Esforço nacional da Nigéria contra o ebola inspira outros países atingidos pelo vírus
Jean-Philippe Rémy
Em Johanesburgo
Na segunda-feira (20), esse pequeno triunfo se tornou oficial: depois do Senegal, a Organização Mundial da Saúde declarou a Nigéria "Ebola free", ou seja, que nenhum caso surgiu no período de incubação máxima do vírus e que o país, atingido em julho, conseguiu se livrar da febre hemorrágica. No total, o vírus infectou 20 pessoas, sendo oito de forma fatal.
Assim como nos Estados Unidos, um único doente havia introduzido o vírus em território nacional. Patrick Sawyer chegou a Lagos no dia 20 de julho vindo da Libéria, após um voo com escala, esperando que salvassem sua vida na Nigéria. Ele já estava tão afetado pela doença que literalmente desabou no aeroporto de Lagos, uma megalópole de quase 20 milhões de habitantes, com muitas favelas, onde o contágio poderia ter virado um desastre.
Mas Patrick Sawyer foi identificado já no aeroporto. Foi a primeira sorte da Nigéria. Ele logo foi transferido para o First Consultant Medical Centre, onde contaminou 11 pessoas. De lá, a epidemia poderia ter se espalhado, mas medidas foram tomadas em níveis nacional e local e entre organizações para conter o encadeamento do contágio. Um verdadeiro esforço nacional, que agora é fonte de inspiração para outros países.
"Cem pessoas equipadas emergencialmente"
Para enfrentar o ebola, o tempo é vital. Na Nigéria, uma organização rigorosa foi implementada de forma emergencial para identificar todos aqueles que poderiam ter sido expostos a uma possível contaminação. Oitocentas pessoas no total foram colocadas sob monitoramento. Essa rede de casos em potencial foi identificada graças a investigações, mas também pelo monitoramento de chamadas telefônicas, autorizado por decreto presidencial. Além disso, foi criado um grupo de "contact tracers", que são agentes encarregados de estabelecer os contatos das pessoas que possam ter sido expostas a uma contaminação e depois verificar se elas desenvolvem a doença.
Segundo os Centros de Controle e de Prevenção de Doenças de Atlanta, 18.500 visitas foram realizadas por essas equipes constituídas de voluntários ou de agentes do setor médico. Nada disso teria sido possível sem a cooperação entre as autoridades federais e as do Estado de Lagos, o apoio da Fundação Gates a um centro médico bem equipado e enorme boa vontade. Mas os contact tracers também receberam uma mãozinha: o aplicativo eHealth, desenvolvido pela filial local da empresa americana eHealth and Information Systems. Graças a esse aplicativo de saúde pública, parte deles foi equipada (gratuitamente) com um telefone ou um tablet para atualizar os resultados de suas investigações diariamente.
No dia 20 de agosto, Adam Thompson, o diretor local da eHealth, conseguiu distribuir os primeiros aparelhos para as equipes dos inspetores de saúde. "Cem pessoas foram equipadas de forma emergencial", ele lembra. O aplicativo permite registrar os casos e depois transmitir os dados coletados para o Ministério da Saúde. Na região de Lagos, os financiadores (privados) do eHealth, que funciona como uma ONG, bancaram a operação.
No Estado de Rivers (zona de produção petroleira), onde uma pessoa vinda de Lagos havia aberto um novo foco de contaminação, o governo apoiou financeiramente o projeto para conter a epidemia o mais rápido possível e evitar colocar em risco, ao mesmo tempo, a indústria petrolífera.
"Atualmente, estamos implementando o sistema na Libéria para uma experiência-piloto", explica Adam Thompson. O aplicativo em breve estará disponível para download livre e gratuito.
Aprimorar o mapeamento detalhado da doença
Um sistema parecido, o mHealth, será implementado na Libéria, em Serra Leoa, na Guiné e depois em outros países da região, de maneira preventiva. Ele foi desenvolvido pela empresa Ericsson. Com a ajuda da Fundação Idea, de Adam Hashem (que é também um dos diretores da Ericsson na África Ocidental), e do Earth Institute, de Jeffrey Sachs, surgiu a ideia de comprar telefones na China, instalar o mHealth neles, fazer parcerias com as empresas de telefonia celular para permitir sua comunicação e equipar atores locais dos serviços de saúde com eles. Um primeiro lote de 1.400 telefones está prestes a ser distribuído.
Com o tempo, deverá haver 40 mil deles na região. A ideia é contar com esses agentes, integrados em sua própria comunidade, para transmitir informações sobre os casos de contágio e aprimorar o mapeamento detalhado da doença, ao mesmo tempo em que se mantém um canal de comunicação. Comparado com o sistema implementado na Nigéria, a fórmula desenvolvida com o eHealth ataca em uma maior escala e comporta mais incógnitas nos países atingidos em cheio pela epidemia, onde "assinalar" um caso às vezes é alvo de resistência.
De forma alguma o mHealth pretende conter a propagação do ebola. "É somente quando o número de leitos de hospital disponíveis ultrapassar o número de doentes que poderemos dizer que o ebola está sob controle", declarou o ministro das Relações Exteriores de Serra Leoa perante a última Assembleia Geral das Nações Unidas, dizendo ainda: "Esse combate é o combate de todos. Precisamos provar que a humanidade pode ser uma fonte de igualdade diante desse desafio lançado para nossa existência coletiva."
Tradução: UOL