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Pais afegãos vendem filha de 9 anos a 'noivo' de 55 para comprar comida

Parwana com o pai, Abdul; ela foi levada de sua casa em um assentamento no Afeganistão em outubro  - Reprodução/Youtube/CNN
Parwana com o pai, Abdul; ela foi levada de sua casa em um assentamento no Afeganistão em outubro Imagem: Reprodução/Youtube/CNN

Do UOL, em São Paulo

03/11/2021 21h14Atualizada em 03/11/2021 21h14

Uma menina de 9 anos foi vendida a um homem de 55, após seus pais chegarem à conclusão de que "não tinha outra escolha" para conseguir comida para a família. Os parentes vivem em um campo de refugiados na província de Badghis, no Afeganistão, que sofre com a escassez de ajuda humanitária desde a ascensão do Talibã ao poder, em agosto.

Parwana Malik é mais uma das "noivas crianças" afegãs. Ela afirma que vê o "futuro marido" como um "homem velho", com sobrancelhas e barba brancas, e se preocupa com a possibilidade de que ele irá agredi-la fisicamente para que ela trabalhe em sua casa, detalhou a CNN Internacional, que conversou com a criança em 22 de outubro.

A família de Parwana já vive no assentamento em Badghis há quatro anos e recebia mantimentos de organizações humanitárias, sobrevivendo também com subempregos que rendiam alguns dólares ao dia. Desde 15 de agosto, o Talibã dificultou a manutenção de equipes internacionais no país, que vive uma dura crise econômica.

A irmã mais velha da menina já foi vendida há algumas semanas, com apenas 12 anos, para levantar suprimentos para os outros oito membros da família. O pai, Abdul Malik, afirmou não conseguir dormir e que está "destroçado" pela vergonha, culpa e preocupação com as filhas.

Ele afirmou à CNN que esgotou suas opções antes de vender as meninas, viajando para outras cidades afegãs em busca de emprego, fazendo empréstimos de "grandes quantias de dinheiro" com parentes e contando com ajuda da mulher, mãe das pré-adolescentes, para pedir comida a outros integrantes do campo. Mas, no final das contas, as alternativas teriam se esgotado.

"Nós somos em oito, eu tenho que vendê-las para manter os outros vivos", argumentou Abdul à CNN.

Mesmo diante do sacrifício, o dinheiro adquirido com a venda de Parwana sustentará seus parentes por apenas alguns meses. A menina afirma que tentou fazer os pais mudarem de ideia, mas não teve sucesso.

No dia 24 de outubro, o "comprador", identificado apenas pelo nome Qorban, chegou à residência dos Malik com o pagamento pela criança: 200,000 afghanis, cerca de R$ 12 mil, em ovelhas, terras e dinheiro em espécie.

O homem negou que a menina será sua noiva, afirmando que ele já tem uma esposa e que o casal cuidará dela como se fosse sua filha. "(Parwana) foi barata. Seu pai é muito pobre e precisa de dinheiro. Ela vai trabalhar na minha casa e eu não vou agredi-la. Vou tratá-la como parte da minha família, serei gentil", declarou o comprador à emissora.

Mas, apesar da afirmação, ao entregar a menina ao homem, o pai da criança disse: "Essa é sua noiva. Tome conta dela - você é responsável por ela agora. Por favor, não bata nela", reportou a imprensa estrangeira.

Qorban cumprimentou Abdul e pegou Parwana pelo braço. A menina, que tinha o sonho de ser professora, ainda tentou prender os pés ao chão, mas acabou arrastada até um carro, que esperava em frente à casa da família.

Em teoria, o casamento com crianças abaixo dos 15 anos é ilegal no Afeganistão, mas uniões deste tipo são comuns, especialmente nas áreas mais rurais do país. Em 2018, um levantamento da Unicef indicou que os matrimônios infantis tinham apresentado queda de 10% em 5 anos, com a organização elogiando algumas ações do governo, agora deposto.