Diretor de Agência Espacial Europeia não desiste do sonho de pisar na Lua

Dominique Gallois

  • Daniel Roland/AFP

    Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia)

    Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia)

Durante meses, o Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia), respondeu continuamente às perguntas sobre o sucessor de Ariane 5 em 2020, que seria uma resposta ao americano Space X, que há um ano desestruturou o mercado ao lançar voos de baixo custo. Embora as linhas gerais desse projeto de 4 bilhões de euros tenham sido aprovadas, ainda restam ajustes a serem efetuados no Ariane 6.

"A decisão não cabe a mim, e sim aos ministros, ainda mais porque sou o único da mesa a não colocar um único euro no projeto", diz cautelosamente o diretor-geral da ESA. "Estou preparando o encontro, isso toma muito tempo e requer convicção, e é muito difícil conseguir com que vinte países decidam no mesmo dia sobre pontos muito importantes."

O ritmo dos questionamentos sobre o novo projeto se acelerou durante o verão. No lugar de férias, noites em branco marcadas por comida congelada, pizza e coca-cola. "Quanto mais conflituosas são as posições, mais ele gosta de encontrar soluções. É quase um jogo intelectual", diz François Auque, diretor-geral da Airbus Space Systems, "aliás, vou propor que depois de sua aposentadoria ele vire secretário-geral da ONU e encontre uma solução para o conflito entre Israel e Palestina."

Além desse talento de diplomata, Jean-Yves Le Gall, presidente do CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais), ainda tem "conhecimentos técnicos que fazem dele um interlocutor respeitado pois ele sabe do que está falando." Apesar de não bater de frente com as pessoas e nunca ficar com raiva, "ele entra em silêncios que dizem muito", ele diz. O inconveniente desse método é a lentidão dos processos. "É verdade que é mais devagar, mas é o preço a se pagar para construir a Europa", reconhece Le Gall. "Quando se sabe que a escolha é ou uma decisão tomada por vinte Estados-membros ou nada, essa crítica não se sustenta mais."

Frequentador assíduo dessas conferências ministeriais, a décima-primeira desde que ele entrou na ESA e a quarta na condição de diretor-geral, Dordain continua sendo "supersticioso". O próximo encontro não foge à regra, ainda que seja o último sob sua coordenação, uma vez que seu mandato termina em julho de 2015. Para espantar o azar, ele mantém na beirada de sua janela vasinhos de trevos de quatro folhas. "Eu compro outro cada vez que morre um", ele explica enquanto anda em seu escritório em Paris, na sede da ESA. "É um resumo da minha vida", explica esse homem de 68 anos, que cresceu em Hordain (Norte) e que, ao longo dos doze anos à frente da ESA, acumulou maquetes e troféus espaciais. Todo o espaço está ocupado, até sua mesa de trabalho, onde se destaca um modelo em miniatura da sonda Rosetta.

Apaixonado por paisagens de neve, ele traz pinturas do mundo inteiro que recobrem parte de suas paredes. Quanto aos livros, ele "os compra o tempo todo e sabe que nunca terá tempo de ler todos". Seus dois temas prediletos são o espaço e a história, mais especificamente a Revolução Francesa. Mas o Norte também está presente, com textos sobre as tradições regionais e os passeios verdes. Torcedor do clube LOSC, de Lille, Jean-Jacques Dordain não perde por nada no mundo um número do jornal "L'Équipe".

Acostumado a circular por ambientes de alta tecnologia, ele se recusa a usar o computador. "Não uso, tenho cadernos", ele reconhece mostrando a série de cadernos atrás de sua mesa de trabalho. "Antes eu usava os verdes, que eram os cadernos oficiais da NASA, mas eles não fazem mais, e os vermelhos vêm da Suécia", ele diz abrindo um deles, mostrando os escritos de letra miúda. "Não gosto nem de e-mails, nem de telefone, prefiro o contato direto. Quando tenho algo a falar, vou até os escritórios das pessoas."

Mas ele se rendeu ao SMS desde que a ESA lhe deu um iPhone. "Não tinha um modelo básico", ele lamenta. Essa preferência pelo papel e caneta lhe traz problemas quando ele passa pelos detectores nos aeroportos. "Às vezes sou parado pelos fiscais. Eles acham que estou de má vontade quando não tiro meu computador."

Nos pés de Neil Armstrong

Com seus colaboradores, ele usa a lousa. "Sai mais rápido escrever as ideias de cada um, e isso provavelmente vem de meu lado professor", explica ele, que adora lecionar. Sua preferência é pelo ensino dos fracassos espaciais. "É mais importante que analisar um sucesso." A ideia é levar à reflexão sobre aquilo que provocou o fracasso, e não sobre sua interpretação. "O reflexo do cérebro não é encontrar, mas sim procurar uma explicação, recusa-se o fato e procura-se interpretá-lo."

Dordain sabe tudo sobre todas as missões espaciais. "É normal, todas as pessoas de minha geração foram impregnadas pela conquista espacial e minha formação escolar foi marcada por esses grandes momentos". Como o lançamento do Sputnik em outubro de 1957, quando, aos onze anos, ele entrou no liceu de Douai, culminando com os primeiros passos do homem na Lua no dia 20 de julho de 1969, dia em que ele obteve seu diploma de engenheiro na Escola Central de Paris. E, durante seu curso preparatório no liceu Faidherbe de Lille, o estudante passava as madrugadas acompanhando a missão Gemini, devido ao fuso horário com os Estados Unidos. O ápice foi o encontro no Salon de Bourget [feira de aeronáutica] com seu ídolo Neil Armstrong, que ele abordou da seguinte maneira: "O que eu quero não é apertar sua mão, mas sim pisar nos seus pés." Surpreso, o americano começou a gargalhar e lhe perguntou o motivo. "Assim, eu terei pisado nos pés daquele que foi o primeiro a pisar na Lua."

Aos 31 anos de idade, em 1977, o jovem engenheiro estava prestes a realizar seu sonho, que era se tornar astronauta. Enquanto trabalhava na Onera (Agência Nacional de Estudos de Pesquisas Aeroespaciais), ele esteve entre os cinco candidatos selecionados pelo CNES para embarcar na nave espacial americana três anos depois. Em vão. Uma outra tentativa em 1979 de voar com os russos também fracassou. "Isso permitiu que eu descobrisse as acrobacias aéreas", ele se consola.

Trinta e cinco anos depois, ele ainda lamenta. "Cada vez que acompanho os astronautas da ESA até um foguete em Baikonur --no Cazaquistão, onde há um centro espacial russo-- , à medida em que nos aproximamos do lançador, eu proponho trocar de roupa com eles." Sem sucesso. "Talvez eles não queiram ser diretores da agência." Mas ele gosta dessa função, cujo mandato ele teve renovado por duas vezes, algo incomum na ESA, onde a regra é alternar entre nacionalidades. No entanto, em 2002 ele passou por um primeiro teste brutal. No dia 12 de dezembro, poucas horas após sua nomeação, o primeiro voo do Ariane 5 em sua nova versão falhou.

"Eu havia ligado para ele à tarde para dar os parabéns, e entrei em contato com ele à noite para falar sobre a falha", lembra Jean-Yves Le Gall, então presidente da Arianespace. "Eu o vi tomando decisões depois. Foi ele que salvou o programa Ariane, pois na época os Estados Unidos não queriam mais pagar", conta François Auque. "Ele precisou convencer os países um a um." Dois meses mais tarde, em fevereiro de 2013, houve o acidente trágico da nave americana Columbia, que teve como uma das consequências o atraso na montagem da Estação Espacial Internacional. Foi também naquele momento que a ESA decidiu adiar o lançamento da Rosetta e então encontrar outro cometa.

Doze anos depois, o cenário mudou, tendo como auge a aterrissagem do Philae. Embora ele admire a façanha, ele expressa seus temores. "O que mais lamento é o fato de que todo sucesso parece muito fácil. As pessoas se esquecem de que ele é o resultado de um trabalho fabuloso e complexo", relativiza o diretor da ESA. Sempre apaixonado pelo espaço, ele partirá para a Califórnia assim que terminar a reunião de Luxemburgo. A NASA realizará no dia 4 de dezembro o voo de teste não-tripulado da Orion, uma cápsula que deverá levar astronautas para a Lua e Marte. Ele provavelmente pensará em se candidatar.

Tradutor: UOL

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