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Estudo revela que vikings chegaram à América do Norte bem antes de Colombo

Localidade onde vikings chegaram, L"Anse Aux Meadows, no Canadá, ficou desaparecida até 1960 - Wolfgang Kaehler/ LightRocket/ Getty Images
Localidade onde vikings chegaram, L'Anse Aux Meadows, no Canadá, ficou desaparecida até 1960 Imagem: Wolfgang Kaehler/ LightRocket/ Getty Images

Da Agência France-Press, AFP

20/10/2021 15h47Atualizada em 21/10/2021 09h04

Os cientistas puderam datar com precisão, no ano de 1021, a presença de vikings no continente norte-americano, em território do atual Canadá, após sua travessia do Atlântico. O feito só foi possível graças à datação de radiação cósmica após análises em pedaços de madeira.

Há muito se sabe que os marinheiros escandinavos foram os primeiros europeus a desembarcar ali, por volta do ano 1.000, muito antes de Cristóvão Colombo, que chegou mais ao sul e quase cinco séculos depois. O estudo que revelou a presença dos vikings no continente há mil anos foi publicado hoje na revista científica Nature.

Até hoje, o único local conhecido de uma ocupação viking na América continua sendo Anse aux Meadows, uma baía no extremo norte da ilha de Terra Nova, no Canadá, onde permanecem as fundações em madeira de oito construções.

Mas, como observa o estudo, a datação tradicional por carbono-14 realizada no século passado é mais do que imprecisa, em mais de 250 anos. No entanto, tudo indica uma ocupação breve e esporádica do local, segundo vestígios arqueológicos e as "Sagas", textos semilendários que narram as epopeias dos vikings.

A equipe liderada por Michael Dee e Margot Kuitems, respectivamente professor de cronologia isotópica e arqueóloga no Centro de Pesquisa Isotópica da Universidade holandesa de Groningen, contornou o obstáculo com um método original

A Terra está constantemente sujeita à radiação cósmica, "que produz continuamente carbono-14 (uma forma mais pesada e muito mais rara do que o átomo de carbono) na alta atmosfera", explicou Margot Kuitems à AFP. Essa forma de carbono "entrará no ciclo do carbono, que é absorvido pelas plantas por meio da fotossíntese".

Às vezes, a radiação é muito mais poderosa: esses "eventos" de radiação cósmica elevam abruptamente o nível de carbono-14 na atmosfera.

Tempestade solar

Um estudo japonês isolou dois desses "eventos", em 775 e 993, cujos vestígios permanecem em árvores com idade bem conhecida. O súbito aumento do carbono-14 foi encontrado nas datas em questão em seus anéis de crescimento, aqueles círculos que vemos em um tronco cortado e que ajudam a determinar a idade da árvore.

A equipe de Margot Kuitems buscou, usando um espectrômetro de massa, o traço do evento de 993 em três amostras de pedaços de madeira retiradas do sítio de Anse aux Meadows. Especialistas canadenses determinaram que essas peças foram trabalhadas ali pelos ocupantes com ferramentas de ferro.

"Quando medimos a concentração de carbono-14 em uma série de anéis, encontramos um aumento acentuado em um deles e tivemos a certeza de que correspondia ao ano 993", disse a cientista. Bastou então contar o número de anéis entre o anel do "evento cósmico" e o último localizado antes da casca, para determinar a data em que a árvore foi derrubada. Resposta: o ano de 1021.

A medição funcionou para dois pedaços de madeira, dos quais os cientistas puderam até especificar que um pertencia a uma árvore derrubada na primavera e outra no verão-outono.

O Centro de Pesquisa Isotópica está na vanguarda deste método original de datação arqueológica. Ele assinou um primeiro estudo sobre o assunto em 2020, datando precisamente uma estrutura arqueológica no sul da Sibéria, usando o evento cósmico de 775.

Segundo Kuitems, existe hoje um "consenso" para explicar esses picos de radiação cósmica por um "evento solar, como uma tempestade solar".

Outro pico no ano 660 foi recentemente confirmado e poderia, por sua vez, servir como um "marcador" de tempo, graças à melhoria contínua na precisão dos espectrômetros de massa.

*Com informações da AFP