El País entrevista David Norris, senador ativista da causa gay na Irlanda

Pablo Guimón

Em Dublin (Irlanda)

"Não somos mais monstros, mas filhos e vizinhos", diz David Norris, senador e ativista que conseguiu a descriminalização da homossexualidade na Irlanda.

Ele é o intelectual que reabilitou o prestígio de James Joyce na Irlanda. Foi o primeiro cargo público eleito abertamente gay do país, é senador independente desde 1987 e se candidatou a presidente em 2011. Mas David Norris, 71 anos, passará à história como o homem que conseguiu a descriminalização da homossexualidade na Irlanda, depois de empreender um longo processo judicial que terminou com um pronunciamento do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em 1988. Cinco anos depois, a homossexualidade estava legalizada.

Ele recebeu "El País" em sua casa dois dias antes do referendo sobre o casamento gay, realizado nesta sexta-feira (22). Ele não pretende se casar, afirma. "Depois de tantos anos empurrando o barco, me esqueci de subir nele", lamenta. "Mas seria muito bonito vê-lo partir."

El País: O que mudou na Irlanda em todos esses anos?

David Norris: Nos anos 1950 e 1960, a Igreja Católica tinha um forte domínio sobre a política. Mas uma série de escândalos de abusos sexuais contra crianças eliminou sua autoridade moral. Outra mudança é que na Irlanda em que eu cresci havia uma emissora de rádio, nenhuma televisão e quase nenhum jornal estrangeiro. Agora a explosão da mídia derrubou os muros de isolamento. Por último, quando eu soube que era gay, pensei que fosse o único. Devido ao silêncio, não havia modelos de conduta. Agora já não somos vistos como monstros predadores, senão como vizinhos, tios, filhos.

El País: Como o senhor avalia a campanha?

Norris: Ela enriqueceu a conversa entre os gays e suas famílias e amigos. A parte dele não fala dos direitos das crianças, e a comissão do referendo se cansou de dizer que isso não tem nada a ver com o que está sendo votado. Fazem isso para confundir as pessoas. E as pessoas confusas votam 'não'.

El País: Joyce disse que a religião, a família e o nacionalismo oprimiam a sociedade irlandesa.

Norris: A Dublin de Joyce era uma cidade adormecida, paralisada. Agora é muito viva, e todas as grandes perguntas estão sobre a mesa, para serem debatidas pelos cidadãos. Somos uma sociedade mais aberta e livre que a de Joyce.

El País: Como o país mudará se ganhar o 'sim' hoje?

Norris: Será mais livre e aberto. Os jovens gays poderão respirar melhor. Os partidários do 'não' dizem que os direitos dos homossexuais estão protegidos pelas provisões de igualdade na Constituição. Mas essas provisões estavam lá quando pedi ao Estado para eliminar a lei que nos criminalizava. A Justiça dizia então que não havia nada desigual em mandar os gays para a prisão. Se ganhar o 'sim', os gays serão bem-vindos na sociedade irlandesa como cidadãos completos e iguais.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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