Egocêntricos deixam de ser os mais ativos no Facebook, mostra estudo

David Larousserie

Imaginava-se que ele gostava de falar de si mesmo em seu perfil do Facebook, postando fotos, compartilhando milhares de links, aumentando seu número de amigos, dando "curtir" a torto e a direito. No entanto, a figura do internauta egocêntrico morreu.

Sociólogos e especialistas em informática revelam que, de fato, esse não é o uso dominante da rede social hoje. O Facebook serve mais para conversas, para escrever no mural de seus amigos, e em observação passiva, para permanecer em contato com sua rede, do que para uma atividade intensa.

Outra descoberta foi que os links compartilhados por pessoas em cargos gerenciais e por profissionais liberais diferem muito daqueles compartilhados por trabalhadores em posições subordinadas. Os primeiros postam muito mais links de mídia estrangeira, ao passo que os segundos preferem a grande mídia. E os primeiros postam mais sites "culturais", enquanto os segundos preferem sites de "lazer". Portanto o Facebook revela muito de nossas preferências.

Analisados 12.700 perfis

Essas descobertas são só as primeiras conclusões, provisórias, que acabam de ser reveladas pelos integrantes do projeto Algopol, lançado em dezembro de 2013. Esse projeto reúne pesquisadores do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), da empresa Linkfluence e da divisão de pesquisas e desenvolvimento da operadora Orange, Orange Labs, entre outros, com o financiamento da Agência Nacional de Pesquisa.

O Algopol se baseia principalmente em um aplicativo epônimo que deve ser instalado voluntariamente no perfil do Facebook, dando acesso aos pesquisadores às centenas de dados pessoais dos usuários (lista de amigos, conteúdo da página, atividades diversas como likes, compartilhamento de links etc.). Os 12.700 internautas que responderam à chamada dos pesquisadores puderam, em troca, visualizar pela primeira vez a geografia de sua rede social, vendo quem são seus amigos próximos, com quem eles mais interagem etc.

Após a anonimização dos dados, sob controle da CNIL (Comissão Nacional da Informática e das Liberdades), os pesquisadores estudaram pela primeira vez a atividade real dos internautas nessa rede.

Foram determinados três tipos de utilização e seis perfis, resumidos desta forma pela equipe: publicação em sua própria página, publicação na página dos outros, observação sem publicar.

Na primeira categoria se encontra o arquétipo caricatural e afinal minoritário, que a equipe classifica de "egocentrado" ou de "egovisível" e que é o mais ativo em sua página pessoal. Eles representam 15% da amostra.

A segunda categoria, mais recente que a primeira, reúne cerca de 30% dos participantes e diz respeito às pessoas que escrevem mais na página dos outros do que na própria. "O Facebook é para elas uma forma de chat", resume Dominique Cardon, socióloga da Orange Labs, que, com Irène Bastard, participa dessa pesquisa.

Por fim, o grupo dominante é constituído de espectadores e compartilhadores, como são chamados pelos pesquisadores. Eles quase não publicam em sua própria página, mas fazem questão de manter um contato com sua rede social. Eles também compartilham alguns links. "É uma passividade ativa e é um uso muitas vezes esquecido quando se fala em Facebook", descreve Dominique Cardon.

Mapeamento dos gostos de cada um

Provavelmente ainda mais interessante é o fato de que o estudo também apresenta, pela primeira vez, um mapeamento dos gostos de cada um, através da análise dos links compartilhados. Nos gráficos estão posicionados os 600 nomes de domínios compartilhados com mais frequência pelos perfis voluntários. A posição de dois pontos no gráfico reflete o número de pessoas em comum que compartilharam esses dois domínios. Dessa forma, o site do "Le Monde" e o Rue89 estão próximos porque as pessoas que citaram um também citaram o outro. Em compensação, o site do "Le Monde" está afastado do JeuxActu.com, pois aqueles que citam o primeiro jamais citam o segundo. Mais especificamente, um algoritmo leva em conta esses 600 domínios e quase 270 mil compartilhamentos para distribuir todos esses sites, uns em relação aos outros.

A tabela obtida mostra "regiões", agregados de nomes de domínio bem identificáveis através de diferentes cores.

À margem e em vermelho, mídias estrangeiras de referência (como "New York Times, "Guardian"…) e mídias francófonas (Canadá, Bélgica, Magreb).

À direita, em azul, uma esfera de "lazer" (YouTube, Deezer, Dailymotion, Eurosport…), e em verde é possível distinguir um conjunto relativo à "cultura" ("Les Inrocks"…) próximo de um outro, em amarelo, classificado mais especialmente como "cultura geek" (Journal du Net, InternetActu…).

Além disso, duas regiões midiáticas se distinguem: uma "de esquerda", em verde fluorescente, que reúne o Rue89, NouvelObs.com, Libération.fr e também o LeMonde.fr e o Mediapart.fr, em que se encontram ainda mídias alternativas (Bastamag) e o site de Jean Luc Mélenchon [político francês de esquerda].

Outra esfera, em laranja, apresenta dois polos: de um lado, publicações financeiras e/ou conservadoras ("Les Échos", "Le Figaro", "Atlantico"...) e sites de notícias mais mainstream (Europe 1, RTL, RMC...). Destaca-se a presença singular do site de notícias satíricas LeGorafi.fr entre "lazer" e "mídia".

Jovens ignoram sites de notícias tradicionais

"Até onde sabemos, esse é o primeiro mapa da internet obtido a partir dos usos de uma rede social. Antes, esse tipo de mapeamento era construído sobre os hyperlinks presentes nesses sites", ressalta Dominique Cardon.

Uma vez obtido esse mapa, é possível juntar a ele as tipologias notadas ou as categorias socioprofissionais, o que dá nuvens roxas mais ou menos intensas nas regiões do mapa muito "compartilhadas".

Os profissionais liberais e intelectuais compartilham muitos links de notícias provenientes de mídias de referência estrangeiras, mas poucos vindos da esfera da grande mídia, ao contrário de assalariados em cargos subordinados. Estes últimos também apreciam sites de mobilização e de abaixo-assinados como Change.org e de lazer (esportes, vídeos etc.).

Os "egovisíveis" certamente compartilham a torto e a direito, mas afinal pouco na área de lazer. Os jovens que publicam na página dos outros ignoram os sites de notícias tradicionais, mas preferem os sites de "cultura" e de "lazer". "Para eles, o Facebook não é um hub de informações", constata Dominique Cardon.

O estudo ainda é preliminar, e os autores sabem bem que sua amostragem é um tanto distorcida (ainda que, graças a 800 pessoas representativas tiradas de um grupo de amostra do instituto de pesquisas CSA, eles possam corrigir certas falhas). Eles sabem, acima de tudo, que daqui a 15 dias o Facebook vai mudar seu funcionamento, tornando inoperante o aplicativo Algopol. "Adoraríamos que novos voluntários participassem dessa pesquisa!", diz Dominique Cardon. Faltam mulheres, pessoas com mais de 30 anos de idade e assalariados em cargos subordinados.

Tradução: UOL

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