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Secretária nazista de 96 anos foge de julgamento e é 'caçada' pela polícia

Ex-secretária nazista foi encontrada após fugir de táxi - Arquivo Pessoal
Ex-secretária nazista foi encontrada após fugir de táxi Imagem: Arquivo Pessoal

Colaboração para o UOL*

30/09/2021 13h11Atualizada em 30/09/2021 22h22

A ex-secretária nazista Irmgard Furchner, que atualmente tem 96 anos, foi encontrada após fugir de uma audiência pela morte de 11 mil pessoas durante os anos de 1943 a 1945. Ela deveria comparecer ao tribunal na manhã de hoje, mas pegou um táxi e escapou da casa de repouso em que mora, segundo o site alemão Bild.

O objetivo da fuga foi evitar enfrentar o processo por crimes contra a humanidade. O julgamento ocorreria no tribunal da cidade de Itzehoe, no norte da Alemanha. Ela só foi encontrada três horas depois, após o tribunal declará-la como fugitiva.

A promotoria acusa a idosa de ser cúmplice pelas mortes porque ela teria atuado como secretária de um campo de concentração nazista em Stuffhof. Os documentos, segundo a acusação, passavam por ela durante os anos do regime.

O crime

A acusação afirma que a nonagenária participou do assassinato de detentos no campo de concentração de Stutthof, na atual Polônia. Lá, trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, entre junho de 1943 e abril de 1945.

Quase 65.000 pessoas morreram no campo, perto da cidade de Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos", segundo a Promotoria.

Segundo Christoph Rückel, "ela foi responsável por toda correspondência do comandante do campo". "Também digitou as ordens de execução e de deportação e colocou suas iniciais", declarou o advogado, representante de diversos sobreviventes do holocausto, à emissora regional pública NDR.

Recusa ao julgamento

No início de setembro, informa o Bild, Furchner escreveu uma carta ao tribunal dizendo que devido à idade e limitações físicas, não iria comparecer ao julgamento. "Gostaria de me poupar desses constrangimentos e que não zombassem da minha humanidade", falou ela no documento.

A próxima audiência está marcada para 19 de outubro e o tribunal declarou que tomará todas as medidas necessárias para que a acusada compareça desta vez.

O Comitê Internacional de Auschwitz expressou indignação com a fuga. "Isso demonstra desprezo pelo estado de direito e também pelos sobreviventes", disse o vice-presidente da entidade, Christoph Heubner.

Os advogados da secretária nazista dizem que ela foi "protegida" do verdadeiro propósito do campo por seus superiores e que, apesar de estar ciente das execuções, acreditava que eram punições por crimes específicos, segundo o jornal britânico DailyMail.

Acertando as contas com o passado

A Alemanha, que por muito tempo hesitou em procurar seus criminosos de guerra, nunca havia julgado ex-nazistas tão idosos. O julgamento de Furchner acontecerá às vésperas do 75º aniversário da condenação à morte por enforcamento em Nuremberg de 12 dos principais dirigentes do Terceiro Reich.

Passados 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça alemã continua procurando ex-criminosos nazistas ainda vivos.

Diferentes promotores alemães estão examinando, atualmente, oito casos que envolvem, em particular, ex-funcionários dos campos de Buchenwald e Ravensbrück, informou à AFP o Escritório Central para o Esclarecimento de Crimes do Nacional-Socialismo.

Nos últimos anos, vários processos foram abandonados pela morte dos suspeitos, ou por sua incapacidade física de comparecer aos tribunais.

Apesar de a Alemanha ter condenado na última década quatro ex-guardas ou funcionários dos campos nazistas de Sobibor, Auschwitz e Stutthof, o país julgou poucas mulheres envolvidas com o regime nazista, relatam historiadores.

A Justiça examinou os casos de pelo menos três funcionárias de campos nazistas. Entre eles, estava o de outra secretária que trabalhava em Stutthof, mas ela faleceu no ano passado, antes da conclusão do processo.

Quase 4.000 mulheres trabalharam como guardas nos campos de concentração, segundo os historiadores, mas poucas foram julgadas após a guerra.

*Com informações da AFP