Mapa católico: a virada dos fiéis latinos e norte-americanos

M. Antonia Sánchez-Vallejo

Em Madri (Espanha)

Se no último século a população mundial quadruplicou, passando de 1,5 bilhão para quase 7 bilhões, a proporção de católicos se manteve estável, tanto em termos globais como na porcentagem que representam dentro da cristandade. Em 1910, os católicos eram 48% de todos os cristãos e 17% da população mundial (291 milhões); em 2010 representavam 50% dos cristãos e 16% dos habitantes da Terra (1,1 bilhão), segundo revela o relatório "A população católica global", do Centro Pew.

O que mudou, e muito, é sua distribuição geográfica: há um século tinham na Europa seu feudo (65%), seguido a grande distância pela América Latina (24%); hoje, são maioria na América e no Caribe (39% dos católicos de todo o mundo vivem nessa região) e na Europa representam apenas 24% do total mundial. Toda uma virada demográfica e geográfica parece alheia à preponderância europeia no conclave: 53% dos cardeais que elegeram o novo papa são do Velho Continente.

Nesses últimos cem anos, portanto, o catolicismo confirmou a etimologia da palavra: "católico" significa "universal", "geral". Os dados do Centro Pew refletem como em um período tão curto --para os séculos de história de sua fé-- se disseminaram pelo mundo, do Alasca à Oceania, em paralelo a seu declínio na Europa. O crescimento exponencial mais rápido ocorreu na África subsaariana (de 1% em 1910 para 16% atualmente; isto é, de 1 milhão para 171 milhões de pessoas) e na região da Ásia-Pacífico (de 5% para 12%; de 14 milhões para 131 milhões).

Os católicos da América do Norte aumentaram de maneira muito mais lenta (de 5% para 8% em 100 anos), e os do Oriente Médio, apesar da origem do cristianismo na região --berço das três grandes religiões monoteístas e graneleiro das igrejas orientais--, praticamente são os mesmos que há um século: não chegam a 1% da população e sua hemorragia não para por causa dos conflitos bélicos ou de matiz religioso.

Embora os dados relativos à América do Norte sejam aparentemente os mais discretos, se revestem de uma importância capital na distribuição da ordem católica. "O fenômeno do catolicismo nos EUA indiretamente marcou algumas tendências na expansão do catolicismo no mundo, porque salienta o rumo e a confiança da igreja fora de Roma", afirma o jesuíta Alfredo Verdoy, professor de História da Igreja na Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Comillas. "Muitas igrejas da América do Norte se converteram nos últimos anos do pontificado de Leão 13 em canteiros de missionários para a América do Sul."

Na repartição "urbi et orbe" dos católicos de Roma se destacam, segundo Verdoy, "os esforços missionários de Pio 10º", diz. "Mas é nos pontificados de Bento 15 e Pio 11 que essa difusão fica manifesta. Bento 15 escreveu uma encíclica missionária que salientava a importância de que os indígenas governassem sua própria igreja, e os convidava a formar-se em Roma, mas também em seus lugares de origem. Pio 11 ordena pela primeira vez, com estardalhaço, quatro bispos negros e chineses. Então a igreja vê claramente seu papel na África e na Ásia", conclui.

O ímpeto do século 20, depois que a igreja se recuperou do embate das revoluções liberais-burguesas das décadas anteriores, marca o início da expansão, à qual não são alheios fatores tais como a demografia --o envelhecimento da população pela queda vertiginosa da natalidade no Primeiro Mundo, graças à generalização dos métodos anticoncepcionais--, o desenvolvimento econômico de zonas alternativas (Ásia) ou a geopolítica, do redesenho geopolítico do mundo depois do fim da guerra fria aos grandes conflitos bélicos ou o processo descolonizador.

A Segunda Guerra Mundial freou em seco a expansão da igreja, até que o papa Pio 12 retomou a evangelização com um modelo de clara inspiração colonialista. "Com ele a igreja começou a se expandir pela África subsaariana sob o padrão das igrejas da França, Bélgica e Alemanha, e as sociedades missionárias que foram criadas nesses anos", explica Verdoy. "Na China e no Sudeste Asiático a expansão avança em paralelo ao crescimento demográfico e à pujança das economias nacionais: as classes populares se convertem em classes médias, e o catolicismo se enraíza."

O fenômeno migratório como epítome da globalização não é alheio tampouco à redistribuição do mapa católico e desempenha um papel primordial nos mais de 75 milhões de católicos dos EUA: 22,2 milhões (30%) nasceram fora do país, mais que o dobro da porcentagem total da população de origem imigrante. A maioria dos católicos estrangeiros que vive no país é latina.

 

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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