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Empresas alemãs veem refugiados como uma oportunidade

Voluntários recolhem alimentos doados para refugiados em estação de Munique, na Alemanha - Sven Hoppe/Efe
Voluntários recolhem alimentos doados para refugiados em estação de Munique, na Alemanha Imagem: Sven Hoppe/Efe

Markus Dettmer, Carolina Katschak e Georg Ruppert

05/09/2015 06h01

Said Hashimi está transpirando. Ele já passou duas horas reorganizando o depósito ao lado de seu escritório, montando armários de metal e carregando caixas para dentro e fora da sala.

O jovem de 18 anos do Afeganistão está em um programa de aprendizado há cerca de um ano para se tornar um encanador e instalador de calefação da Heizung-Obermeier, uma empresa de instalação de calefação localizada no centro histórico de Munique. Segundo ele, o trabalho nunca é tedioso. "Gosto dos meus colegas e trabalho com frequência em canteiros de obras."

Ele concluiu uma longa jornada para chegar aonde está hoje.

Hashimi é o mais velho de quatro filhos. O pai dele morreu na guerra no Afeganistão. Quando ele tinha 15 anos, Hashimi fugiu de Jalalabad, no nordeste do Afeganistão, e embarcou em uma jornada de cinco meses para Munique. Ele voou de Cabul para Teerã, e de lá ele viajou a pé ou de ônibus pela Turquia, Grécia e Itália antes de chegar à Alemanha. Às vezes ele fez parte de um grupo, às vezes esteve sozinho. Ele concluiu a jornada de mais de 6 mil quilômetros sem sua família.

Após chegar a Munique, ele recebeu assistência de um escritório local de bem-estar de menores. Como estrangeiro, inicialmente foi difícil encontrar um rumo. "Eu não conseguia entender ninguém", disse Hashimi, que agora fala alemão quase fluentemente. Após se formar no ensino médio com uma média alta de notas, ele concluiu um treinamento como pintor de automóveis, e depois um segundo treinamento na Heizung-Obermeier, onde recebeu uma oportunidade importante no ano passado. "Se ele quiser, ele também poderá concluir o trabalho aqui que precisa para se tornar um mestre de obras", diz o proprietário do negócio, Olaf Zimmermann.

'Peles de todas as cores são bem-vindas'

Há dois anos, Zimmermann notou que estava ficando cada vez mais difícil encontrar pessoal capacitado. Ele já empregava pessoas de outros países na época. "Nós tínhamos funcionários de toda a Europa. Peles de todas as cores são bem-vindas", diz Zimmermann. "O foco está no trabalho. Tudo mais não importa."

Zimmermann, que atualmente emprega dois imigrantes, diz que os problemas que ele encontra são com a burocracia alemã. Ele não sabe, por exemplo, se Hashimi será autorizado a permanecer na Alemanha assim que concluir seu aprendizado.

Hashimi é uma de milhares de crianças que ficam retidas na Alemanha ano após ano, com frequência enviadas por seus pais, na esperança de que encontrem uma vida melhor, recebam uma boa educação e se preparem melhor para o futuro. O número delas era estimado em 5 mil em 2013, mais de 10 mil no ano passado e agora está crescendo, juntamente com o número geral de requerentes de asilo, imigrantes e refugiados. O governo alemão está esperando até 800 mil requerentes de asilo apenas neste ano.

O afluxo imenso de estrangeiros cria desafios imensos para a sociedade. Muitas autoridades locais estão sobrecarregadas, e os albergues para refugiados, moradias temporárias e cidades de tendas estão superlotados. O sistema de bem-estar social e os orçamentos do governo se veem com bilhões em custos adicionais.

Um raio de esperança para a Alemanha?

Mas o afluxo também proporciona oportunidades para a economia alemã. Apesar do número oficial do desemprego ser de quase 2,8 milhões, a comunidade empresarial precisa urgentemente de trabalhadores. E cada refugiado ou imigrante que encontra trabalho se torna menos um dreno aos cofres públicos. A economia alemã é dependente da imigração, tanto da Europa quando de pessoas que entram no país devido aos direitos de asilo na Alemanha. Com o encolhimento da população alemã, as empresas não conseguem preencher muitas vagas de trabalho, e trabalhadores especializados são cada vez mais raros. Essa tendência será apenas exacerbada nos próximos anos. É um desdobramento que ameaça a futura prosperidade do país.

O fato é que a Alemanha se tornou um país de imigração desde meados dos anos 60, quando o número de trabalhadores convidados passou de 1 milhão. Todavia, o país ainda carece de uma lei moderna de imigração. Mas a Alemanha está começando a reconhecer que deve se valer dos conhecimentos daqueles que já estão no país. Nos últimos meses, o governo tem repetidamente apresentado portarias e emendas para facilitar a integração dos requerentes de asilo e refugiados no mercado de trabalho.

Todavia, com frequência é apenas uma coincidência quando pessoas como Jacob Sousani encontram trabalho. Em Damasco, o sírio tinha um salão de cabeleireiro, cinco funcionários, um apartamento de 70 metros quadrados, um carro e status social.

Tudo o que restou de sua antiga vida é uma lesão nas costas devido a um ataque com bomba.

Sousani fugiu da guerra civil síria. Sua odisseia de cinco meses fez com que passasse pelo Líbano, Turquia, Grécia e Itália até finalmente chegar a Dresden. Seu pai e dois de seus irmãos permaneceram em Damasco. Sousani não quer falar sobre o que aconteceu ao restante de seus irmãos.

Uma crescente escassez de mão de obra

É uma noite movimentada de quinta-feira no pequeno salão de cabeleireiro no qual ele trabalha atualmente, o Director's Cut, no elegante bairro de Neustadt, em Dresden. Um homem com sobrancelhas pretas espessas, ele está trabalhando em uma das cadeiras do salão, aplicando meticulosamente tinta nas raízes do cabelo de uma cliente. Ele está trabalhando no salão há mais de um mês e está vivendo na Alemanha há um ano. "É um salão famoso", diz Sousani.

Ele encontrou um novo lar, um apartamento e trabalho em Dresden. "Eu não achava que alguém me contrataria", diz Sousani. Mas o homem de 31 anos teve sorte, quando uma vizinha, que também é da Síria, disse ao proprietário Christoph Steinigen sobre Sousani. Após uma semana de teste, Steinigen lhe ofereceu um emprego. Sousani agora trabalha 20 horas por semana e frequenta uma escola para aprender alemão no período diurno. Ele respondeu 80% das perguntas corretamente na última prova que realizou ali. "Ele é realmente bom", diz Steinigen. "Minha única crítica é que os cortes dele poderiam ser um pouco mais modernos."

O setor de cabeleireiros não é o único com escassez de trabalhadores qualificados. Atualmente há perto de 46 milhões de pessoas em idade de trabalho na Alemanha, que teoricamente são capazes de trabalhar. Sem a imigração, esse número cairia para menos de 29 milhões em cerca de 30 anos. Mesmo se a idade de aposentadoria fosse elevada para 70 e o número de homens e mulheres na força de trabalho fosse igual, o total da força de trabalho só aumentaria em 4,4 milhões de pessoas.

Uma força de trabalho menor significa menos pessoas contribuindo para os sistemas de aposentadoria e saúde, menos pessoas consumindo e produzindo bens, menos pessoas pagando os impostos que pagam por escolas e construção de estradas. Menos pessoas também significa potencial de crescimento reduzido e menos riqueza.

É claro, diante do desenvolvimento tecnológico e digitalização da vida, é difícil prever as futuras necessidades da força de trabalho. Todavia, um estudo realizado pela Fundação Bertelsmann concluiu, em todos os cenários examinados, que não há como contornar a imigração. "Se a imigração líquida cair significativamente, o envelhecimento da sociedade criará problemas intratáveis para os sistemas de seguridade social e para o orçamento nacional", diz Lutz Schneider, da Universidade de Ciências Aplicadas de Coburg, que examinou as consequências da imigração para a Fundação Bertelsmann.

O mal alemão

A Alemanha será incapaz de preencher suas necessidades por meio do mercado de trabalho europeu, que permite liberdade de movimento de trabalhadores dentro da União Europeia. Por ora, a maioria dos imigrantes ainda vem dos países da UE, e os números foram especialmente altos nos últimos anos, por causa da expansão da UE para o leste e a crise econômica no Sul da Europa. Mas essa situação não continuará para sempre.

"Assim que as economias dos países atingidos pela crise se recuperarem, a imigração dos países da UE cairá a médio prazo", diz Schneider. Além disso, todos os países europeus estão sofrendo do mal alemão, ou o encolhimento e envelhecimento de suas populações. O economista Schneider prevê que o número anual de imigrantes dos países da UE cairá para 70 mil em 2050. "Por isso seremos ainda mais dependentes no futuro de pessoas imigrando de países de fora para trabalharem na Alemanha, pessoas que agora chegam à Alemanha principalmente como refugiados", diz Schneider.

A Alemanha precisa mais do que apenas acadêmicos altamente qualificados. Ela também precisa de indivíduos treinados com qualificações de moderadas a mínimas. Cerca de 1 milhão de vagas de trabalho foram criadas para estrangeiros nos últimos quatro anos em campos que não exigem treinamento formal: funcionários de apoio para casas de repouso, restaurantes e agricultura. O número de vagas de trabalho não preenchidas está crescendo constantemente e era próximo de 600 mil em julho.

Setores especializados já começaram a recrutar refugiados e imigrantes. Quando Christoph Karmann não está sentado em seu escritório no centro de Munique, ele está visitando escolas vocacionais, onde encontra jovens imigrantes com muitas perguntas. O que posso fazer? Que oportunidades terei? Como funciona o sistema de treinamento vocacional na Alemanha?

Como um dos dois chamados recrutadores da Câmara de Comércio e Indústria de Munique e Alta Baviera, Karmann coloca refugiados e imigrantes em empresas com programas de treinamento. As empresas bávaras que precisam de mão de obra qualificada estão precisando urgentemente de estagiários e trabalhadores. Há poucos meses atrás, a câmara de comércio escreveu para 7 mil empresas na Alta Baviera para perguntar se poderiam contratar um refugiado. Em resposta, ela recebeu ofertas para 1.200 vagas de estágio e treinamento.

Para combater a escassez de pessoal qualificado, as empresas e associações setoriais estão pedindo aos autores de políticas para, no mínimo, melhor utilizarem o potencial dos refugiados e imigrantes que vivem na Alemanha. A Daimler foi a primeira grande empresa a apelar aos legisladores para permitir que os refugiados começassem a trabalhar após um mês no país.

"É um desperdício de tempo valioso para os requerentes de asilo serem condenados à ociosidade durante a tramitação do requerimento", diz Ingo Kramer. O presidente da Confederação das Associações de Empregadores Alemães (BDA) diz que as regras devem ser mudadas para que os requerentes de asilo e imigrantes não ameaçados de deportação imediata tenham acesso mais rápido ao mercado de trabalho.

'Intervenção precoce'

O projeto de "Intervenção Precoce" da Agência Federal de Empregos, que visa integrar refugiados e imigrantes ao mercado de trabalho o mais cedo possível, está em andamento desde o início de 2014. A meta do projeto é determinar que competências, ferramentas e recursos adicionais são precisos para que ele realize seu trabalho da forma mais eficaz possível. Caçadores de talentos em 12 locais identificam os refugiados mais bem treinados e tentam colocá-los no mercado de trabalho.

Hannegret Deppe está sentada em seu escritório na agencia de empregos em Detmold, no noroeste da Alemanha, perto de Bielefeld. Hoje, ela tem dois horários com clientes, como os refugiados são chamados na agência. Branko Nastasic, cujo nome foi mudado pelos editores para proteção de sua privacidade, é da Sérvia, onde administrava um café e também era operário de construção.

Deppe conduz Nastasic passo a passo por um programa de computador. Ele sabe como instalar drywall, mas não como instalar janelas ou cuidar da parte elétrica. Deppe usa o programa para identificar o melhor empregador para seus clientes. Ela também auxilia os refugiados e imigrantes a se candidatarem a empregos, os ajudando a escrever cartas para empregadores potenciais e a preparar seus currículos.

A palavra "bem-vindo" aparece em inúmeras línguas na placa na estrada de seu escritório, ao lado das palavras "mantenha a calma" e "imigração é bacana". Deppe começou a trabalhar como voluntária para a Anistia Internacional aos 16 anos e enquanto cursava a faculdade de direito, a mulher de 41 anos trabalhou para um escritório de advocacia especializado em questões ligadas à lei de asilo e direitos dos estrangeiros.

Achando empregos para refugiados

Ela está tentando casar refugiados e imigrantes a empresas desde o início de março. Quando um requerente de asilo aparece pela primeira vez em seu escritório, ela reúne alguma informação básica: que escola a pessoa cursou e que tipo de treinamento ele ou ela concluiu em seu país de origem, e qual considera ser o emprego do seus sonhos. As pessoas que procuram pela ajuda dela com frequência apresentam trajetos de carreira menos lineares que os alemães.

Ela está ajudando no momento cerca de 50 refugiados, a maioria da Síria, Iraque e Líbano. Deppe até o momento só conseguiu vagas para poucos deles: um cozinheiro do Líbano, dois tapeceiros da Mongólia e um técnico em oftalmologia da Macedônia.

A falta de domínio da língua alemã costuma ser o maior obstáculo para os refugiados e imigrantes no mercado de trabalho. Mas para aprender alemão em um curso de integração subsidiado pelo governo, eles geralmente são obrigados a ter o status apropriado de residência. Os requerentes de asilo e refugiados que não enfrentam deportação têm o direito de buscar orientação em um centro de empregos e uma colocação no mercado de trabalho, mas não têm acesso aos cursos de integração. Isso, por sua vez, impede os centros de empregos de colocá-los com sucesso no mercado de trabalho –-no que se transforma em um círculo vicioso.

A imigração é atualmente regulada pela Lei de Imigração da Alemanha. Até mesmo os alemães com um diploma de direito têm dificuldade para entender a confusão de leis e portarias individuais, que é completamente incompreensível para os estrangeiros.

A "Visão Geral da Assistência aos Requerentes de Asilo e Refugiados" da Agência Federal de Empregos, fornecida na forma de uma tabela do Excel, lista 17 tipos diferentes de "permissão de residência", "licença de residência" e "tolerância" para refugiados e imigrantes. Para cada tipo, há diferentes regulações sobre quando são autorizados a trabalhar, a que cursos de assistência eles têm direito, sob que circunstâncias eles têm acesso ao crédito estudantil, pensão para crianças e pais, e por quantos meses ou anos devem ter vivido na Alemanha para se qualificarem. Além disso, refugiados e imigrantes são constantemente levados de uma agência de emprego e centro de emprego para outros.

Tudo isso custa tempo, dinheiro e paciência –-para o governo e seus funcionários, como também para os imigrantes e refugiados.

'Muito capacitada'

Leila Moghadam preencheu seu requerimento de asilo em outubro de 2013, mas então teve que esperar nove meses até ser autorizada a frequentar um curso de alemão. Agora ela está diante de grandes pães, bolos e pequenos chocolates. A iraniana amassa, assa e decora desde as 3h30 da manhã, quando seu expediente começa. A Wippler Bakery, onde ela trabalha, abre às 6h da manhã.

Moghadam conseguiu encontrar trabalho e algo que lembra uma família a 30 minutos do centro de Dresden.

Ela estudou ciência política no Irã. Ela também era dona de uma loja em Teerã, onde produzia e vendia embalagens para presentes, antes de fugir do país por motivos religiosos. A jornada dela para uma nova vida na Alemanha lhe custou cerca de 8 mil euros. Em troca, ela recebeu um visto e uma passagem aérea para Dortmund, no oeste da Alemanha. De lá, as autoridades a enviaram de um albergue para refugiados para outro, em Unna, Burbach, Chemnitz e Kamenz. Ela ainda não sabe o motivo.

Desde o início do ano, ela está morando em cima da padaria, em um apartamento que ela divide com outros estagiários. O apartamento de quatro quartos tem um banheiro comum e uma cozinha comum. Após concluir um curso de alemão, lhe foi oferecido uma vaga de treinamento na Wippler Bakery em novembro passado. A mulher de 33 anos concluiu o estágio em um mês.

Apesar de não ter licença de residência e não falar alemão muito bem, o dono da padaria, Michael Wippler, lhe ofereceu um estágio como padeira. "Ela é muito capacitada", diz Wippler. Ele acredita que o trabalho é a melhor forma de integração. "Leila está aprendendo a língua e se integrando à sociedade, e a empresa conta com uma funcionária capacitada."

Está cada vez mais difícil encontrar pessoas que apreciem a profissão, diz Wippler. No caso de Moghadam, ele percebeu imediatamente que ela gostava do trabalho. Esse é um motivo para ele querer ver decisões claras tomadas pelas autoridades, "porque isso encorajaria outras empresas a também contratarem um refugiado". Todo mundo merece uma chance, ele diz, "independente de ser refugiado ou não".

Moghadam sabe que teve sorte. "Outros refugiados passam quatro ou cinco anos à procura de trabalho sem nunca encontrar emprego", ela diz, enxugando algumas lágrimas. Wippler lhe dá um guardanapo e um tapinha paternal no ombro. O maior desejo dela é permanecer para sempre na Alemanha, ela diz. Mas a esta altura ela está apenas no status de "tolerada" por um ano e meio, o que significa que ela não enfrentará a possibilidade de deportação por pelo menos seis meses. Ela esperou 20 meses por uma audiência perante uma autoridade de imigração, e está aguardando por uma decisão desde julho.

Mas Moghadam não está disposta a simplesmente esperar para que seu futuro aconteça, o motivo para frequentar um curso de alemão todo dia depois do trabalho. Ela o paga com seu magro salário. Ela gostaria de abrir seu próprio café no centro de Dresden algum dia e diz que espera retornar ao Irã apenas quando for muito velha, "para que eu possa morrer lá".

O governo não têm muito conhecimento sobre pessoas como Leila Moghadam, o cabeleireiro de Dresden, Jacob Sousani, e o estagiário Said Hashimi em Munique, ou sobre os muitos estrangeiros que escolhem a Alemanha como refúgio, muitos dos quais querem ser cidadãos alemães, ao menos temporariamente. Mas ele sabe que, em média, eles são mais jovens do que a população alemã e imigrante que já está vivendo no país. Em 2014, 32% dos requerentes de asilo tinham menos de 18 anos, e metade de todos os requerentes tinha entre 18 e 35 anos. Mais homens do que mulheres estão chegando à Alemanha, especialmente de países como a Síria, países atormentados por guerra e perseguição política. Apenas um terço de todos os requerentes em 2014 eram do sexo feminino.

Polarização

Mas é aí onde a compreensão pelo governo da situação dos refugiados começa a rarear. "Não há nenhum estudo representativo sobre a estrutura de qualificação dos requerentes de asilo e refugiados", diz Herbert Brücker, do Instituto de Pesquisa de Emprego de Nuremberg, que analisou os dados existentes. A estrutura de qualificação dos requerentes de asilo e refugiados varia. Cerca de um quinto aparentemente conta com diploma superior, mas ao mesmo tempo, 50% a 60% não conta com treinamento profissional. "Geralmente não há nada entre esses dois extremos", diz Brücker. "A imigração que se enquadra na lei de asilo e envolve pessoas que chegam à Alemanha para se juntarem às suas famílias leva à polarização." O problema é que o mercado de trabalho alemão carece de pessoal habilitado com qualificações moderadas.

Nos últimos quatro anos, a Agência Federal de Empregos manteve uma "lista positiva" que visa abrir caminho para a imigração para trabalho de pessoas de fora da UE. A lista inclui mais de 20 grupos profissionais dentro de 77 profissões nas quais há escassez de candidatos a vagas, de instaladores de pára-raios e assistentes de depósitos refrigerados a enfermeiros e assistentes de oncologia.

Como a maioria dos economistas do mercado de trabalho, Brücker defende a promoção de imigração para trabalho mais agressivamente no oeste dos Bálcãs e redução dos obstáculos relevantes. Isso possibilitaria a concessão de direito limitado de residência a pessoas com treinamento profissional completo e garantia de emprego e de um salário mínimo. "O domínio médio da língua alemã naquela região provavelmente é maior do que em muitos outros países", diz Brücker.

Ainda há muitas oportunidades para melhorar a situação dos refugiados e imigrantes, e ao mesmo tempo reduzir as pressões sobre o mercado de trabalho. As pessoas que já vivem na Alemanha podem ser removidas do processo de asilo e receber o direito de residência se já tiverem um emprego garantido. As pessoas com alta probabilidade de permanecerem na Alemanha podem ser obrigadas a frequentar cursos de integração assim que chegarem, visando acelerar a integração. Também há outros ajustes que podem ser feitos para reconhecimento das qualificações profissionais, colocação no mercado de trabalho, educação e treinamento.

'Eu tenho um sonho'

A promoção da imigração para trabalho e recrutamento intensivo não resolverá o atual problema dos refugiados. Mas pode fornecer algum alívio. Acima de tudo, a imigração para trabalho é fundamental para uma imigração controlada, voltado ao futuro, que é inevitável na Alemanha.

Até meio ano atrás, Said Hashimi tinha que se apresentar à autoridade de imigração em Munique a cada seis meses para dar entrada a um requerimento, aguardar e então dar entrada a outro requerimento.

Agora o estagiário do Afeganistão está autorizado a permanecer temporariamente na Alemanha por três anos. Ele não sabe o que acontecerá depois disso, mas gostaria de permanecer em Munique.

Ele também tem um talento particular que poderia ajudar a assegurar que seu desejo se realize mais rapidamente do que para a maioria dos outros refugiados. Hashimi é um kickboxer, e neste ano foi campeão júnior alemão pela segunda vez. Mas como ele não tem passaporte, ele não pode participar de competições internacionais no exterior. Para resolver o problema, seu clube de kickboxing quer apoiá-lo em seu pedido de naturalização.

Hashimi, o menino que viajou sozinho do Afeganistão para Munique aos 15 anos, deseja competir pela seleção alemã no Campeonato Europeu.

Ele diz algo que soa familiar: "Eu tenho um sonho".