Paralisação econômica obriga o Brasil a empreender reformas estruturais

Carla Jiménez

Em São Paulo

A queda da arrecadação fiscal e do investimento privado aumenta a pressão sobre o próximo presidente para que adote medidas de ajuste e mude políticas

Nenhum especialista em estatísticas se atreve a aventurar neste momento quem ganhará a próxima eleição presidencial brasileira, no domingo - se Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), ou Aécio Neves, do mais conservador Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que aparecem praticamente empatados nas pesquisas.

Mas todos os economistas, de ambos os lados, concordam que, ganhe quem ganhar, o país enfrentará um ajuste amargo e que a primeira coisa que o novo presidente deverá fazer é fechar as contas públicas do Brasil.

A lenta marcha da economia brasileira, atolada atualmente em uma recessão técnica, não só afeta o empresário que vende menos ou o trabalhador que se vê inseguro diante de um futuro incerto e obscuro. Também sobrecarrega o governo (seja qual for sua cor), que arrecada menos. E o Brasil fechará este ano com um crescimento anêmico: no melhor dos casos, não superior a 0,7%.

Em seus quatro anos à frente do país, Rousseff tentou manter, à base de aumentar o salário mínimo e estimular o crédito barato, o nível de renda dos trabalhadores para alimentar a roda do consumo. Mas a fórmula já estava saturada e os empresários não conseguiram o mesmo lucro de anos anteriores.

O investimento caiu. Desde 2011, para estimular uma economia que já não crescia tanto quanto anos atrás, o governo Rousseff, intervencionista por natureza, concedeu subsídios à indústria a fim de manter o emprego, e manteve os juros dos bancos públicos em taxas artificialmente baixas para que o consumo e o investimento não fossem bloqueados. O primeiro funcionou: o desemprego ainda está em louváveis 5%; mas o segundo não totalmente.

Assim, a economia tornou-se o eixo da campanha eleitoral. Em todos os debates, Aécio Neves acusa Rousseff de ter levado o país à recessão e se propõe como o resgatador de uma economia gripada. Sua frase preferida é "voltar a crescer".

Neves recrimina a presidente por ter descuidado das obras públicas, isto é, não ter finalizado muitas delas, e por elevar a inflação a um nível perigoso, superior a 6,5%.

Rousseff se defende argumentando que a conjuntura internacional foi muito adversa. E replica que o Brasil foi um dos poucos países que, apesar do descalabro financeiro mundial, conseguiu gerar empregos e tirar pessoas da pobreza.

Contudo, a presidente reconhece que houve erros (já anunciou que substituirá seu criticado ministro da Fazenda, Guido Mantega), mas afirma que o país tem novamente prontas as bases para voltar a crescer quando a maré internacional melhorar.

"O senhor é um pessimista quando começa a falar de economia", ela atacou Neves no último debate televisivo. "Ora, eu não, senhora: são os números do FMI", replicou seu adversário.

As receitas econômicas dos dois candidatos para enfrentar esse período de ajustes não estão claras: nenhum dos dois as explicitou em seu programa, para economizar críticas antes da hora. Como alarde máximo, Rousseff sempre fala em preservar de qualquer maneira os empregos e Neves, em gerar novos postos de trabalho.

Na opinião de Toni Volpon, responsável por análises para a América Latina no banco Nomura Securities, a volta ao crescimento passa, quer se queira quer não, por uma elevação de impostos e o aumento do desemprego.

Esse especialista considera que Neves, de ideologia mais liberal, levará a cabo esse ajuste mais rapidamente, beneficiando-se do apoio dos mercados financeiros, muito mais inclinados a sua candidatura que à de Rousseff.

O professor Luiz Gonzaga Belluzo, economista de confiança do ex-presidente Lula, afirma, contudo, que ainda é possível contornar o ajuste à base de incentivar o investimento público e privado:

"Será um ano difícil, seja quem for o presidente. Mas quem quiser fazer um ajuste sem antes devolver o país à via do crescimento correrá atrás do próprio rabo, como os cachorros loucos". Na opinião desse especialista, uma onda de cortes como os que foram implementados na Europa seria um desastre para o crescimento.

Apoio a Rousseff prejudica Bolsas

A última pesquisa publicada na segunda-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo" mostrava uma ligeira tendência favorável à presidente Dilma Rousseff. Ela teria 52% dos votos válidos, enquanto o candidato social-democrata, Aécio Neves, deveria se conformar com 48%.

A diferença é tão pequena que se considera dentro da margem de erro, com o que os especialistas afirmam que os dois candidatos ainda se encontram em empate técnico.

as há mais de uma semana nesse empate técnico mandava Neves, e agora a tendência se inverte. Além disso, aumenta a porcentagem de pessoas que aprovam o governo Rousseff: passaram de 39% para 42%. E aumenta a rejeição a Neves: de 38% a 40%.

Os especialistas não se arriscam e afirmam que nada está decidido, e que no domingo qualquer dos dois pode ganhar. Mas os mercados, alérgicos a Rousseff por sua gestão muito mais intervencionista, fizeram notar sua inconformidade com a pesquisa. Na terça, a Bolsa de São Paulo caiu, assim que abriu, 3,8%. O real brasileiro também se depreciou 1,30%.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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