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Base secreta, túnel, submarino: onde 9 países guardam armas nucleares

Imagem do lançamento bem sucedido do míssil balístico intercontinental Agni 5, na Índia - DRDO/AFP
Imagem do lançamento bem sucedido do míssil balístico intercontinental Agni 5, na Índia Imagem: DRDO/AFP

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

28/03/2022 04h00

Apenas nove países do mundo contam com armas de destruição em massa. Dentre as principais potências, Rússia e Estados Unidos possuem 90% das 12.853 ogivas nucleares existentes no planeta. As ogivas são cargas explosivas, formadas por uma arma nuclear encapsulada na parte cilíndrica de um foguete, míssil ou projétil.

Embora o número exato do arsenal que cada país dispõe seja considerado segredo nacional, os dados são baseados em estimativas divulgadas em fevereiro deste ano pelo Bulletin of Atomic Scientists. As informações foram coletadas a partir do Stockholm Institute Peace Research e do US Departament of State.

Depois de Rússia e EUA, o poderio diminui. Em terceiro lugar, a China tem 350, seguida de França (290), Reino Unido (225), Paquistão (165), Índia (156), Israel (90) e Coréia do Norte (50). Ao todo, os países do Oriente, junto com a Rússia, somam 6.691 ogivas nucleares, enquanto os do Ocidente, incluindo Israel, contabilizam 6.155.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos EUA, Joe Biden - Angela Weiss e Alexey Druzhinin/AFP - Angela Weiss e Alexey Druzhinin/AFP
Juntos, Rússia e EUA detêm 90% das ogivas nucleares do planeta
Imagem: Angela Weiss e Alexey Druzhinin/AFP

Alvo de uma ofensiva russa que já dura um mês, a Ucrânia se desfez em 1994 desse tipo de armamento em troca de segurança e reconhecimento como nação recém-independente. À época, na esteira do colapso da URSS (União Soviética) em 1991, o país herdaria cerca de 3.000 armas nucleares deixadas por Moscou em seu território.

O governo ucraniano, contudo, decidiu aderir à desnuclearização: assinou o Memorando de Budapeste, acordo político que teve como signatários a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos após o fim da URSS.

Nos primeiros dias de guerra contra a Ucrânia, o líder russo já emitiu ordem para que seu comando militar coloque as forças nucleares em estado de "alerta especial", o nível mais elevado. Ele reagiu ao que chamou de "declarações agressivas" da Otan e diante das sanções financeiras anunciadas por países do Ocidente.

Entre os principais recursos bélicos à disposição de Putin está, por exemplo, o Poseidon, um drone submarino movido a energia nuclear, capaz de se deslocar a mais de um quilômetro de profundidade, a uma velocidade de 60 a 70 nós, permanecendo invisível aos sistemas de detecção, de acordo com uma fonte do complexo militar-industrial russo, citada pela agência oficial TASS.

O dispositivo equivale a um sistema antimísseis — incluindo mísseis antibalísticos e armas laser —, com uma bomba nuclear de cobalto que, ao explodir, provoca uma onda de tsunami com 500 metros. Segundo o governo russo, a arma tem potencial para "inundar as cidades costeiras dos Estados Unidos com tsunamis radioativos".

Mas, afinal, onde e como cada país armazena suas bombas nucleares? Embaixo da terra, em galpões, bunkers?

Embora se trate de informação estratégica, nos últimos anos imagens de satélites comerciais identificaram que potências como Coréia do Norte e Estados Unidos mantêm e avançam com bases secretas cada vez mais modernas. Em geral, esses locais funcionam com ampla infraestrutura de segurança, servindo tanto como pontos de armazenamento como centros de distribuição.

Veja como cada país armazena suas armas nucleares.

RÚSSIA

Número de ogivas: 5.977
Onde armazena: Imagens de satélite da empresa de tecnologia espacial Maxar revelaram, em abril de 2020, o avanço de bases militares na costa ártica do país, junto com instalações de armazenamento subterrâneo para o Poseidon e outras novas armas de alta tecnologia. A estrutura foi construída pela União Soviética nos anos 50 e reformada em 2015

EUA

Número de ogivas: 5.550
Onde armazena: Atualmente, a Força Aérea dos Estados Unidos armazena 450 mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), localizados principalmente nos estados do norte das Montanhas Rochosas e as Dakotas. Mas, desde a década de 1950, o país hoje comandado por Joe Biden também mantém armas nucleares na Europa, conforme acordo firmado pós-criação da Otan. Embora a organização não divulgue oficialmente a quantidade de armamentos, a FAS (Federação de Cientistas Americanos) e o Centro de Controle e Não Proliferação de Armas apontam que há ao menos cem bombas nucleares americanas distribuídas por seis bases aéreas de cinco países da Otan assim dispostas:

  • 15 bombas em Kleine Brogel, na Bélgica
  • 15 bombas em Büchel, na Alemanha
  • 20 bombas em Aviano, na Itália
  • 15 bombas em Ghedi, na Itália
  • 15 bombas em Volkel, na Holanda
  • 20 bombas em Incirlik, na Turquia

Ao redor da Base Aérea de Büchel, no sudoeste da Alemanha, os EUA possuem dezenas de hangares camuflados, a exemplo de depósitos subterrâneos, que guardam bombas nucleares da época da Guerra Fria.

Os americanos também mantêm um aeródromo perto da fronteira com a Ucrânia que funciona como base militar secreta. O local se tornou o centro de embarque de armas enviadas pelo governo americano e outros membros da Otan para o país do presidente Volodymyr Zelensky em meio à invasão russa. Para proteger os carregamentos, a localização do centro permanece sob segredo.

CHINA

Número de ogivas: 350
Onde armazena: No ano passado, imagens de satélite capturadas por pesquisadores do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação em Monterey, na Califórnia, trouxeram à tona uma construção subterrânea em andamento em um deserto na parte mais ocidental da China. Para os pesquisadores, ali estão silos ou tanques com capacidade para abrigar cerca de 110 mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs, na sigla em inglês).

Silos de mísseis são uma instalação subterrânea, geralmente no formato de um cilindro na posição vertical, que armazena esses mísseis e servem para protegê-los e lançá-los.

À época, um mês antes da descoberta e também por meio de fotos de satélites, detectou-se a construção de outro silo nas proximidades de Yumen. Conforme estimativa da FAS (Federação de Cientistas Americanos), o país asiático poderia armazenar no local até 120 mísseis nucleares.

FRANÇA

Número de ogivas: 290
Onde armazena: País não reconhece publicamente seu programa. Especialistas afirmam, porém, sua força de dissuasão nuclear estratégica consiste, basicamente, na utilização de submarinos de mísseis balísticos.

REINO UNIDO

Número de ogivas: 225
Onde armazena: As forças nucleares do Reino Unido estão no mar. Mesmo com estratégia bélica sob segredo de Estado, sabe-se que o país possui quatro submarinos de mísseis balísticos de potência nuclear cujo modelo Vanguard foi projetado no período da Guerra Fria. Cada um deles carrega até 16 mísseis e se revezam em patrulha constante.

PAQUISTÃO

Número de ogivas: 165
Onde armazena: As armas de destruição em massa do Paquistão são desenvolvidas e armazenadas em usinas nucleares erguidas no país com a ajuda chinesa. Nos últimos anos, o país avançava na construção de reatores de produção de plutônio para bombas atômicas. Os equipamentos possuem torres de refrigeração. A construção dessas torres foi iniciada em 2006.

ÍNDIA

Número de ogivas: 156
Onde armazena: Base Industrial de Defesa da Índia, anteriormente conhecida como Complexo Industrial-Militar, onde são construídos submarinos nucleares autóctones.

ISRAEL

Número de ogivas: 90
Onde armazena: Israel não assume publicamente que possui armamento nuclear. Estima-se, contudo, que o país tenha hoje cerca de 90 ogivas e material para desenvolver até 200 desses dispositivos.

COREIA DO NORTE

Número de ogivas: 50
Onde armazena: O país do ditador Kim Jong-un mantém armazenagem subterrânea de ogivas nucleares próximas às bases de lançamento de mísseis. Em 2018, imagens feitas por satélites comerciais identificaram ao menos 16 bases ocultas. Entre elas está a base de mísseis chamada Sakkanmol, a pouco mais de 80 quilômetros da Zona Desmilitarizada.

Segundo relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, que reúne um grupo de pesquisadores em Washington (EUA), o local possui dormitórios, áreas de segurança, depósitos de manutenção bem como túneis subterrâneos que escondem mísseis móveis e seus caminhões para transportá-los.

A base está fincada em um estreito vale de montanha numa área de 7,7 km². Cada entrada de túnel, diz o relatório, é protegida por um monte de pedras e terra com cerca de 18 metros de altura e duas portas abrindo para fora com cerca de 6 metros de largura. Eles servem para proteger as entradas de túneis de ataques de artilharia e aéreo.

O documento mostra que a base de Sakkanmol esconde sete extensos túneis que podem acomodar até 18 transportadores para mísseis. Cada um é geralmente equipado de uma ogiva.