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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Parlamento da Finlândia aprova pedido de adesão à Otan; Suécia assina carta

Do UOL*, em São Paulo

17/05/2022 05h55Atualizada em 17/05/2022 12h25

Após dois dias de debates, o Parlamento da Finlândia aprovou hoje a proposta do governo para que o país se candidate a entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O governo formalizou a intenção de entrar na aliança militar no domingo (15), mas precisava da aprovação do Legislativo.

Também nesta terça, a ministra sueca das Relações Exteriores, Ann Linde, assinou a carta em que o país irá solicitar a adesão à Otan. O pedido sueco, porém, deverá ser encaminhado à aliança militar junto com a Finlândia, país vizinho, o que está previsto acontecer nos próximos dias.

Para ingressar na organização, os dois países precisam da aprovação unânime dos Estados-membros, e o único a se opor publicamente é a Turquia. No entanto, os outros integrantes da aliança já se mostraram confiantes de que podem convencer o governo turco a não vetar Finlândia e Suécia.

O movimento dos dois países é decorrente da guerra russa no território ucraniano, que hoje entrou em seu 83º dia. A Ucrânia sofreu ataques em uma cidade a 75 quilômetros de Kiev, capital do país, e na região de Lviv, ao oeste, já perto da fronteira com a Polônia.

E, no momento em que Finlândia e Suécia dão andamento ao processo para ingresso na Otan, a Rússia decidiu sair do Conselho dos Estados do Mar Báltico. Do grupo, com 11 Estados-membro, apenas Finlândia, Suécia e Rússia não integram a Otan, quadro que agora deve mudar com as candidaturas sueca e finlandesa para ingressar na aliança militar.

Segundo o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, a organização se tornou um "instrumento de políticas" contra Moscou e de "russofobia". "Nossa presença no CBSS é contraproducente", acrescentou.

finlandia - Antti Aimo-Koivisto/AFP - Antti Aimo-Koivisto/AFP
O parlamento finlandês aprovou a adesão à Otan com um resultado de 188 votos a favor
Imagem: Antti Aimo-Koivisto/AFP

Finlândia aprova

O Parlamento finlandês autorizou o pedido do governo para que o país entre na Otan após a Comissão de Assuntos Externos ter indicado hoje que aprova a entrada na aliança militar, ao dizer que "a situação [na Ucrânia] exige medidas para reforçar a segurança da Finlândia".

"A política externa de longa data da Rússia, baseada na força militar, e o objetivo declarado de uma estrutura de segurança baseada na divisão de interesses na Europa, ganhou uma nova dimensão com o lançamento da guerra de agressão contra a Ucrânia", destacou a comissão.

Foram 188 votos a favor da aprovação do relatório da comissão, com oito votos contrários. "O Parlamento também exige que receba informações atualizadas sobre o andamento do pedido de adesão", disse a área de comunicação do legislativo finlandês, citando uma demanda que estava no relatório da comissão.

O texto da comissão indicou que, na Otan, "o efeito preventivo da defesa da Finlândia seria consideravelmente maior do que atualmente, pois seria respaldado pelas atuações de toda a aliança".

"No contexto de uma significativa deterioração da segurança, considerada de longa duração, a Comissão considera importante para este efeito a confirmação da adesão à Otan. Das opções que aumentam a segurança, a adesão à Otan oferece uma forte proteção adicional para a segurança da Finlândia devido ao seu efeito de dissuasão militar", disse o relatório. "É uma solução que reforça a defesa da Finlândia e a defesa coletiva da Otan."

O relatório também rejeita a possibilidade de presença de bases da aliança militar ou de armas nucleares na Finlândia, umas das preocupações da Rússia. "A comissão afirma que é extremamente improvável que a Otan sequer proponha ou considere investir em armas nucleares na Finlândia", disse o texto, indicando que a aliança militar "visa um mundo livre de armas nucleares".

Carta "histórica" na Suécia

"Acabei de assinar uma histórica carta de indicação do governo sueco para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Nossa candidatura à Otan está agora oficialmente assinada", disse a ministra das Relações Exteriores do país, Ann Linde.

Segundo a chanceler, a candidatura sueca deve ser enviada junto com a da Finlândia nos próximos dias. "Não sabemos quanto vai durar [o processo de adesão], mas calculamos que pode levar até um ano", acrescentou a ministra.

A Suécia quer entrar na aliança militar para "garantir a segurança do povo sueco", como disse ontem a primeira-ministra, Magdalena Andersson.

Neutralidade quebrada

Suécia e Finlândia são integrantes da União Europeia, mas historicamente se mantiveram neutros entre o Ocidente e a Rússia. No entanto, a invasão à Ucrânia os fez repensar seu status de neutralidade, principalmente a Finlândia, que compartilha 1,3 mil quilômetros de fronteira com o território russo. A Suécia vinha se mostrando mais reticente, porém a adesão finlandesa a tornaria o único país do Mar Báltico fora da Otan.

A Finlândia, por sua vez, foi parte do Império Russo por mais de um século e conquistou sua independência em 1917. Os dois países compartilham hoje cerca de 1,3 mil quilômetros de fronteiras. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, decidiu não ingressar na Otan para não se indispor com a então União Soviética e depois com a Rússia, apesar de ter se tornado membro da União Europeia em 1995.

Líderes de Suécia e Finlândia terão um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na quinta-feira (19).

Ataques

Yavoriv, a cerca de 25 quilômetros do território polonês, teve um ataque contra a infraestrutura ferroviária, disse o chefe da administração militar de Lviv, Maksym Kozytsky. Não há relato de feridos. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou o ataque, feito com mísseis Kalibr.

Segundo a Rússia, no ataque, foram atingidos "carregamentos de armas estrangeiras e equipamentos militares dos Estados Unidos e países europeus, preparado para embarque para Donbass", área separatista no leste, principal foco da guerra russa neste momento.

Kozytsky disse ainda que um segundo ataque foi impedido, com três mísseis foram abatidos. Segundo ele, os disparos contra a área viriam do Mar Negro.

lviv - Ministério da Defesa da Ucrânia - Ministério da Defesa da Ucrânia
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que suas forças abateram mísseis que iriam para a região de Lviv, no oeste do país
Imagem: Ministério da Defesa da Ucrânia

Já na região de Chernihiv, norte do país, a cidade de Desna, que fica a 75 quilômetros de Kiev, foi atingida por mísseis. As autoridades regionais citaram mortos e feridos em decorrência do ataque, mas não informaram os números. A Rússia confirmou o ataque.

"Isso prova mais uma vez que eu digo constantemente: a guerra não acabou, a guerra não saiu da região de Chernihiv, a guerra não saiu das nossas cidades", disse o governador da região de Chernihiv, Vyacheslav Chaus.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Outra fronteira

O Ministério da Defesa da Ucrânia, em seu relatório de hoje, disse que as forças russas também fizeram um ataque na fronteira na região de Sumy, nordeste do país, já perto da Rússia. Os militares russos confirmaram o ataque.

Já em Kharkiv, região em que está a segunda maior cidade do país, a Defesa ucraniana apontou que "os principais esforços do inimigo se concentram em manter suas posições e impedir o avanço de nossas tropas".

azovstal - Ministério da Defesa da Rússia - Ministério da Defesa da Rússia
Combatentes ucranianos que estavam no complexo Azovstal, em Mariupol, renderam-se às forças russas
Imagem: Ministério da Defesa da Rússia

Azovstal

O Ministério da Defesa da Rússia disse que 265 combatentes ucranianos já deixaram o complexo Azovstal, que era o último ponto de resistência em Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia. Entre eles, 51 estavam "gravemente feridos".

Segundo a Rússia, eles foram encaminhados para Novoazovsk, também na região de Donetsk, a cerca de 45 quilômetros de Mariupol. Novoazovsk fica em área de separatistas pró-Rússia.

O governo ucraniano disse hoje que, após os feridos terminarem a recuperação, espera fazer uma troca de prisioneiros russos por eles.

Acredita-se que cerca de 600 soldados ainda estejam em Azovstal. O complexo tornou-se um símbolo de resistência, com centenas de combatentes entrincheirados em túneis subterrâneos e bunkers travando uma batalha de resistência para impedir que as tropas russas assumissem o controle total da cidade portuária, sitiada desde o início da guerra.

O Exército ucraniano disse que a defesa de Azovstal atrasou a transferência de 20 mil soldados russos para outras partes da Ucrânia e impediu Moscou de capturar a cidade de Zaporizhzhia.

"A guarnição 'Mariupol' cumpriu sua missão de combate", disse o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia em comunicado, acrescentando que os comandantes do unidades em Azovstal receberam ordens para salvar a vida dos soldados restantes. "Os defensores de Mariupol são os heróis do nosso tempo", acrescentou.

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O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov
Imagem: 23.dez.2021 - Natalia Kolesnikova/AFP

Guerra e paz

O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse hoje que "qualquer guerra termina em paz", segundo citação agência russa RIA Novosti. "Estou convencido de que qualquer guerra termina em paz, e este mundo será um mundo onde nossa voz será ouvida, onde estaremos confortáveis, onde estaremos seguros e onde estaremos confiantes sobre nossos próprios pés."

A declaração feita durante um evento nesta terça, no qual Peskov disse que os países ocidentais tentam isolar a Rússia do mundo. "Esta é uma guerra econômica". Ele também falou que avalia que o Ocidente estaria pronto para impedir a Rússia de viver da maneira que deseja.

"Às vezes, parece que a própria existência da Rússia é um irritante significativo para o Ocidente, e eles estão prontos para fazer qualquer coisa para nos impedir de desenvolver o que queremos e viver do jeito que queremos", disse, segundo a agência russa Tass. Para o porta-voz, "tudo vai ficar bem". "E estamos confiantes de que vamos vencer, vamos atingir todos os objetivos."

Negociações

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, afirmou que a Ucrânia "se retirou" das negociações com Moscou. Citado pela agência russa "Interfax", Rudenko declarou que, desta maneira, as negociações entre os dois países não vão acontecer." A Ucrânia praticamente se retirou do processo de negociação. As negociações não vão prosseguir", disse.

(Com DW, Ansa e AFP)