Para mexicanos, caixa automático é o lugar mais inseguro no país

David Marcial Pérez

Na Cidade do México (México)

  • Yuri Cortez/AFP

Pesquisa nacional sobre a percepção da segurança pública constata queda da confiança no Exército e na Marinha

Em alguns bancos do México é proibido falar ao telefone celular dentro das instalações. É uma medida de segurança para evitar que alguém mande mensagens para fora do tipo "o senhor grisalho de calça clara e camisa azul que vai sair agora acaba de retirar um monte de notas". A proibição pode parecer exagerada, até que se conhece como os mexicanos percebem o perigo de serem assaltados.

Para 81%, o caixa automático é o lugar mais inseguro do país, seguido das instalações bancárias, a rua e o transporte público, de acordo com uma pesquisa sobre a percepção da segurança pública apresentada nesta semana pelo Instituto Nacional de Estatísticas (Inegi).

O estudo, que avalia a opinião entre os maiores de idade durante os 12 meses do ano passado, revela que um em cada cinco mexicanos foi vítima de algum crime, mesmo índice dos resultados de 2013, mas acima do de 2012. Os Estados com maior porcentagem de cidadãos que reconheceram ter sido alvo da criminalidade são México, Baixa Califórnia e Distrito Federal, sendo os crimes mais frequentes roubo, extorsão e fraude.

A sensação de impunidade e desamparo dos cidadãos diante do crime fica clara na conhecida como "cifra negra". Isso quer dizer o número de crimes que ninguém denuncia e que ninguém investiga: 92,8% ficaram no limbo durante o ano passado, porcentagem semelhante à obtida nos anos anteriores. Entre as respostas dos pesquisados sobre por que não denunciam os crimes destacam-se os que consideram que é uma perda de tempo ou a desconfiança das autoridades.

"Devido ao problema que representa a chamada 'cifra negra' nos registros de crimes, as pesquisas de vitimização se constituem como alternativa para fazer uma aproximação mais real do fenômeno da criminalidade", aponta o estudo.

As instituições que se saem melhor nos índices de confiança são novamente o Exército e a Marinha. Os dois corpos militares estão na linha de fogo desde 2006, quando o presidente Felipe Calderón decidiu tirar as tropas dos quartéis e colocá-las para patrulhar as ruas na chamada guerra ao narcotráfico.

A porcentagem caiu levemente, entretanto, para as duas instituições, que ainda conservam índices de apoio popular em torno de 80%. Mais forte foi o aumento que os mexicanos notaram nos níveis de corrupção desses órgãos militares: 25% dos cidadãos consultados consideram que o Exército é corrupto e 17%, a Marinha.

No último ano, episódios como as execuções extrajudiciais em Tlatlaya ou a reação branda do Exército no caso dos 43 estudantes de Guerrero provocaram uma brecha em sua credibilidade, acompanhada de uma grave crise de direitos humanos no país.

"É a primeira vez que isso acontece na história das cinco pesquisas que apresentamos, que o Exército ou a Marinha caiam tanto na percepção de corrupção como na confiança por parte dos cidadãos", disse Adrián Franco, diretor-geral de estatísticas do governo do Inegi, durante a apresentação dos resultados.

Os corpos do Estado percebidos como mais corruptos são a polícia de trânsito e a polícia municipal, com índices acima de 60%.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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