Polêmico e visionário, filho de Murdoch segue os passos do pai na chefia da Fox

Éric Albert

  • Dan Steinberg/Invision/AP

    James Murdoch (à dir.) ao lado do pai Rupert e do irmão Lachlan em março de 2014

    James Murdoch (à dir.) ao lado do pai Rupert e do irmão Lachlan em março de 2014

A extraordinária saga familiar do clã Murdoch entra em seu último capítulo. No dia 1º de julho, o velho patriarca Rupert Murdoch, 84, viu seu sonho se realizar: seus dois filhos adultos assumiram suas novas funções, prontos para sucedê-lo no comando de seu império midiático mundial.

Não que ele tenha a intenção de passar o bastão. O magnata da imprensa e da televisão continua ativo e mantém o posto de vice-presidente executivo. Mas agora a sucessão está engatilhada, ou quase. James Murdoch, o filho caçula de seu segundo casamento, saiu como o grande vencedor. Aos 42 anos de idade, o abrasivo e impaciente filho do magnata da mídia se torna o diretor-geral da 21st Century Fox, a empresa que detém as atividades do grupo na televisão e no cinema, os canais Fox News e a National Geographic, os estúdios de cinema 20th Century Fox, uma vasta participação nos canais por satélite da Sky.

Mas como o chefe da família adora alimentar dúvidas e rivalidades, ele também deu um papel-chave a Lachlan, que é 15 meses mais velho que James.

Lachlan então passa a ser vice-presidente executivo do grupo, mesmo título que o de seu pai, e na teoria com os mesmos poderes. Ele também mantém seu cargo de vice-presidente na outra empresa do grupo, a News Corp, que reúne os jornais – "Wall Street Journal", "The Times", "The Sun", a Harper Collins... - , e que não interessa a James.

Mas que ninguém se engane. Por trás das declarações públicas de união, James está assumindo o poder. Ele mora em Nova York, sede da 21st Century Fox, enquanto Lachlan está em Los Angeles, onde estão somente os estúdios de cinema. A gestão do dia a dia caberá ao primeiro. Mas, com seu pai no escritório ao lado e seu irmão no conselho administrativo, ele não terá uma liberdade completa de trabalho, longe disso.

"As famílias aristocratas britânicas têm um lema: é preciso ter um 'heir and a spare' (um herdeiro e um estepe). É o que Rupert Murdoch está fazendo", diz Claire Enders, diretora da Enders Analysis, influente observadora britânica da mídia, que conviveu com o clã Murdoch. James confirmou à sua maneira, no dia 25 de junho, durante uma conferência em Cannes: "Nós todos somos muito comprometidos com o sucesso uns dos outros."

Ele teve uma recuperação impressionante. Em fevereiro de 2012, sua reputação havia sido destruída pelo escândalo das escutas do tabloide britânico "News of the World". James se tornou persona non grata entre a elite do Reino Unido e deixou Londres para se refugiar em Nova York, sede do grupo. O jovem ambicioso, que chegara a Londres uma década antes, estava acabado.

Ele caiu por causa dos jornais, embora só se interesse por novas tecnologias e televisão. Depois de abandonar seus estudos em Harvard e de uma tentativa de falsa rebeldia ao criar um selo de hip hop – logo comprado por seu pai - , ele fez carreira na televisão. Aos 27 anos estreou na Star Television, o braço asiático do grupo, e em 2003, aos 30 anos de idade, assumiu o comando da Sky, apesar da oposição de acionistas que se irritaram de ver um garoto dirigindo o maior grupo de transmissão por satélite da Europa.

"Visionário"

Mas ele surpreendeu. "Ele foi visionário, esteve 15 anos à frente de grupos como o Canal+", diz Enders. Ele entendeu que televisão, telefonia e internet iriam convergir, e investiu em telecomunicações para diversificar a Sky, que se tornou a vaca leiteira do grupo. Coroado com esse sucesso, em 2007 ele assumiu a direção de todos os negócios do império familiar fora dos Estados Unidos, inclusive os jornais britânicos.

Já Lachlan saiu bruscamente do grupo. Pressionado por seu pai, frágil, ele foi fazer negócios na Austrália e criar seus filhos pequenos. "Ele fez de tudo para ter uma vida normal", conta Justin Jameson, diretor da Venture Consulting, uma empresa especializada em mídia na Austrália. Ele e sua esposa Sarah eram como os outros pais na escola, ajudando na cantina... ele era visto como um cara simpático." Enquanto seu irmão levava essa vida de família, James aparecia como o herdeiro óbvio.

James começava a irritar. Seco e ríspido, ele vestia o papel de barão da mídia, fazendo terrorismo e manipulando a empresa. Ele recebia as pessoas em seu escritório de pé, atrás de um púlpito, para encurtar as reuniões. Ouvir não era seu forte, e, educado nos Estados Unidos, ele tinha horror à pequena elite britânica. Ele queria resultados, e rápido.

"Ele cresceu em um mundo onde seu pai podia pegar o telefone e ligar para qualquer primeiro-ministro", diz Enders. Ele adotou a mesma atitude dominante, fazendo vários ataques contra seus rivais e em especial a detestada BBC, e fechava alianças com líderes políticos, desde Tony Blair até David Cameron.

Até que essa ascensão desenfreada foi cortada pelo escândalo da "News of the World", que envolvia um sistema de escutas telefônicas em grande escala, feito pelos jornalistas do tabloide. James se defendeu dizendo que de fato houve escutas e seu grupo tentou abafar o escândalo, mas que ele não estava a par. Um comitê parlamentar britânico concluiu que ele demonstrou uma "cegueira voluntária".

Ele foi para Nova York e deixou baixar a poeira. A oportunidade para virar a página veio em julho de 2014, quando, para surpresa geral, Rebekah Brooks ganhou o processo. Acusada de ter encomendado as escutas, a ex-editora do "News of the World", que era a verdadeira mandante dos jornais britânicos do grupo, foi absolvida. A defesa de James, que consistia em alegar inocência, se tornou mais sólida. A Justiça americana ainda abandonou a ideia de processar o grupo por corrupção no exterior. Por fim, a vitória dos conservadores nas eleições legislativas britânicas de maio garantiu à família Murdoch a presença de aliados no poder em Londres.

Então o caminho ficou livre para o retorno oficial do filho pródigo. Durante o verão de 2014, ele conduziu a oferta de compra da Time Warner, que teria resultado na criação de uma gigante da TV a cabo nos Estados Unidos. O fracasso foi rápido e doloroso, mas deu uma ideia da ambição feroz do filho caçula.

Mas James não poderá fazer o que quiser. "Em geral espera-se que Rupert Murdoch continue no comando enquanto estiver na área", observam os analistas da Zacks Equity Research. Aos 84 anos de idade, o velho leão continua atrevido e não deu sua última palavra.

Tradutor: UOL

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