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11 de setembro: 'Vi uma bola de fogo e achei que era um avião de acrobacia'

Colaboração para o UOL

10/09/2021 13h54

Há 20 anos, em 11 de setembro de 2001, o mundo abria um novo capítulo em sua história com o atentado terrorista organizado pelo grupo fundamentalista Al-Qaeda contra os dois edifícios mais altos dos Estados Unidos, as Torres Gêmeas. Naquele dia, a brasileira Stéphanie Habrich, que trabalhava próximo ao World Trade Center, presenciou os ataques que ficaram marcados em sua memória.

Em entrevista ao UOL Debate, Habrich explicou que, em um primeiro momento, as pessoas não tinham noção do que estava acontecendo. Ela viu "uma bola de fogo" no céu e pensou que fosse algum avião de acrobacia que "sem querer errou a mira" e sofreu um acidente.

"Não ouvi avião nenhum, só ouvi um estrondo enorme. Olhei para trás e era uma bola de fogo enorme. A gente desceu super rápido pelas escadas. Quando a gente chegou embaixo, olhou para cima, os papéis [da primeira torre atingida] caindo, dava a impressão de que eram confetes descendo, e a primeira impressão é de que fosse um pequeno avião de acrobacia e sem querer errou mira", declarou.

Segundo Stéphanie o momento em que ela ficou com "medo mesmo" foi quando outro avião atingiu o segundo edifício, provocando um barulho "indescritível". A testemunha conta que a impressão era de que a aeronave estivesse sobrevoando a área, bombardeando as pessoas no chão, e então ela buscou algum lugar para se proteger.

"Era como se o avião estivesse acelerando no máximo, e como estava cheio de combustível, tinham várias explosões. A impressão era de que o avião estava bombardeando as pessoas embaixo. Foi aí que corri pela vida, tentava entrar em outros prédios para tentar me proteger, só que eles fechavam as portas porque também não entendiam o que estava acontecendo", declarou, recordando de uma cena em que viu algo despencando do prédio e, inicialmente, pensou se tratar de uma cadeira, mas "quando chegou perto era uma pessoa se jogando, e vi um monte de gente na janela também". "Foi a primeira vez que ouvi o que era um Talibã", completou.

Orquestrado pelo líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, o atentado consistiu no sequestro de quatro aviões comerciais norte-americanos: o primeiro colidiu contra a torre norte do World Trade Center. Menos de duas horas depois, uma segunda aeronave atingiu a torre sul. Um terceiro avião se chocou contra o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, em Washington D.C. Por fim, outra aeronave foi derrubada no estado da Pensilvânia, antes de atingir o alvo final. Cerca de três mil pessoas foram mortas.

O episódio provocou uma resposta imediata do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que ordenou uma investida militar contra a Al-Qaeda, dando início à chamada "guerra ao terror", que gerou consequências drásticas, e ficou marcada pela invasão no Afeganistão, e a guerra contra o Iraque, então presidido por Saddam Hussein. Nem mesmo a morte de Osama bin Laden em 2014, colocou um ponto final nos conflitos.

Durante o UOL Debate, além da brasileira Stéphanie Habrich, que presenciou o atentado, o colunista do UOL, Jamil Chade, e a ex-jornalista da TV Globo nos EUA, Simone Duarte, analisaram as consequências e implicações daquele 11 de setembro.

Segundo Chade, no interior da ONU (Organização das Nações Unidas) ocorreu um "choque político imediato", por se tratar de um ataque direto a maior potência do mundo naquela ocasião. Antes desse episódio, o maior atentado contra os EUA havia ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Japão bombardeou Pearl Harbor, no Havaí, em 1941.

"O episódio abriu um novo capítulo na história do mundo", avaliou o colunista do UOL, destacando que, em um primeiro momento, a reação dos demais países foi o de prestar solidariedade ao país americano e endossarem o combate ao terrorismo, preconizado por Bush.

Ao fazer uma retrospectiva histórica dessas duas décadas, Jamil Chade classifica como "problemática" a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, por se tratar de uma invasão, não com o objetivo de reconstruir o país e instalar a democracia lá, mas sim por interesses belicosos e danosos à população daquele país.

Em seguida, vem a guerra contra o Iraque, que foi rejeitada pelo Conselho de Segurança da ONU, tratando-se, portanto, de uma "guerra ilegal". Então, "a comunidade internacional vive um racha quando esse ataque não dá a resposta que os americanos queriam".

O colunista aponta que o poder militar norte-americano foi insuficiente para "estabilizar a paz nesses locais" invadidos pelos EUA e, hoje, 20 anos depois, tem-se um cenário internacional "completamente diferente, com o poder e a autoridade norte-americana enfraquecida e novos atores internacionais, com destaque para a China".

Esse enfraquecimento no poderio dos Estados Unidos, diz Jamil, ocorre não apenas pela retirada das tropas americanas do Afeganistão de forma tão caótica, incapaz de deter a tomada do poder no país pelo grupo terrorista Talibã, mas, principalmente, porque esses 20 anos "foram insuficientes para reconstruir o Afeganistão".

Para Simone Duarte, a guerra ao terror surtiu efeito contrário do esperado e, em vez de conter os grupos terroristas, "aumentou o terrorismo", fazendo surgir, por exemplo, o Estado Islâmico, que viria a se tornar um dos principais atores nos últimos anos, responsável por perpetrar diversos ataques terroristas em países da Europa.

Ainda, a ex-jornalista da Globo, que atualmente mora em Portugal, avalia que "as maiores vítimas desse terrorismo são as populações desses países". "A ocupação desses países potencializou os ataques suicidas, essa guerra criou novos atores, grupos que você não consegue controlar", completou, destacando que a população desses países, sobretudo a afegã, estão "cada vez mais pobres, oprimidas e cercadas pela violência". Por fim, ela ressalta que para as pessoas que moram nesses países "o 11 de setembro não acabou".

EUA deixam o Afeganistão

Depois de quase duas décadas, as tropas militares dos Estados Unido deixaram o Afeganistão no dia 30 de agosto, dias depois do grupo extremista Talibã assumir o controle do país, provocando a retirada de mais de 120 mil pessoas.

À imprensa, o Pentágono disse que retirou o máximo de pessoas que podia dentro do prazo estipulado, e a Casa Branca diz estar satisfeita com a missão.

Antes da saída dos EUA do país, o grupo terrorista Estado Islâmico-Khorasan e matou pelo menos 90 pessoas, inclusive soldados americanos. Agora, aumentou a ameaça de atentados terroristas e violência no Afeganistão, com diversos grupos fundamentalistas, além da Al-Qaeda, interessados em marcar uma presença maior no país.

Dentro do cenário geopolítico, a retirada das tropas vão ser grandes, principalmente com a China que busca se estabelecer como a nova grande potência presente na região e, inclusive, já tomando iniciativas para se aproximar do Talibã.