Rússia e Ucrânia não fecham acordo para cessar-fogo e blindados cercam Kiev
Colaboração para o UOL, em Brasília *
10/03/2022 14h56
Os chefes da diplomacia da Rússia e da Ucrânia não conseguiram concretizar um acordo para um cessar-fogo, em seu primeiro encontro presencial hoje, após duas semanas da ofensiva militar russa, que continua avançando e chega aos portões de Kiev.
"Queríamos obter um cessar-fogo de 24 horas. Lavrov disse que Moscou queria falar de corredores humanitários", afirmou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, após o encontro com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, em Antalya, sul da Turquia.
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O chanceler ucraniano declarou que a Rússia pretende "continuar sua agressão até a rendição da Ucrânia".
"Escutei hoje que o cessar-fogo está vinculado, por parte da Rússia, ao respeito das exigências manifestadas pelo presidente (Vladimir) Putin à Ucrânia", acrescentou.
"Mas a Ucrânia não se rendeu, não se rende e não se renderá", insistiu, em declaração aos jornalistas.
- Rússia "não atacou a Ucrânia" -Apesar de não ceder em suas posições, os dois ministros afirmaram que desejam seguir negociando.
Lavrov disse que o país está disposto a continuar conversando no mesmo formato dos três primeiros encontros em Belarus e que uma reunião entre Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está descartada no momento.
Questionado por jornalistas após o encontro, Lavrov afirmou que a "Rússia não planeja atacar outros países e não atacou a Ucrânia", e sim respondeu a "ameaças diretas" contra sua segurança.
O ministro também criticou o que chamou de "perigosas" entregas de armas dos países ocidentais a Kiev.
"Aqueles que enchem a Ucrânia de armas têm de entender, é claro, que carregarão a responsabilidade de seus atos", frisou.
Até agora, as negociações entre Kiev e Moscou resultaram em tréguas locais e na instauração de corredores humanitários para a retirada de civis. A Rússia foi, porém, acusada de não respeitar os acordos.
A Rússia mantém o cerco às grandes cidades ucranianas e centenas de civis tentam evitar os bombardeios em porões e abrigos improvisados. Em alguns pontos, a situação humanitária é crítica, de acordo com testemunhas.
- Rumo a Kiev -Segundo o Estado-Maior ucraniano, as forças russas continuam avançando para cercar Kiev, sem descuidar de outras frentes, como as cidades de Izium, Petrovske, Sumy, Ojtyrka e a região de Donestsk.
Blindados russos chegaram aos limites nordeste de Kiev nesta quinta-feira, passando pelos arredores norte e oeste.
A cinco quilômetros da capital, a cidade de Velyka Dymerka foi alvo de foguetes russos Grad.
Em duas semanas de ofensiva, metade da população de Kiev saiu, disse o prefeito, Vitali Klitschko. Nesta quinta-feira havia pouco menos de dois milhões de pessoas na capital.
Nesta quinta-feira, os corredores humanitários foram restabelecidos para a evacuação de civis em várias áreas especialmente afetadas pelos combates.
Pela manhã, um longo comboio seguiu para o noroeste de Kiev, partindo de cidades como Irpin ou Butcha.
Na quarta-feira, mais de 60.000 ucranianos foram evacuados de diferentes partes do país, segundo Zelensky.
- 'Crime de guerra repugnante' -A reunião dos ministros russos e ucranianos na Turquia aconteceu um dia depois do bombardeio contra um hospital infantil de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, um porto estratégico no Mar de Azov que está cercado pela Rússia.
Ao menos três pessoas, incluindo uma criança, morreram no ataque, segundo o balanço.
As imagens provocaram revolta internacional. A Casa Branca denunciou o uso "selvagem" da força e a UE classificou o ato como um "crime de guerra repugnante".
O chefe de Governo da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou que a Rússia "provavelmente" cometeu "crimes de guerra" por atacar a sociedade civil de una maneira indiscriminada.
O ministro russo das Relações Exteriores declarou que o local servia de base para um batalhão nacionalista.
"Todas as mulheres que iam dar à luz, todas as enfermeiras e todos os funcionários de apoio haviam sido evacuados", frisou o chanceler russo.
Pelo menos 71 crianças morreram na Ucrânia desde o início da invasão em 24 de fevereiro, anunciou nesta quinta-feira Liudmyla Denisova, encarregada dos direitos humanos no Parlamento ucraniano.
- Assistência e mais sanções -Desde o início da invasão, os Estados Unidos e os demais países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) apoiam Kiev, mas evitam um envolvimento direto no conflito. Na quarta-feira, Washington rejeitou, de maneira definitiva, a oferta da Polônia de enviar caças para as tropas ucranianas.
Ao mesmo tempo, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou um novo orçamento federal que inclui uma ajuda humanitária de quase US$ 14 bilhões para a Ucrânia.
O Ministério russo da Defesa acusou o governo americano de ter financiado um programa de armas biológicas na Ucrânia e disse ter encontrado evidências a esse respeito em laboratórios ucranianos.
"O objetivo destas pesquisas biológicas financiadas pelo Pentágono na Ucrânia era criar um mecanismo para a disseminação secreta de patógenos mortais", disse o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.
Na Rússia, as sanções ocidentais afetam cada vez mais a população. As gigantes japonesas Sony e Nintendo foram as empresas mais recentes que anunciaram a suspensão de suas atividades no país.
Putin alertou que as sanções podem causar um aumento na inflação mundial devido ao aumento dos preços dos alimentos e que a Rússia não poderá exportar fertilizantes suficientes. Por enquanto, disse o presidente, a Rússia manterá todas as suas entregas de hidrocarbonetos apesar do conflito.
Os líderes da União Europeia (UE) se reúnem nestas quinta e sexta-feiras em Versalhes, na França, para discutir a crise do ponto de vista da segurança e energia.
O Banco Central Europeu (BCE) já reduziu sua previsão de crescimento do PIB para a zona do euro em 2022 em 0,5%, enquanto elevou sua previsão de inflação em quase 2% devido ao impacto econômico da guerra na Ucrânia.
*As informações são da AFP