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Por que teste nuclear da Coreia do Norte parece ser tolerado? Há riscos?

O líder norte-coreano Kim Jong-un observa o lançamento de um míssil - KCNA via Reuters
O líder norte-coreano Kim Jong-un observa o lançamento de um míssil Imagem: KCNA via Reuters

Colaboração para o UOL

09/04/2022 04h00

Enquanto as atenções estão na guerra da Rússia com a Ucrânia, testes polêmicos —e arriscados— são feitos com frequência pela Coreia do Norte, que lança mísseis e se equipa com armas potentes. O regime de Kim Jong-Un disparou até um novo tipo de míssil balístico intercontinental de pleno alcance, considerado gigantesco. Mas por que isso parece ser tolerado com paciência pelo mundo?

A professora Danielle Ayres, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explicou que é compreensível que nesse momento os testes da Coreia do Norte com mísseis balísticos internacionais estejam ganhando menos atenção, porque o conflito Rússia e Ucrânia é o tema principal da agenda internacional e demanda atenção redobrada da comunidade internacional.

Mas ela não vê tolerância. "Existem sanções contra esse país para que acabe com seu programa nuclear, como uma resolução (Resolução 2397 de 2017) do Conselho de Segurança da ONU, no sentido de condenar e aplicar medidas", ressaltou. "Apesar de não estar na mídia de forma mais efetiva, esse assunto é de extrema relevância e importância para a ONU e para todos os principais países ocidentais, como Estados Unidos, Reino Unido e Europa como um todo".

Vale lembrar que Rússia e China são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e possuem poder de veto, logo poderiam ter vetado essa resolução e não o fizeram.

"Como não se evitou preteritamente que a Coreia do Norte tivesse armamento, fica muito difícil a comunidade internacional evitar que esse país utilize desses recursos para propagar poder no cenário internacional", pontuou.

Mas qual o objetivo dos testes?

Testes de mísseis importam pela mensagem que eles passam, reforça Eugenio Diniz, professor de Relações Internacionais da PUC Minas. Neste caso, a ideia de que o país está efetivamente engajado em aprimorar sua capacidade e, portanto, pouco preocupado com as possíveis consequências negativas de suas atividades.

A retórica do líder norte-coreano segue a dos demais países possuidores desse tipo de armamento. Ou seja, ele tenta demonstrar ao oponente o poder que tem, de modo que seu oponente não pense em atacá-lo, pois se o fizer será retaliado com igual ou maior força.

Segundo Diniz, paradoxalmente, os países adotam comportamentos benéficos para a Coreia do Norte e desviam de retóricas que possam ser consideradas provocações, afim de evitar consequências desastrosas.

Os testes, diz o professor, servem também para:

  • avaliar o desempenho dos sistemas dos mísseis, principalmente os de propulsão e de guiagem, e, a partir dos resultados, aprimorá-los.
  • demonstrar o quanto já se progrediu em termos de desempenho dos mísseis.

Avanços significativos no alcance de mísseis podem fazer com que sejam capazes de atingir alvos ou países que antes não lhes eram vulneráveis, o que claramente aumenta o grau de tensão.

"Nesse sentidos, os testes podem ser uma faca de dois gumes, pois um resultado inferior ao esperado pode revelar dificuldades que os programas encontram e indicar maneiras pelas quais outros países poderiam dificultar novos avanços", ressaltou.

Líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, em estação ferroviária no Vietnã - Reuters - Reuters
Pouco se sabe sobre os planos e estratégias do país de Kim Jong-Un
Imagem: Reuters

O perigo de saber pouco

Ayres afirma que a preocupação deveria ser não apenas pela Coreia do Norte, mas por todo e qualquer país que desenvolve armamentos de destruição em massa.

A Rússia atualmente é tida como inimiga do Ocidente, tendo em vista suas ações na Ucrânia. "Já a China, apesar de estar no conflito, não condena as ações da Rússia, o que faz com que países ocidentais tenham receio sobre seu rechaço ao conflito e possível apoio a ações russas".

Segundo ela, ter mais um país aliado da Rússia e China fazendo testes de mísseis representa, sim, uma ameaça efetiva a todo o esforço ocidental em prol de apaziguar o conflito da Rússia e condenar o uso de armamentos de destruição em massa, em especial os nucleares.

O mundo sabe muito pouco sobre o que se passa dentro da Coreia do Norte e quais seus planos internacionais, assim, o desenvolvimento de armas de destruição em massa e seus possíveis testes são ações que provocam grande insegurança em todo o sistema internacional
Danielle Ayres

Ela elencou três questões fundamentais, que não poderão ser ignoradas por muito tempo:

  • a resolução da ONU proíbe a Coreia do Norte de fazer esses tipos de teste e de desenvolver armamento nuclear;
  • a Coreia do Norte é um regime ditatorial e, ao possuir armamentos nucleares, pode ser efetivamente uma ameaça ao mundo e aos parceiros ocidentais no Oriente, especificamente Coreia do Sul e Japão;
  • a Coreia do Norte é parceira da Rússia e da China.