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O que se sabe do naufrágio do Moskva: as versões de Rússia, Ucrânia e EUA

Foto de arquivo mostra oficiais da marinha russa no convés do Moskva no porto de Sebastopol, na Crimeia - AFP
Foto de arquivo mostra oficiais da marinha russa no convés do Moskva no porto de Sebastopol, na Crimeia Imagem: AFP

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

16/04/2022 13h00

Na quinta-feira (14), a Rússia sofreu uma importante baixa: o naufrágio do navio Moskva, considerado um símbolo do poderio militar do país. Na guerra com a Ucrânia, a embarcação —um lança-mísseis de 12,5 mil toneladas e 186 m de comprimento— desempenhava um papel estratégico para a conquista de portos ucranianos, como o de Mariupol, no mar de Azov.

A Rússia afirma que o navio pegou fogo e afundou após um incêndio na sua própria munição, enquanto a Ucrânia assume a autoria de ataques que levaram à perda da embarcação. Os Estados Unidos corroboram a versão ucraniana. Nenhuma das versões pode ser confirmada de forma independente.

Início do incêndio e naufrágio

Todo o imbróglio com o Moskva começou na noite da última quarta-feira (13) (do fuso de Kiev), quando fontes da União Europeia e autoridades ucranianas afirmaram que mísseis antinavio, do tipo Neptune, foram lançados pela Ucrânia em direção ao mar Negro.

Somente na manhã da quinta-feira (14), a Rússia assumiu que a embarcação estava pegando fogo, e, desde então, insiste na versão que foi a partir de um incêndio na munição que estava dentro do navio, e não um ataque externo.

Ao longo do dia, autoridades observaram como o Moskva iria se comportar após o incêndio. Por volta das 14h (horário local —8h, no horário de Brasília) da quinta, o Comando Sul das Forças Armadas da Ucrânia anunciou: o navio havia afundado.

Apenas às 22h (horário local) de quinta, a Rússia confirmou o naufrágio da embarcação "devido a condições de tempestade durante o reboque para o porto de Sebastopol", segundo o Ministério da Defesa.

Também não se sabe ao certo as condições da tripulação do navio, de cerca de 500 militares.

Os russos afirmam que toda a tripulação foi evacuada. Já a Ucrânia sustenta que embarcações foram enviadas para auxiliar na evacuação do navio, mas foram atrapalhadas por uma tempestade e que não houve retirada do navio.

Detalhe do lança-mísseis russo Moskva quando estava no mar Negro - Denis Sinyakov/Reuters - Denis Sinyakov/Reuters
Detalhe do lança-mísseis russo Moskva quando estava no mar Negro
Imagem: Denis Sinyakov/Reuters

O jornal ucraniano de Pravda divulgou informações de satélite, a partir do site Naval News. De acordo com análise das imagens em infravermelho, a primeira grande explosão aconteceu às 6h52 (horário local), na quarta, quando vários navios russos estavam próximos à embarcação atingida.

A posição do Moskva, segundo as análises, corrobora a versão de que houve ataque por parte da Ucrânia, uma vez que a embarcação estava na área alcançada pelos mísseis.

O que dizem os EUA

Os EUA corroboram a versão ucraniana. De acordo com um funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o navio afundou após ser atingido por dois mísseis.

O funcionário classificou o ocorrido como um "duro golpe" para a Rússia, de acordo com a agência de notícias AFP. "Estimamos que [o navio] foi atingido por dois [mísseis] Neptunes", disse aos jornalistas o funcionário, que pediu anonimato.

O funcionário americano não confirmou, contudo, a versão de que o exército ucraniano teria distraído a defesa do Moskva com um drone em uma das laterais do barco, enquanto os mísseis de cruzeiro antinavio Neptune o atingiam pelo outro lado.

"Acreditamos que houve vítimas, mas é difícil saber quantas", disse. A fonte também informou, sempre de acordo com a AFP, que outros navios russos ajudaram a evacuar a embarcação.

O funcionário acrescentou que, em razão da Convenção de Montreux, "a Turquia não autoriza as embarcações de guerra a entrar no mar Negro, e [os russos] não poderão substituí-lo por outro navio da classe Slava".

Impacto da perda do navio

Na avaliação do Reino Unido, o naufrágio de Moskva é a segunda perda considerável pela Rússia durante a guerra na Ucrânia, o que pode obrigá-la a "rever sua postura marítima".

A inteligência britânica destaca que, em 24 de março, o navio Saratov, da classe Alligator, também foi inutilizado. O Saratov foi atingido por um grande incêndio e destruído, mas não chegou a afundar.

De acordo com o jornal The New York Times, o naufrágio de Moskva é a perda naval mais importante desde 1982, quando a Argentina afundou o navio militar britânico Sheffield e atingiu outras embarcações na Guerra das Malvinas.

O navio mais importante da frota russa no Mar Negro, o Moskva -  REUTERS/Alexey Pavlishak -  REUTERS/Alexey Pavlishak
O navio mais importante da frota russa no Mar Negro, o Moskva
Imagem: REUTERS/Alexey Pavlishak

Além da perda política e militar, não foi descartado um possível impacto nuclear.

No Facebook, Andrii Klymenko, gerente de projetos do Instituto de Estudos Estratégicos do Mar Negro, chamou a atenção para a possibilidade de duas ogivas nucleares estarem a bordo do Moskva.

"Isso pode ser novidade para muitos, mas é um navio que carrega armas nucleares", ressaltou.

Klymenko chama a atenção para a necessidade de encontrar as supostas ogivas e entender onde exatamente houve explosão no navio.

Após perder seu principal navio, a Rússia prometeu intensificar os ataques à capital ucraniana, Kiev. Os ataques russos na região têm sido raros desde o final de março, quando as tropas saíram da capital para se concentrar no leste ucraniano.

"O número e a magnitude dos ataques com mísseis em locais de Kiev aumentarão em resposta a todos os ataques e sabotagens do tipo terrorista realizados em território russo pelo regime nacionalista de Kiev", disse ontem o Ministério da Defesa da Rússia.

Desde então, explosões têm sido registradas no entorno da cidade. Uma oficina e fábrica de mísseis antiaéreos e antinavio foi bombardeada no distrito de Vasilkiv, sudoeste de Kiev.

Neste sábado (16), o prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, afirma que ao menos uma pessoa foi morta nas explosões mais recentes no distrito de Darnytskyi. Ele também fala em feridos, que ainda estão sendo contabilizados e atendidos em um hospital da região.

Como era o navio

Segundo agências de notícias russas, o Moskva estava armado com 16 mísseis de cruzeiro antinavio, conhecidos como P-1000 Vulkan, que têm alcance de ao menos 700 km.

A embarcação iniciou suas operações em 1983. Foi usada na guerra da Síria, em 2015, como proteção naval para a base aérea de Hmeimim das forças russas, e em outras operações militares. Além disso, tinha uma série de armas antissubmarino, lança-foguetes, canhões e torpedos.

De acordo com a inteligência britânica, o Moskva era um dos três únicos cruzadores da classe Slava na marinha russa. Os britânicos afirmam que o navio foi amplamente reformado, em busca de melhora na sua capacidade, e que só retornou ao status operacional em 2021.

Segundo a agência de notícias russa Ria Novosti, foi reformado duas vezes e modernizado, a última vez entre 2018 e 2020.

A revista Forbes calcula que o navio seja estimado em US$ 750 milhões, com base no valor da reforma e em uma outra embarcação da mesma classe.

Ele ganhou notoriedade no início da guerra, quando participou de um ataque à Ilha das Serpentes, na fronteira romena, no qual 19 marinheiros ucranianos foram capturados e trocados por prisioneiros russos.