Dilma Rousseff parece desorientada e impotente diante do agravamento da crise

Claire Gatinois

  • Ueslei Marcelino/Reuters

Pressionada, a presidente do Brasil teve de abrir mão de uma medida que pretendia reduzir o déficit

Ela diz que não se passa um dia sem que ela pense no desemprego que só tem se agravado e na inflação galopante. Mas o que fazer? Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, parece impotente diante da crise econômica e orçamentária que seu país vem atravessando. Abandonada por seus antigos aliados políticos, rejeitada pelo meio empresarial e vaiada nas ruas pelos conservadores e por eleitores decepcionados com seu partido, o PT, Rousseff tem navegado sem norte.

Prova disso foi o fato de ela ter voltado atrás, um dia depois da entrada "oficial" do Brasil em recessão: o produto interno bruto (PIB) caiu 1,9% no segundo trimestre, depois de ter cedido 0,7% três meses antes, segundo dados publicados na sexta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), algo que não acontecia há seis anos.

A ex-protegida de Lula de fato teve de desistir de uma de suas propostas, que visava reduzir o déficit sem precisar cortar gastos sociais. A ideia seria ressuscitar uma taxa criada nos anos 1990 e abandonada em 2007 [a CPMF], que consistia em uma dedução de 0,38% dos débitos bancários. Esse "imposto do cheque", como às vezes é chamado, tinha a vantagem de ser simples, mas, diante da revolta de empresários e ciente da dificuldade que teria em conseguir a aprovação pelo Congresso, que se encontra mais dividido do que nunca, Rousseff voltou atrás três dias depois de lançar a ideia.

Impasse

"O governo está desnorteado, sem estratégia, não sabe o que fazer", comentou Carlos Alberto de Mello, professor de ciências políticas no instituto de estudos superiores Insper, em São Paulo. "O governo tem sérios problemas orçamentários. Se ele não pode aumentar os impostos, ele terá de reduzir os gastos", ressalta.

Essa desistência ilustra o impasse no qual o governo se encontra enquanto o país é levado pelas turbulências vindas da China, sua principal parceira comercial. A maioria dos economistas prevê uma queda do PIB de mais de 2% este ano, e não imaginam um cenário melhor para antes de 2017. O índice de desemprego atingiu 7,5% da população ativa em julho, contra 4,9% um ano antes, enquanto a inflação ultrapassa os 9%. Esse clima acaba alimentando a insatisfação popular e a angústia dos empresários.

As dificuldades de Pequim não são as únicas responsáveis pelo fracasso da economia brasileira. Segundo especialistas, o país teria se deixado levar pelos anos de alta do preço de suas matérias-primas (soja, petróleo, minério de ferro) e não aproveitou a fortuna para investir em infraestrutura e na indústria.

"Nos anos 1990, com grande esforço, o Brasil conseguiu reforçar sua indústria e se afastar da dependência de commodities. Mas quando os preços das commodities explodiram, na última década, o governo esqueceu essa importante lição", comenta o economista Michael Pettis, entrevistado pela "Folha de S.Paulo" no domingo (30). E isso seria grave? "Muito grave", segundo ele, "uma vez que os preços das commodities como o minério de ferro vão continuar caindo, pelo menos mais 30% a 50%."

"Adoção do rigor"

Dilma Rousseff, que para completar ainda está atordoada pelo escândalo de corrupção que vem manchando seu partido, parece incapaz de controlar a situação. Para impedir a crise, Brasília não pode se lançar em uma política de estímulo à economia porque a dívida pública – 66% do PIB, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) - , o déficit, a crise e a instabilidade política têm assustado as agências de classificação de risco.

Em meados de agosto, a americana Moody's abaixou para Baa3 a nota da dívida soberana do Brasil, poucas semanas depois que a Standard & Poor's reviu para baixo sua perspectiva a longo prazo da nota, atualmente em "BBB", a última antes da chamada categoria "especulativa" ou "junk bond".

Para evitar que a dívida soberana brasileira caia nessa categoria infame, o governo sabe que precisará fazer esforços. Mas a adoção do "rigor" com a chegada do ministro da Economia Joaquim Levy, em 2015, foi considerada como uma traição pelo eleitorado do PT, e nem por isso agradou ao meio empresarial. "Dilma tentou 'fazer um pacto' com o capitalismo como Lula já havia feito, mas as condições não são mais as mesmas. A crise econômica mudou a situação", ressalta Daniel Pereira Andrade, professor de sociologia na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

O único consolo para Rousseff é o fato de que os empresários, ainda que descontentes, não estão pedindo pelo "impeachment" exigido por seus adversários mais virulentos. O presidente do banco Itaú, Roberto Setúbal, uma voz influente no meio econômico brasileiro, chegou a defender a presidente no final de agosto, ao afirmar que por ora ele não via nenhum motivo para tirar o poder das mãos de Dilma Rousseff, ressaltando que tal ação levaria         a uma instabilidade nefasta para a democracia." Uma instabilidade que também seria inoportuna para a economia do país.

Tradução: UOL

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