional Hamid Karzai deixou pelo menos 170 mortos e mais de 200 feridos. As explosões, reivindicadas pelo Estado Islâmico, que é inimigo tanto dos EUA quanto do Talibã, também causou a morte de 13 militares americanos.

Após o atentado, o presidente Joe Biden garantiu que o país irá reagir e vai "perseguir" os terroristas.

Por conta do ataque, foi suscitada a hipótese de que os Estados Unidos unam forças com o Talibã na investida contra o Estado Islâmico, o que poderia indicar uma inclinação para o reconhecimento dos talibãs como autoridades no Afeganistão.

Hoje, porém, a secretária de imprensa norte-americana, Jen Psaki, disse não haver "pressa para o reconhecimento [da autoridade do grupo extremista] de nenhum tipo por parte dos Estados Unidos ou de qualquer aliado internacional com o qual tenhamos falado".

DPU recomenda acolhida

A DPU (Defensoria Pública da União) expediu uma recomendação para que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adote providências para acolher no Brasil um grupo de 400 pessoas que tentam deixar o Afeganistão por conta da perseguição do Talibã.

De acordo com a recomendação, produzida pelo Grupo de Trabalho Nacional Migrações, Apatridia e Refúgio da DPU, o governo brasileiro têm burocratizado o processo para que os afegãos sejam resgatados. Essas pessoas "correm sérios riscos à vida e à integridade física", segundo o documento obtido pelo UOL.

Contudo, o Itamaraty afirma ainda não haver "base legal para a concessão de visto para acolhida humanitária para cidadãos do Afeganistão". A DPU argumenta que a situação de refúgio permite que haja redução das exigências burocráticas para a emissão dos vistos.

"Nesse contexto que fundamenta a acolhida humanitária e caracteriza grave e generalizada violação de direitos humanos, ensejadora do refúgio — institutos que, por si sós, remetem a uma simplificação ou mesmo dispensa de documentação a ser apresentada —, não há dúvidas da necessidade de concessão de visto mediante simplificação das exigências documentais ou mesmo da emissão de laissez-passer, quando o nacional afegão não dispuser de documento de identificação", diz o documento.

Além da concessão dos vistos para os afegãos, o órgão também recomenda que o Ministério da Defesa use aviões da Força Aérea Brasileira para resgatar pessoas em situação de risco no Afeganistão.

Desde a tomada de poder pelo Talibã, centenas de pessoas se aglomeram no aeroporto de Cabul, capital afegã, tentando deixar o país. Cenas de pessoas penduradas em aeronaves americanas chocaram o mundo —ao menos três afegãos morreram tentando seguir viagens pendurados na fuselagem de aviões.

Em entrevista ao UOL News na manhã de hoje, o embaixador do Brasil no Paquistão, Olyntho Vieira, disse que o Ocidente não é capaz de avaliar os reais impactos do avanço do Talibã no Afeganistão. Ainda, ele disse ser "difícil prever" o que irá ocorrer após a saída das tropas dos Estados Unidos do país.

*Com informações de AFP e RFI