Melania Trump pode ser a 1ª estrangeira a ser primeira-dama desde o século 19

Amanda Mars

  • Mandel Ngan/ AFP

    Melania Trump, mulher de Donald Trump, faz discurso durante campanha do candidato republicano na Pensilvânia

    Melania Trump, mulher de Donald Trump, faz discurso durante campanha do candidato republicano na Pensilvânia

Melania Trump apareceu pouco na campanha. O tropeço na convenção republicana de julho, quando se descobriu que havia plagiado parte de um discurso de Michelle Obama, a fez retrair-se ainda mais. Mas na última quinta-feira (3) a ex-modelo ressurgiu em seu primeiro discurso depois daquele fiasco para se postular como a próxima primeira-dama dos EUA.

Ex-modelo, nascida na antiga Iugoslávia há 46 anos, Melania (Knauss de solteira) pronunciou um discurso calmo e conciliador, a antítese do verbo de seu marido, o candidato republicano, Donald Trump. Ela reivindicou o ideal do ex-presidente republicano Ronald Reagan do esplendor americano e apelou ao entendimento: "Temos de encontrar uma forma melhor de conversar, de discordar, de nos respeitarmos", disse no ginásio esportivo de Berwyn, uma pequena cidade na Pensilvânia.

Melania pode ser analisada como um contrapeso de seu marido: se o candidato é falastrão e agressivo, sua mulher é discreta e tranquila; se Trump agitou os sentimentos do nacionalismo branco americano, Melania é uma imigrante eslovena que ainda fala com sotaque. Paradoxalmente, a ex-modelo encarna exatamente o coletivo com o qual o candidato tem mais problemas: mulher e estrangeira. E se Trump ganhar haverá uma primeira-dama nascida fora dos EUA pela primeira vez desde a inglesa Louisa Adams (mulher de John Quincy Adams, que foi presidente de 1825 a 1829).

Nas confusões causadas por Trump por conta da imigração e do sexismo, a aspirante a primeira-dama saiu em socorro do marido: sim, admite que imigrou aos EUA, mas de forma legal; e seu marido falou de forma sexista, talvez, mas em um determinado contexto, argumenta: em uma conversa jocosa e masculina, ou em reação a ataques de mulheres.

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Foi o que também fez na última quinta-feira: apelou a suas origens na ex-Iugoslávia, seu esforço para vencer nos EUA e o que significou para ela transformar-se em cidadã americana. Em seu comício, lembrou exatamente uma famosa campanha de Ronald Reagan dos anos 1980, que falava de um amanhecer em uma América livre e próspera, e que Melania afirmou ter visto quando criança. É uma visão contraposta ao discurso trumpista de uma América em decadência.

Melania e Donald Trump, que têm um filho, Barron, conheceram-se em 1998 em uma festa em uma boate de Nova York organizada pelo dono de uma agência de modelos. Casaram-se em 2005, em uma dessas festas de grande repercussão da qual participaram exatamente os Clinton, hoje inimigos políticos.

Alguns meses depois do enlace, o terceiro casamento de Trump, houve a famosa conversa em que o empresário se gabava de apalpar as mulheres sem seu consentimento. "O homem que conheço não é assim", afirmou Melania. Se um detalhe permite pensar que o episódio a humilhou é que a ex-modelo sentiu a necessidade de reclamar: "Não sintam pena de mim".

Para Ruth, uma matemática de 40 anos originária da Guatemala, Melania ajuda Trump, filho de milionário, por suas raízes: "Podemos nos identificar com ela por sua origem humilde, alguém que trabalhou muito duro para ter sucesso, queria ser modelo e conseguiu, agora também tem sua própria firma de joias", disse alguns minutos antes do evento.

Como primeira-dama, disse Melania Trump, sua preocupação central será o futuro e a segurança das crianças.

Será, em todo caso, uma primeira-dama muito diferente da que foi a hoje candidata democrata, Hillary Clinton. A atual rival de seu marido é uma mulher com a política no DNA, que provocou polêmicas desde o primeiro dia pelo papel ultra-ativo que assumiu durante a administração de Bill Clinton. Também se diferencia da proximidade que exala Michelle Obama, que goza de uma enorme popularidade e se transformou em um ativo valioso na campanha de Hillary.

Melania é mais distante, ou mais tímida. E manteve um perfil discreto na campanha. A antítese disso é Bill Clinton, que se envolveu na campanha de sua mulher. Também se pode dar como exemplo Barbara Bush, que esteve viajando 27 dias em um único mês e no ano em que George pai era o candidato a vice de Reagan.

Se Hillary Clinton vencer, o papel de cônjuge presidencial também entrará em uma fase desconhecida, já que pela primeira vez o cargo irá para um homem. O primeiro-cavalheiro seria Bill Clinton, um ex-presidente.

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Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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