Cartunista 'mata' personagens em HQ e faz alerta sobre drama de refugiados

Frédéric Potet

  • Reprodução/Zep

    Cenas de história em quadrinhos publicada pelo cartunista Zep no site do "Le Monde"

    Cenas de história em quadrinhos publicada pelo cartunista Zep no site do "Le Monde"

Cartunista Zep publica em seu blog uma comovente página para abalar "nossa inacreditável capacidade de cinismo"

Não é todo dia que um autor de histórias em quadrinhos, ou qualquer autor que seja, decide matar simbolicamente parte de seus personagens para os fins de uma história. Mas o cartunista Zep fez isso.

Com o intuito de denunciar o drama dos refugiados na Europa, o desenhista e roteirista suíço publicou na quarta-feira (9) em seu blog (hospedado pelo site do "Le Monde") uma longa e comovente página onde seu herói Titeuf se encontra mergulhado em uma situação de guerra e posteriormente de fuga.

Em dissonância total com o tom humorístico e inofensivo da série, a violência das cenas representadas marcou os internautas, que compartilharam em massa essa página nas redes sociais.

Tudo começou com um e-mail, enviado na segunda à noite pela redação do "Le Monde" para vários de seus desenhistas-blogueiros, pedindo-lhes que pensassem em uma interpretação das notícias ligadas à chegada em massa de migrantes à Europa.

"Comecei os primeiros quadrinhos com desenho automático. O resto da história veio de uma só vez", conta o vencedor do Grande Prêmio de Angoulême de 2004, que diz ter desenhado essa sequência "tremendo" e com "um nó na garganta".

A morte --simbólica, que fique claro-- de seus personagens provavelmente parecerá insuportável para seus leitores mais jovens. Já no terceiro quadro, Titeuf vê seu pai ser soterrado por escombros após um bombardeio. Seu colega Manu é abatido diante de seus olhos pouco depois, por um 'sniper' (atirador). Sua professora é morta instantaneamente depois que o ônibus escolar passa sobre uma mina. Igualmente insuportável é o fim da história, onde Titeuf tenta passar por uma fronteira intransponível e não consegue escapar de um emaranhado de arame farpado.

"Essas cenas não foram fáceis de desenhar, mas acho que isso era necessário. Pensei que a morte de personagens familiares tocaria mais do que as imagens de refugiados que passam em 'loop' [sem parar] na TV e que as pessoas não querem ver em razão de nossa inacreditável capacidade de cinismo."

Inúmeras mensagens

Sendo assim, Zep não hesitou em abalar a campanha de promoção para o lançamento do volume 14 de seu Titeuf ("Bienvenue en adolescence!" Ed. Glénat).

Entre as inúmeras mensagens recebidas em seu blog, muitas vieram de professores pedindo autorização para usar essa história nas salas de aula para falar sobre esse drama, que eles têm encontrado dificuldades para abordar com seus alunos.

"É claro que podem. Essa página está aí para circular", confirma Zep, que ainda se diz disposto a oferecê-la para uma ONG que trabalha na Síria. "Se ela conseguir desencadear ações, como aconteceu com a foto do menininho na praia, tanto melhor. Essas pessoas em fuga, os refugiados, não são criminosos. Elas não estão vindo fazer turismo na Europa. Estão pedindo socorro."

Tradução: UOL
 

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